Em busca de novas técnicas que explorem uma estética verdadeiramente digital comecei a mexer com databending. O princípio é simples. Para um computador, qualquer ficheiro é um conjunto de código binário que pode ser lido/editado em aplicações específicas. As nossas queridas fotografias, os entediantes documentos, todo o interminável espectro de ficheiros que produzidos na nossa vida digital são apenas filas de zeros e uns.
O databending é um interessante detournement que nos leva a explorar os resultados de editar um ficheiro com aplicações que não foram criadas para este acto. Do que já investiguei até agora, há várias formas de o fazer - editar directamente o código hexadecimal em programas como o Notepad ++, abrir e gravar no humilde Wordpad, utilizar linhas de código e apps específicas (apenas, do que vi, para utilizadores de Mac e Linux), usar webapps como o Glitch Generator ou editar imagens em aplicações de edição áudio. Sendo uma pessoa francamente visual (boa desculpa para esconder o facto de não perceber nada de linhas de código e afins) optei por este método e comecei a modificar fotografias no Audacity.
A foto original, que está intencionalmente desfocada. É outra das minhas vertentes de exploração, desfocagem em movimento ao acaso em busca de efeitos curiosos.
Primeira versão, abrindo a imagem no audacity e aplicando efeitos de inversão sonora aleatoriamente.
Finalmente, uma versão compósita editada no gimp reunindo diferentes bendings da imagem original. O original transformou-se radicalmente.
O databending atrai-me por diversas razões. Implica mexer directamente em códigos e ficar a conhecer mais intimamente o computador e os meios digitais, algo cada vez mais importante numa era em que a tendência é a de restringir legalmente e por meios técnicos a liberdade de utilizar o computador para o que o utilizador quiser. Tem uma forte componente de caos e aleatoridade. Os resultados são imprevisíveis, e o ficheiro pode tornar-se ilegível. Foge à corrente tendência de produzir imagens com aplicações fotográficas que tiram fotografias com efeitos directamente aplicados, sem que o utilizador/criador se aperceba de como exactamente é obtido o efeito visual. A estética inerente olha para os mecanismos implícitos no digital, uma visualização de bits e pixeis que reflecte o visual intrínseco do código binário, fugindo à banal utilização do computador como meio de replicar fielmente o real.
O computador, para se afirmar como meio de expressão por direito próprio, necessita de ser utilizado com uma estética própria e não como meio de criação realista. O databending é um caminho. Dei o primeiro passo :)