segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
Cordão umbilical
Mulher e touro, gravura rupestre de chauvet.
Ainda mesmerizado pela imagem da Caverna de Chauvet onde Herzog nos mostra uma gravura rupestre com 35.000 anos que representa uma mulher e um touro. Remete logo para o mito de Europa, raptada por Zeus sob a forma de um touro, e para o minotauro, sublime devorador de virgens.
Europa e o touro, antiguidade grega.
Europa e o touro, mosaico romano.
São mitos da antiguidade clássica bem conhecidos, explorados ao longo de séculos de história de arte.
Boucher, O Rapto de Europa
Rembrandt, Rapto de Europa
Jordaens, Rapto de Europa
É uma imagem que se repete, ciclicamente. O que espanta é perceber até que ponto na antiguidade se estendem as raízes deste mito. Pelo que encontramos nas caverna de Chauvet, antecede em dezenas de milhar de anos as tradições greco-romanas. Que outras ideias, mitos, sentimentos, terão sobrevivido de uma forma ou outra dos tempos ocultos da pré-história à nossa era contemporânea? Serão memes puros, vírus das ideias que sobreviveram ao longo de milénios infectando as mentes através de iconografias adaptadas às diferentes épocas? Por muito que queiramos transcender a humanidade através da tecnologia, estamos ligados às raízes milenares por um extenso cordão umbilical. Se, por algum milagre de magia ou truque científico nos fosse permitido viajar no tempo, regressando aos tempos antigos da noite dos tempos, certamente que teríamos muito a aprender com os nossos primitivos antepassados. Como tal não parece possível à luz da física, resta-nos investigar, intuir, conjecturar, sem que nada desfaça o mistério das eras passadas que estão na nossa origem.
Picasso, Minotauro
Para terminar esta divagação, uma imagem de Picasso, cujo traço tanto se assemelhava às espantosas obras milenares ocultas sob as profundezas da terra. Velhos mitos, enraizados no que há de mais profundo na mente humana.