quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
Bee The First!
Não é todos os dias que podemos dizer que o futuro chegou à nossa escola. Hoje foi um desses dias. Na sequência do prémio Inclusão e Literacia Digital conseguimos finalmente verba para um investimento já há algum tempo pensado. O projecto original estava desenhado para impressoas RepRap, mas o valor financeiro do prémio permitiu voar mais alto e arriscar a aquisição de uma BeeTheFirst. Se perdemos o lado do it yourself ganhamos tempo, uma vez que o processo de arranque de trabalho com a bee será certamente mais rápido do que com uma Prusa que requer montagem, calibração, soldadura e configuração da placa arduino. E ainda nos aquece o coração ter conseguido apostar em tecnologia portuguesa. Tecnicamente as bee partem das RepRap, mas são desenvolvidas e comercializadas por uma empresa portuguesa que teve a coragem de apostar num mercado prematuro mas potencialmente explosivo, que tem recebido distinções em fóruns internacionais dedicados à impressão 3D e que mete muito do que se faz em Portugal no seu produto. Como a espátula para ajudar a retirar as peças impressas, fabricada em Leiria pela Icel. É um pormenor delicioso.
A impressão 3D é uma resposta à espera de perguntas. Partilham-se cada vez mais novas e intrigantes utilizações desta tecnologia, Ideias, experiências e especulações não faltam. No nosso caso, será que é uma tecnologia com potencial pedagógico no ensino básico? E que tipo de projectos poderão ser desenvolvidos que sejam mais do que o imprimir objectos pré-feitos, possibilitando envolver os alunos nos processos de criação, concepção e materialização? São ideias que vamos começar a explorar em breve. O primeiro passo está dado. A seguir teremos o obrigatório hello world. Depois disso, é explorar as possibilidades que se colocarem.
Hoje sou um professor particularmente feliz. Esta impressora possibilita mais um passo na investigação sobre o estímulo ao uso criativo de tecnologias digitais em contextos de projectos práticos por crianças e jovens. Vai permitir materializar algum do trabalho digital que já é feito. Possibilita explorar vertentes de projecto interdisciplinar (já estão dois alinhados) e até integrar a comunidade envolvente, se bem que esta ambição seja mais a médio prazo. Primeiro, há que dar os primeiros passos e dominar as técnicas. Sempre com os alunos, claro. Porque é essa a minha resposta à questão para que serve uma impressora 3D. Com uso pessoal percebi que depois de imprimir uns bonecos depressa esgotaria as suas aplicações. Outros terão as suas vias de investigação, como se observa pelo vibrante campo das experiências com impressão 3D. Como professor intuí que na área da educação esta tecnologia pode abrir horizontes aos alunos, estimulando aprendizens que apliquem conhecimentos de várias disciplinas em projectos concretos. E, claro, colocá-los em contacto com esta tecnologia. Porque, mais do que a mim, caberá a eles encontrar resposta para esta e outras perguntas trazidas pelos ritmos inesperados do desenvolvimento tecnológico. Daí a necessidade de arriscar, expôr, e experimentar.
Não resisto a uma última reflexão. Sou professor do sistema público de ensino, e este projecto é uma mais valia para a escola pública onde trabalho. Refiro isto com uma óbvia ponta de orgulho, mas não é aí que quero chegar. O dinheiro que nos permitiu dar este passo veio da FCT, através de um prémio. Não foi o primeiro a que nos candidatámos nem será o último. Poder-se ia arriscar orçamento da escola, seria difícil mas não impossível, ou seguir o caminho do donativos de associações de pais, mas desde que a ideia começou a ser cozinhada há meses atrás que a estratégia foi a de procurar financiamento externo para projectos. Isto é demasiado incipiente e experimental para arriscar o dinheiro de todos nós. E também confesso algum trauma por ter acompanhado a implementação do Plano Tecnológico nas escolas e percebido a forma leviana como os recursos financeiros foram geridos num projecto útil mas aplicado com níveis de eficiência organizativa cuja compreensão me escapou. Não faz sentido para mim trabalhar desta forma, por isso seguiu-se a via da paciência e do arriscar projectos. Nestas coisas o não é sempre garantido, mas se não se tentar o sim nunca é atingido. Tenho gosto em afirmar que esta mais valia tem um custo zero de dinheiro público. Se conseguirmos os nossos objectivos, foi dinheiro bem aplicado. Se falharmos, não desperdiçámos algo que é de todos.
A impressora chegou hoje. Amanhã o desafio será fazer o hello world. Mas o maior orgulho será quando finalmente puder mostrar algo criado e impresso pelos alunos. Em breve, penso, em breve... por enquanto estou a resistir a escrever os clichés de quem trabalha alcança e quem arrisca atinge o sucesso. Oops. Desculpem-me, os dedos escorregaram no teclado...