terça-feira, 10 de maio de 2011
Outposts
Simon Winchester (2003). Outposts: Journeys to the Surviving Relics of the British Empire. Londres: HarperCollins.
Ao dealbar do século XX, o sol não se punha nos vastos domínios do império britânico. No final do mesmo século, com Hong Kong prestes a ser devolvida à China, ainda é legítimo dizer o mesmo, embora das vastas extensões territoriais americanas, africanas e asiáticas apenas reste uma enorme lista de pequenos territórios na sua maior parte desabitados, símbolos de um poderio desvanecido. É uma busca destes vestígios imperiais que Winchester se propõe neste livro encantador, com uma regra: de fora ficam as centenas de rochedos e ilhotas desabitadas que fazem parte dos domínios de sua majestade. O autor propõe-se apenas visitar as colónias britânicas ainda habitadas.
Não é uma jornada fácil. Os acidentes geopolíticos e as distâncias envolvidas tornaram esta viagem numa epopeia de anos. Se alguns locais são de acesso fácil, alguns dos mais remotos territórios governados por Londres são acessíveis com periodicidade anual. Ao longo deste livro Winchester encontra-se numa Hong Kong em transição de governantes, nas Falklands invadidas pela Argentina e numa Gibraltar pré-espaço schengen, que obriga a um pulo a Tânger para percorrer os poucos quilómetros que separam Algeciras do Rochedo.
Winchester atira-se à tarefa procurando uma certa nostalgia colonial de plácidos governadores, símbolos antiquados e uma certa decadência elegante. A realidade revela-lhe uma diversidade díspare, desde os modernos prédios do paraíso fiscal das Ilhas Caimão, passando pelo turimo massificado das Bahamas, a anglicidade atlântica de Tristão da Cunha, Ascenção, Santa Helena e as Falkland, o isolamento das Pitcairn e as bizarrias geopolíticas das Ilhas Virgens, Anguilla e Gibraltar. Embora procure uma voz distante, nota-se no autor um certo fascínio pelas colónias atlânticas, que descreve como literais extensões de uma inglaterra desaparecida nos rochedos do oceano, e assume uma voz crítica perante as incongruências governativas das colónias caribenhas. Nota-se uma empatia perante populações que se sentem historicamente britânicas mas que são quase esquecidas pelos governos londrinos. Mas o foco de indignação vai para o anacrónico BIOT, o território britânico do oceano índico, cuja população foi deportada para as ilhas mauricias para que a marinha americana tivesse ao seu dispor uma base aeronaval na ilha de Diego Garcia.
Misturando jornalismo com opinião e literatura de viagem, Outposts olha com nostalgia para as relíquias de um império desvanecido mantendo uma visão crítica sobe a legitimidade do conceito de colónias num mundo decididamente pós-colonial, retratando até que ponto antigos donos de impérios são capazes de ir para manter alguns parcos vestígios que asseguram uma certa simbologia.