segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Comics


2000AD #1862: A 2000AD arranca o ano de 2014 em modo de pura FC com Dredd em Titã, um future shock que mistura a tortuosidade mental com robots superinteligentes e espécies alienígenas invasivas, uns espantosamente desenhados ABC Warriors e os entediantes Strontium Dogs, e até as aventuras de um serial killer intergaláctico na série Ulysses Sweet. Mas é Dredd que desperta as atenções, porque abre com esta vinheta excepcional que nos situa do universo ficcional expandido da personagem com toques muito explícitos de homenagem a Chesley Bonestell. A visão de um planetóide em tons acastanhados onde se vê através da atmosfera Saturno e os seus anéis é uma das mais reconhecíveis obras deste ilustrador, e ver a 2000AD a abrir o ano com isto... promete!


Afterlife with Archie #03: É daquelas ideias que deixa os leitores mais atentos a duvidar da sanidade dos editores da Archie Comics. O supra-sumo dos comics delicodoces de adolescentes com um menino bonito disputado pelas beldades da mítica smalltown USA e dos seus amigos transformado numa vénia muito bem feita aos filmes de terror? Sim, e muito bem. Francavilla destrói com muito estilo a iconografia de americanice a quatro cores do personagem e se o argumento de Aguirre-Sacasa está direccionado para os zombies não deixa de homenagear outra vertentes do horror. Este é o único comic da Archie que merece ser lido por um público que ultrapasse o escalão literato da pré-adolescência.


Batman Black & White #05: Este título tem o seu quê de vaidade da DC, com a pretensão de prestígio baseado na qualidade da ilustração de histórias curtas de um dos mais icónicos personagens da editora, e cujo estilo noir se presta a estas coisas. Tem tido momentos de grafismo brilhante e outros mais banais. Nesta edição destaca-se a precisão do ilustrador Chris Weston a canalizar o espírito do terror agoniante clássico da EC Comics com um argumento necessariamente irónico de Blair Butler, também fiel ao espírito do género. Tem o seu quê de dissonância cognitiva ver este estilo gráfico aplicado a um super-herói.


D4VE #02: O grafismo de Valentin Ramon é espantoso e o argumento de Ryan Ferrier um genial descarrilar das iconografias futuristas. Robots opressores que após exterminarem a humanidade decidem que o melhor que têm a fazer é replicar o mais deprimente estilo de vida da classe média, invasores alienígenas e dramas familiares onde máquinas lubrificadas se comportam como actores de telenovela colidem neste comic brilhante. O pormenor da revista pornográfica para robots adolescentes é hilariante ao nível mais elevado.


Quantum and Woody #07: Esta série merecia um maior nível de ilustração. O bom humor reina e as piadas são certeiras. Está muito bem escrita e desmonta de forma muito divertida os elementos dos comics de super-heróis com um toque de buddy comedy. Pena é que o estilo gráfico fique muito aquém da qualidade literária. É que as piadas são excelentes. Desde os heróis antagónicos aos supremacistas brancos que admiram um herói que não sabem que é negro, com militaristas contratados para criar pequenas guerras que irão estimular as indústrias de armamento e diálogos niilistas ao nível da prole obscena do tea party com os euro-austeritários conservadores, este comic é uma pérola de leitura.


Three #03: Kieron Gillen continua a sua desconstrução implacável do mito dos espartanos como heróis justos e comedidos da história europeia, mostrando-os como tiranos sangrentos que tudo fazem para subjugar as populações que viviam debaixo do seu jugo. Mais do que a clássica visão de combatentes da liberdade que se sacrificaram em batalha contra a ameaça oriental, Gillen mostra-os como opressores proto-fascistas, convencidos da sua superioridade civilizacional e sem escrúpulos na erradicação do que entendem como ameaça aos seus valores supremos.