quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

I'm Still Here



I'm Still Here

Confesso que fiquei sem saber o que pensar deste filme. Não consegui perceber se era um documentário se uma elaborada piada conceptual. I'm Still Here segue um percurso de dois anos na vida do actor Joaquin Phoenix, após este declarar que irá abandonar o cinema e dedicar-se a lançar uma carreira musical como cantor de hip-hop. Mas o que é apresentado é um retrato pouco lisonjeiro de um homem perdido, em processo de profunda degradação humana, que quer ver reconhecido um talento que não tem enquanto mergulha na droga e num estilo de vida pública que o torna num ícone do ridículo.

Se é um documentário, é algo de muito estranho pensar que alguém se escolheria retratar publicamente em pontos tão baixos de degradação, uma vez que o actor é um dos produtores desta obra. Pensei que o filme tinha atingido o auge das profundezas com uma cena de disputa de cocaína, mas logo se seguiu uma festa com prostitutas e antes do final um momento de escatologia pura, na verdadeira acepção da palavra.

Ou então é uma piada elaborada, um comentário sarcástico fortemente conceptual em que um actor veste durante uns anos perante toda a sociedade o papel de homem em processo de degradação. Se assim é, estamos perante uma obra que ficará para os anais do cinema de culto, marco de brilhantismo performativo. Ou talvez seja uma parábola invertida do mais clássico mito de hollywood: as histórias do tipo nasceu uma estrela, onde um jovem talento sobrevive aos mecanismos infernais do sistema e se transforma numa estrela brilhante do star system, aqui totalmente invertido na história de um homem que abandona o sistema e se transforma num espectro ridículo do que foi. Seja como for, o que emerge é uma imagem de um homem perdido, e um filme que não responde às perguntas que a mente faz sobre ele. É um filme que está, tal como o seu título.