Dennis Lehane, Christian de Metter (2009). Shutter Island. Los Angeles: Tokyopop
Um agente especial com vontade de vingança e o seu desconhecido companheiro chegam a um asilo de lunáticos numa ilha isolada para investigar o desaparecimento de uma paciente. O isolamento agrava-se graças a uma tempestade que corta todas as comunicações. Quanto mais se embrenham nos mistérios do hospital psiquiátrico mais difusa e misteriosa se torna toda a situação. Novas revelações vão surgindo, como suspeitas de que são realizadas experiências ilegais com psicotrópicos em humanos ou um misterioso paciente extra, perigoso criminoso que esteve envolvido na morte da mulher do agente especial. No surpreendente final, é-nos revelado que todas as premissas do livro não passaram de uma ilusão. O agente especial é o paciente extra, e todo o cenário de mistérios, desaparecimentos e conspirações apenas uma elaborada e elegante estratégia terapêutica para levar o misterioso paciente a reconhecer a sua loucura e espreitar através dos véus de ilusões auto-induzidas. Mas fica-nos sempre a suspeita: o que é a verdade? Será o agente especial um louco perigoso que vive num mundo artificial gerado pelas suas ilusões? Ou terá sido drogado com substâncias causadoras de alucinações pelos cientistas apostados em ocultar as suas experiências ilegais?
Sob a pele de um policial noir bem construído Lehane dá-nos uma narrativa fortemente questionadora do que é o real mediado pelas percepções individuais. Temos o consenso da existência de uma realidade, como demonstrou o bispo de Berkeley a pontapear pedras pelas ruas. Mas também vemos a realidade que nos rodeia através do filtro da nossa percepção sensorial - os dados crus saídos dos sentidos que nos permitem aperceber o real e o seu processamento pelo cérebro. Se algo falhar, a nossa imagem pessoal do que é real diverge do consenso geral. Reduzindo este argumento ao absurdo podemos conceber a impossibilidade da existência de um real, concebendo o vasto mundo como uma elaborada ilusão construída ou enviada para a nossa mente. Mas o real existe. Se tiverem dúvidas dêem pontapés às pedras, recordando que a forma como o vemos depende da sua existência e das formas como o percepcionamos e compreendemos no interior do nosso ser.
O traço de Christian de Metter não se sobrepõe ao livro, sublinhando o carácter noir através de uma paleta de cores restrita e sombria.