terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Black Mirror - The National Anthem
Começa de forma banal. A meio da noite o primeiro ministro britânico é acordado porque no YouTube surgiu um vídeo que mostra uma princesa da casa real raptada a apresentar uma lista de exigências sob tortura. A primeira reacção é encobrir o vídeo e colocar uma mordaça sobre os meios de comunicação. Assim começam quarenta e cinco minutos de drama que, aparentemente, serão sobre as reacções das cúpulas de topo e de heróicos esforços policiais secretos para salvar a princesa.
Mas Black Mirror não é uma história habitual de crime e castigo. É antes uma fortíssima reflexão sobre o poder da internet, de uma opinião pública que muda em tempo real graças às conexões pelas redes sociais, de meios de comunicação que utilizam todos os meios de que dispõem para propagar informação, de instituições que reagem de forma desactualizada a ameaças criativas e inauditas que tiram partido da assimetria e da capacidade da rede de espalhar informação num piscar de olhos. Nada fica secreto durante mais do que poucos minutos num mundo de smartphones ligados à rede. As imagens mais marcantes deste drama televisivo não são as dos preocupados decisores, mas um infindável correr de comentários me redes sociais. As situações mudam a cada minuto, nada corre de acordo com planos pré-estabelecidos. O mais interessante deste filme é a infinda sucessão de comentadores, a constante mudança de reacções dos envolvidos, o fluxo de opiniões em tempo real providenciada pelas redes sociais.
A exigência do rapto é que o primeiro ministro execute um acto sexual ao vivo na televisão com um porco. No final do filme é revelada a origem do acto terrorista: não algum grupo militante extremista mas sim um artista conceptual que provoca este acontecimento como a primeira grande obra de arte do século XXI, sublinhando a impotência das instituições tradicionais no admirável mundo novo interconectado.
Escrito por Charlie Booker, parte de uma trilogia que reflecte como os ecrãs se tornaram o espelho, talvez a face da sociedade contemporânea, Black Mirror estreou agora num canal televisivo britânico mas, felizmente porque é uma obra que faz pensar, desperta a consciência e reflecte sobre um aspecto cada vez mais premente do mundo actual, escorregou para o YouTube onde pode ser visto até que os polícias dos direitos de autor intervenham e neguem a possibilidade de partilha de mais um intrigante produto cultural a todos os que não disponham de meios para lhe aceder das maneiras clássicas. Sem fazer a apologia da pirataria mas em nome da disseminação cultural, aqui vão os links: Black Mirror parte 1, Balck Mirror parte 2 e Black Mirror parte 3.