quinta-feira, 18 de julho de 2013

Dylan Dog: La Piccola Biblioteca Di Babele; Canale 666


Tiziano Sclavi, Angelo Stano (1998). La Piccola Biblioteca Di Babele. Milão: Sergio Bonelli Editore S.P.A..

As histórias que Tiziano Sclavi escreveu para Dylan Dog caracterizam-se por uma grande precisão gráfica, surrealismo conceptual e muitas referências literárias e cinematográficas vislumbradas nas aventuras do personagem ou nos espaços por onde se move. Este La Piccola Biblioteca Di Babele glosa com brilhantemente o conto clássico de Jorge Luís Borges, com uma pequena reviravolta: os livros contém vidas, histórias, locais, fios narrativos que existem na realidade mantida viva pelo trabalho incansável de um bibliotecário monástico. De férias com uma namorada numa vila costeira, Dylan Dog assiste impotente ao desaparecimento misterioso de pessoas que parecem estar a ser apagadas da realidade. O mistério é insolúvel, Dylan perde a memória de tudo o que sucedeu e apenas o leitor é concedido o desvendar do segredo: ratos que roeram um dos livros arquivados na biblioteca e que obrigam o pobre bibliotecário a apagar a vila e os seus habitantes da realidade e da memória humana.


Tiziano Sclavi, Carlo Ambrosini (1987) Dylan Dog 15: Canale 666. Milão: Sergio Bonelli Editore S.P.A..

Os terrores da televisão são muito bem explorados por Sclavi neste Canale 666. O mistério em que Dylan Dog se envolve desta vez passa por uma epidemia de suicídios e alucinações monstruosas que afligem actores, locutores e tele-espectadores. Aparentemente há um canal assombrado na tv, refúgio de almas penadas que por entre os feixes hertzianos se diverte a atormentar os vivos. Mas os horrores são ambíguos e apesar de mostrados como monstros palpáveis são apenas uma ilusão trazida pelo ecrã por uma organização secreta que decidiu fazer uma experiência onde embebe mensagens subliminares que convidam ao suicídio em filmes de terror transmitidos pela tv, apenas para perceber se é capaz de o fazer. Sclavi faz aqui um comentário pouco subtil à banalidade, comercialismo e violência sexualizante da televisão homenageado Videodrome, esse filme onde os horrores mediátivos advém da televisão, com um divertido aceno a Romero numa cena genial onde uma velhota que visita um cemitério é devorada por dois zombies televisivos.