quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Inferno: The World at War, 1939-1945


Max Hastings (2011). Inferno: The World at War, 1939-1945. Nova Iorque: Knopf.

As histórias da II guerra seguem normalmente as grandes decisões e personagens do conflito, filão bem explorado por Ian Kershaw, ou as manobras no terreno, numa gama de perspectivas que vai do mais abrangente à minúcia que deleita o público de publicações centradas na estética militar. Ultimamente, desenha-se uma nova tendência, procurando retratar este conflito seminal do século XX através de história oral, olhando também para as experiências dos que se viram nele envolvidos, desde soldados a criptógrafos, diaristas nas ruínas das cidades alemãs e pessoas comuns apanhadas no conflito. Este Inferno procura ser uma mistura de dois géneros, traçando as linhas gerais do conflito mas humanizando-o com vozes recolhidas de cartas e diários daqueles que estando longe das grandes decisões sofreram as duras consequências.

Outro pormenor curioso está num certo carácter militante desta obra, que assume pontos de vista bem definidos sobre a realidade da guerra: aponta a impossibilidade económica do esforço de guerra alemão, a injustiça e violência dos bombardeamentos aliados que arrasaram as cidades alemãs, a incapacidade de generais britânicos e americanos no terreno, a brutalidade da guerra na frente leste, as reais motivações dos ingleses para o combate (os soldados combatiam não pela manutenção do império e do velho sistema mas por coisas bem mais prementes como uma reforma dos sistemas de segurança social), o racismo presente na luta asiática, a incapacidade bélica nipónica e os falhanços das tecnologias miraculosas que enchiam de fé os últimos zelotas do regime nazi. Também como ponto de interesse está na busca de relatar com maior profundidade os acontecimentos em teatros de operações que normalmente se ficam por poucos parágrafos em boa parte dos livros sobre a II guerra, olhando para o médio oriente, indo-china, Índia e Finlândia de forma pormenorizada.

Sem abandonar a tradicional linha apologética dos actos aliados, Hastings trouxe ao grande público uma interessante linha crítica que desmistifica os aparentes grandes feitos militares e aponta os paradoxos retóricos de combatentes pela liberdade que mantinham países inteiros debaixo de ocupação colonial. De uma forma particularmente preocupante, mostra como a única força capaz de enfrentar eficazmente o totalitarismo germânico foi não a liberdade democrática mas o brutal totalitarismo soviético.

Criticando acutilantemente o registo histórico sem cair no revisionismo, Inferno é um dos mais interessantes, abrangentes e inteligentes livros sobre a II guerra que já li, com uma prosa intrigante que deixa o leitor suspenso ao longo dos capítulos, mesmo que já conheça bem a narrativa deste momento pivot da história contemporânea.