quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Dylan Dog


Tiziano Sclavi (2010). Dylan Dog Volume 4. Valencia: Aleta Ediciones.

Quatro histórias do intrigante habitante do número sete de Craven Road, Londres. Desta vez em espanhol, onde a editora Aleta vai publicando esta e outras séries da Bonelli. Nota mental: no obrigatório, refrescante e pelos tempos que correm necessariamente curto pulo além fronteiras das próximas férias vasculhar cuidadosamente as livrarias de Vigo. Este volume reúne quatro histórias do personagem, não das melhores mas com pontos de interesse. A primeira distingue-se pelo uso magistral da gramática da BD no que toca a sequências de planos e enquadramentos, com um trabalho meticuloso de planificação de cenas que é em sim um elemento narrativo fundamental. A terceira é uma homenagem a Cronenberg e a Romero com uma hilariante visão do conceito de lixo televisivo.

Viven Entre Nosotros: Uma das virtudes de Sclavi como argumentista de Dylan Dog é a forma como manipula as expectativas do leitor. Nesta história fá-lo de forma particularmente brilhante. Começa por nos mostrar um curioso casal que por debaixo da aparência banal revela decadência putrefacta. E a seguir mergulha-nos num conto onde nada é o que aparenta. Uma mulher preocupada com o marido antiquário contacta Dylan Dog para que ele a ajude a descobrir o porquê das mudanças de comportamento do marido. Este dedica-se a caçar vagabundos para lhes sugar o sangue com tubinhos e frascos para o conservar em misturas de heparina. Convencido que é um vampiro, suicida-se frente a Dylan mas após o enterro a viúva desolada descobre que afinal ela era uma vampira amnésica e o marido a alimentava a frasquinhos de sangue recolhido às suas vítimas. Dylan elimina-a, depois de ter um recontro com a empregada do antiquário que, esta sim, é uma vampira clássica que recorre aos seus encantos para tentar morder terminalmente o detective dos pesadelos. Confusos? No funeral Dylan reencontra a filha crescida deste casal nefasto e, naturalmente, é seduzido. O episódio termina com esta bela rapariga a ir a uma festa em casa do casal misterioso onde depressa tira a pele para ficar mais confortável como deformada vampira enquanto conversa sobre os estigmas a que estão associados e as vantagens dos bancos de sangue que libertaram as criaturas de ter de caçar humanos incautos. Sclavi avança esta história de modo brilhante. É particularmente notável o uso que faz de enquadramentos e transições entre vinhetas. Implacável, deixa-nos todas as pistas para desembrulhar a histórias nas primeiras páginas mas só nas últimas tudo faz sentido.

Entre la Vida y la Muerte: Narrativa muito directa levemente inspirada em Coma de Michael Chrichton. Uma sucessão de mortes em operações aparentemente banais num hospital desperta o interesse de uma jovem médica cujo pai falece durante uma apendicectomia. Esta contrata Dylan Dog para investigar os misteriosos eventos, e este depressa se apercebe que o único elo comum em todas as fatais operações é o anestesista, apesar de inicialmente suspeitar de outro médico cirurgião. Dylan descobre a relação mesmo a tempo de salvar a jovem médica de ser vítima de uma cirurgia após ter sido apanhada num corredor escuro do hospital. Após um tiroteio o detective dos pesadelos persegue o anestesista até um recanto macabro do hospital, onde descobre que este estava recolher orgãos para criar uma criatura de pesadelo com a qual Dylan se vê obrigado a lutar. Dylan safa-se, a criatura não, mas no rescaldo final e no tipo de finalização clássico do terror Sclavi revela-nos que também o cirurgião andava a montar às peças a irmã da criatura eliminada por Dylan Dog.

