sábado, 21 de maio de 2011
Darwinia
Robert Charles Wilson (2009). Darwinia: um romance sobre um século XX muito diferente. Parede: Saída de Emergência.
Poderemos julgar um livro pela sua capa? Foi o que fiz com este Darwinia. A capa, e a premissa de uma Europa selvagem, despertaram a curiosidade e levaram à leitura desta obra singular.
O livro assenta sobre uma ideia surreal: em 1912 um estranho acontecimento modifica a Europa. De um dia para o outro, o continente transforma-se de local civilizado para uma selva primeva. Tudo desaparece e é misteriosamente substituído por uma terra selvagem cheia de estranhas criaturas e novas plantas. À partida, parece um romance de história alternativa em que esperamos aventuras clássicas à Edgar Rice Burroughs por desconhecidas terras selvagens pontilhada por histórias de uma história que nunca aconteceu sobre as disputas territoriais das antigas nações europeias que sobrevivem através das administrações coloniais. E o autor dá-nos isso, com uma história sobre uma expedição aos recessos interiores de um continente desconhecido. Mas, a páginas tantas, Robert Wilson muda todo o jogo e transforma Darwinia num romance de pura Hard SF e Cyberpunk passada, literalmente, no fim dos tempos. Sem querer desvelar a ponta do véu, digamos que a Terra do romance é uma terra virtual, constructo digital e parte integrante de um vasto arquivo criado pelas envelhecidas civilizações para tentar manter uma semente do seu universo num final dos tempos em que a entropia leva o universo a colapsar numa singularidade. O arquivo é corrompido por entidades digitais sentientes que têm de ser combatidas mas ao mesmo tempo preservadas por serem parte integrante do universo arquivado.
Romance surpreendente, Darwinia oferece-nos aventura clássica em terras selvagens, uma sólida construção de mundos e um fascinante toque cibernético de realidades virtuais sólidas para quem nelas habita. Verdadeiramente merecedor do prémio Philip K. Dick, escritor cuja obra se baseia num constante questionar da verdadeira realidade do real que percepcionamos.