Na passada segunda feira decorreu no Goethe Institut uma interessante palestra de Arne Kaiser sobre serious gaming. Kaiser é um dos responsáveis pela Forty Games, empresa alemã que se dedica à concepção de jogos como ambientes de aprendizagem e partilhou um conjunto de ideias interessantes sobre o campo. Traçando um paralelo entre o acto de jogar e o acto de aprender, mostrou como o jogo pode ser um elemento de aprendizagem em dois níveis - aprender sobre o jogo, e aprender com o jogo. Nesta segunda óptica, onde se insere o campo dos jogos enquanto ambientes digitais de aprendizagem, falou do conceito de stealth learning - essencialmente, aprender sem sentir que se está a aprender. A imersão na mecânica do jogo leva à produção de aprendizagens, mas o jogo é jogado por si, como algo divertido, embora tendo em mente os objectivos de aprendizagem. Por detrás de perspectivas que traem uma visão construtivista, sublinhando conceitos como o fluxo de Csikszentmihalyi e os estilos de aprendizagem.
Um dos pontos mais fascinantes das tecnologias usadas está numa matriz que permite identificar tipos de aprendizagem e géneros de jogos mais adequados. Não se trata aqui de jogos educativos clássicos do género drill and practice, mas de ambientes 3D criados em motores de jogo (utilizando o Unity) multi-plataformas (pc, web, iOS) à volta de um conteúdo a aprender. O target da empresa é o mercado empresarial desenvolvendo jogos que se adequam às necessidades dos clientes.
É refrescante ouvir alguém que não é professor a falar do que é essencialmente um problema de aprendizagem. Foge-se aos lugares-comuns e fala-se sem os preconceitos de quem está espartilhado por programas de ensino industrial que não reconhecem, pelo seu necessário carácter transversal a uma população, a individualidade dos percursos de aprendizagem. Jogar como forma de aprender não substitui a aprendizagem, mas renova o campo com uma ferramenta muito potente, particularmente no domínio dos saberes procedimentais. Há anos que os ambientes virtuais e de jogo, particularmente de simulação, são utilizados na formação e ensino. Mas no meio em que trabalho todos os dias o quadro interactivo, mais uma ferramenta de demonstração, é o que é visto o novo supra-sumo que vai estimular aprendizagens. E ai de quem pensar o contrário.
Para saber mais sobre os jogos e a educação podem consultar o mais recente relatório do Futurelab sobre o tema.