Viven Entre Nosotros - uma das virtudes de Sclavi como argumentista de Dylan Dog é a forma como manipula as expectativas do leitor. Nesta história fá-lo de forma particularmente brilhante. Começa por nos mostrar um curioso casal que por debaixo da aparência banal revela decadência putrefacta. E a seguir mergulha-nos num conto onde nada é o que aparenta. Uma mulher preocupada com o marido antiquário contacta Dylan Dog para que ele a ajude a descobrir o porquê das mudanças de comportamento do marido. Este dedica-se a caçar vagabundos para lhes sugar o sangue com tubinhos e frascos para o conservar em misturas de heparina. Convencido que é um vampiro, suicida-se frente a Dylan mas após o enterro a viúva desolada descobre que afinal ela era uma vampira amnésica e o marido a alimentava a frasquinhos de sangue recolhido às suas vítimas. Dylan elimina-a, depois de ter um recontro com a empregada do antiquário que, esta sim, é uma vampira clássica que recorre aos seus encantos para tentar morder terminalmente o detective dos pesadelos. Confusos? No funeral Dylan reencontra a filha crescida deste casal nefasto e, naturalmente, é seduzido. O episódio termina com esta bela rapariga a ir a uma festa em casa do casal misterioso onde depressa tira a pele para ficar mais confortável como deformada vampira enquanto conversa sobre os estigmas a que estão associados e as vantagens dos bancos de sangue que libertaram as criaturas de ter de caçar humanos incautos. Sclavi avança esta história de modo brilhante. É particularmente notável o uso que faz de enquadramentos e transições entre vinhetas. Implacável, deixa-nos todas as pistas para desembrulhar a histórias nas primeiras páginas mas só nas últimas tudo faz sentido.

Entre la Vida y la Muerte - Narrativa muito directa levemente inspirada em Coma de Michael Chrichton. Uma sucessão de mortes em operações aparentemente banais num hospital desperta o interesse de uma jovem médica cujo pai falece durante uma apendicectomia. Esta contrata Dylan Dog para investigar os misteriosos eventos, e este depressa se apercebe que o único elo comum em todas as fatais operações é o anestesista, apesar de inicialmente suspeitar de outro médico cirurgião. Dylan descobre a relação mesmo a tempo de salvar a jovem médica de ser vítima de uma cirurgia após ter sido apanhada num corredor escuro do hospital. Após um tiroteio o detective dos pesadelos persegue o anestesista até um recanto macabro do hospital, onde descobre que este estava recolher orgãos para criar uma criatura de pesadelo com a qual Dylan se vê obrigado a lutar. Dylan safa-se, a criatura não, mas no rescaldo final e no tipo de finalização clássico do terror Sclavi revela-nos que também o cirurgião andava a montar às peças a irmã da criatura eliminada por Dylan Dog.

Canal 666: Profundamente influenciada por Videodrome de Cronenberg, esta história é uma variante particularmente insana do tema "a televisão é um monte de esterco". Dylan Dog vê-se envolvido num caso de suicídios misteriosos de personagens ligadas à televisão. As imagens televisivas conduzem ao desespero e nos ecrãs dos aparelhos os monstros do além reclamam as suas vítimas. No final é-nos revelado que se tratou de uma macabra experiência levada a cabo por executivos pouco escrupolosos de uma emissora televisiva que decidem testar a viabilidade de transmissão de mensagens subliminares com incitações ao suicídio. Mas no unverso de Dylan Dog o sobrenatural mescla-se com o banal e acaba mesmo por se formar um canal VHS, limbo de suicidas, zombies, assombrações e mortos-vivos onde o terror nunca é desligado.

El Castillo Del Miedo: Revisão de um género clássico do horror, a história de castelos assombrados misturada com policial de salão. Sclavi usa um pouco de tudo neste conto onde os herdeiros de um aristocrata sovina têm de sobreviver a uma semana no seu catelo assombrado para poderem receber a sua parte da herança: famílias ricas com segredos ocultos, histórias tétricas com antepassados sádicos, traumas familiares, criadas que se derretem nos braços de Dylan Dog (até hoje, creio que só li uma única história onde o personagem inevitavelmente não seduzisse alguém) ou pulsões obscuras entre parentes desavindos. Nem falta o sobrinho excêntrico, que neste contexto se veste de monge e dorme sob uma pedra, ou a sobrinha rebelde que emigrou para outro continente e é curiosamente habilidosa com pistolas automáticas. Isto sem esquecer uma assustadora dama de negro que reduz a caveiras as suas vítimas e um castelo gótico isolado do mundo numa tempestade de neve.