terça-feira, 18 de outubro de 2011
Wired fo War
Peter Singer (2009). Wired For War. Nova Iorque: Penguin Press.
Um livro sobre robots armados que patrulham os céus em busca de alvos, seguram metralhadoras pesadas ou desactivam bombas improvisadas? Ainda muito recentemente este seria um bom mote para uma obra de ficção científica muito especulativa. Hoje, é um estudo vertical sobre uma realidade comum nos campos de batalha mundiais.
Num número maior do que se imagina, e espalhados pelos quatro cantos do globo, hoje circulam aeronaves de combate autónomas controladas remotamente a milhares de quilómetros de distância, robots armados capazes de fuzilar com eficácia total os alvos mais incautos, robots de serviço que desarmam bombas e executam tarefas difíceis. O cenário não é bem Exterminador Implacável, é mais guerra de videojogo.
Singer traça um largo panorama do uso militar de robots, do seu desenvolvimento aos usos conhecidos. Após intrigantes descrições dos laboratórios de concepção e dos utilizadores, envolve-se em terrenos mais espinhosos: quais as consequências a libertação de sistemas mecânicos autónomos armados equipados com inteligência artificial nos campos de batalha? Quais os princípios éticos que permitem a um robot abater um ser humano, qual a ética (e espírito de corpo) de uma organização militar que combate remotamente, a milhares de quilómetros de distância, mediando a violência da batalha através de ecrãs de alta resolução? Quais as implicações para cadeias de comando, estruturas culturais e sociedade em geral? Singer não responde às questões que levanta, sinalizando que o rápido desenvolvimento da tecnologia robótica não está a ser acompanhado por respostas às novas problemáticas levantadas pela tecnologia. Uma coisa é questionar-mo-nos sobre as inquietantes percepções despertadas por um robot humanóide uncanny valley, outra é estarmos no lado errado de um míssil lançado por uma aeronave autónoma cujo piloto controla remotamente alguns aspectos de voo e tomou a decisão de disparar baseado numa imagem pouco clara, ou pior: estar na ponta errada de um sistema de defesa automático capaz de disparar milhares de balas num segundo que nos confundiu com um alvo legítimo (o que aconteceu a um avião comercial iraniano abatido pelo sisteam AEGIS de um navio de guerra norte-americano).
Estes já não são cenários de especulação reservados aos praticantes de ficção científica mais arrojados. São a realidade, hoje, de sistemas em constante e rápida evolução.