quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Objectivos

Duas notícias curiosas hoje nos comentários matinais da antena 2 às voltas com o conceito de objectivo. Primeiro, a muito badalada revisão ao código laboral que passa a incluir o não cumprimento de objectivos como motivo de despedimento por justa causa (e, também, a inadaptação a novas tecnologias). É o tipo de ideia que parece bem no papel, até que nos lembramos que a realidade intervém e torna-se fácil para uma entidade empregadora limpar os recursos humanos indesejáveis recorrendo ao simples estratagema de definir objectivos difíceis, impossíveis ou absurdos. Se vivessemos num mundo e sociedade justa e honesta, seria algo transparente, mas bem sabemos que justiça e honestidade andam muito arreadas da época contemporânea.

A outra tem a ver com a inclusão de receitas de bilheteira como objectivos para os promotores culturais financiados pelo estado. Esta ideia é potencialmente perversa para a diversidade cultural. Se a cultura fosse definida pelo sucesso de bilheteira, então fechar-se-ia o S. Carlos e apostava-se no Tony Carreira. Uma medida destas pode levar responsáveis por museus, teatros, cinemas e outras instituições a fugirem a produtos culturais mais obscuros mas de grande qualidade e pertinência e apostarem em popularizações para garantir a sua sobrevivência nestes tempos financeiramente apertados.

Não que a cultura tenha necessariamente que ser obscura e elitista. Pelo contrário, quanto mais longe chegar, melhor. Mas não nos podemos ficar apenas pelos gostos do grande público, até porque estes vivem de modas transientes que deixam poucas marcas. Quantos artistas, que agora consagramos, não foram nas suas épocas ignorados por não satisfazerem o gosto popular? E, invertendo a lógica, quantos estão hoje esquecidos até pelos mais zelosos académicos apesar de terem sido grandes sucessos do passado? Os apoios estatais à cultura têm de ser equalitários, senão o risco de se perder património cultural é muito grande. Nem só de cifrões se define um país.