segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Granta #116


Granta #116

Hora de recordar o onze de Setembro de 2001. Mas em vez de escolher as visões mediáticas de memoriais, recordações dos momentos chocantes ou a inevitável pergunta "onde estavas tu nesse dia nesse momento", olhemos para outras dimensões da tragédia terrorista e suas repercussões globais, dez anos depois. É esse o mote da mais recente edição da Granta, coligindo ficção que toca nas problemáticas postas a descoberto pelos descarados embates de aeronaves contra símbolos globais da pax americana.

Nestas discussões cai-se invariavelmente numa retórica de nós versus eles, sendo o "eles" a imensa massa humana que vive no norte de àfrica, médio oriente e ásia central. Esta edição da Granta procura dar voz aos "eles", seleccionando ficção e reportagem que focam as vidas de soldados regressados dos campos de batalha afegãos e iraquianos, as experiências de somalis com filhos raptados, supostos jihadistas apanhados em teias de corrupção que alimentam senhores da guerra, o quase incompreensível caos de zonas do planeta cujo isolamento e tenaz independência resistiram ao longo do século XX às incursões dos impérios da época, onde a pax americana é apenas mais uma iteração num historial de balas e sangue.

Se todas as peças contidas nesta edição são recomendáveis pelos diferentes pontos de vista e qualidade literária, destaco uma pelo sublinhar da inversão do mundo globalizado onde os pontos da rede global de transiência estão condenados à retórica alarmista-tecnológica do terror: a experiência de Pico Iyer, escritor britânico de origem indiana residente de longa data no Japão e promotor de uma cultura global alicerçada na viagem enquanto desocberta, que após o onze de Setembro passou a ter de viver com a desconfiança das autoridades e habitantes do seu país adoptivo apenas pela cor da sua pele.

A questão? Até que ponto estamos preparados para abdicar de liberdades, intercompreensão, a que atrocidades recorreremos em nome do medo?