sábado, 2 de julho de 2011

Anno Dracula


Kim Newman (2011). Anno Dracula. Titan Books.

E se... nos momentos cruciais de Drácula de Bram Stoker os seus heróis não tivessem conseguido travar o rei dos vampiros? Se Holmwood falhasse, Mina cedido e a sabedoria de Van Helsing se mostrasse ineficaz? É este o cenário do curioso Anno Dracula: uma Londres de final de século onde o grande vampiro se senta no trono dos Windsor rodeado da sua leal guarda Cárpata que reúne alguns dos mais míticos e obscuros vampiros literários. O dandy Lord Ruthven é o primeiro-ministro do reino e o insando Varney é o sanguinolento vice-rei da Índia. Tornar-se vampiro é a aspiração de todos os que querem singrar na vida mas nas ruas pululam criaturas abandonadas à sua mercê. O empalamento é introduzido como punição para os crimes mais banais e o crânio de Van Helsing decora os muros do palácio de Buckingham como um aviso aos mais incautos. Dos heróis originais de Stoker apenas sobrevivem Mina Harker, sob domínio de Drácula, e Jack Seward, o médico que agora se dedica a travar algum do caos nas ruas como chefe de um hospital que tenta aliviar a saúde dos vampiros destituídos. Bram Stoker e Sherlock Holmes definham num campo de concentração em Surrey.

Os ressentimentos começam a vir à tona quando um assassino depressa apelidado de Jack o Estripador começa um périplo sangrento pelos becos de Whitechapel esventrando ritualmente vampiros. Londres - a londres política, o submundo criminal e os antigos poderes, entra em ebulição. O estado das coisas é aproveitado por uma organização secreta para manipular a queda do regime vampírico e a restauração da ordem tradicional.

É aqui que entra em acção Charles Beauregard, um cavalheiro-agente secreto operativo de uma organização oculta denominada Clube de Diógenes que reúne algumas das mais influentes figuras do reino. Com a tarefa de dar caça ao estripador, acaba por se ver envolvido numa extensa conspiração onde é ajudado por uma vampira mais velha que Drácula, pela qual inevitavelmente se apaixona. Quanto ao resto... não estou com vontade de revelar mais do enredo deste livro singular.

Tão interessante como a narrativa são as anotações finais onde Newman revela as suas fontes de inspiração. Para além dos romances da época vitoriana, dos quais o autor retira muitos personagens naquele processo de apropriação que Alan Moore transformou em moda com a Liga dos Cavalheiros Extraordionários, há alguns personagens saídos do mundo dos jogos RPG aos quais são dadas novas dimensões.

Primeiro de uma série, Anno Dracula vale pela sua premissa e revisitação de antigos personagens. Fica no ar uma vontade de ver o que Newman faria com as comunidades criminosas da literatura de londres vitoriana.