domingo, 28 de novembro de 2010

Machete



IMDB | Machete

Machete classifica-se como um dos filmes mais divertidos e delirantes que vi nos últimos tempos, apesar de não ser inesperado. Basta olhar para o nome do realizador, Robert Rodriguez, e pensar nas homenagens ao grindhouse que este fez em conjunto com Tarantino. Ou, esforçando mais os neurónios, podemos sempre pensar no para a época em que surgiu inovador El Mariachi.

Não vos vou maçar com pormenores sobre o enredo do filme. Este é uma desculpa para encadear cenas de acção fortemente violentas onde balas, sangue e tripas não são poupados. Embora com um interessante subtexto sobre os problemas da imigração nos dias de hoje, estamos a falar de um filme assumidamente camp, e notável por isso.

O elenco é de luxo, e acerta em cheio nalguns actores. Danny Trejo representa Machete, um ex-polícia mexicano que se vê envolvido numa verdadeira guerra urbana entre imigrantes e vigilantes no Texas. Ecoando o clássico Cheech and Chong, Cheech Marin encarna o irmão de Machete, padre que renuncia a violência mas não a charutos ou charros. Jessica Alba e Michelle Rodriguez representam duas persongens icónicas, a primeira uma polícia do serviço de imigração que mantém o sentido de justiça e a segunda uma versão feminina de Guevara, líder de uma rede clandestina de auxílio a imigrantes. Lindsey Lohan surge no papel de filha de ar virginal mas dependente de drogas de um dos literais maus da fita (papel paradoxal para esta actriz com ar virginal e dependência de adições). Robert DeNiro diverte-se a encarnar um político populista e corrupto, financiado por barões da droga. Don Johnson, imortalizado como o polícia canastrão da série dos anos 80 Miami Vice representa um vigilante de fronteiras apostado em travar as vagas de imigrantes a uma bala de cada vez. Steven Seagal, num raro papel em que o seu ar de canastrão lhe assenta como uma luva, representa um barão da droga seguidor da via do samurai. E tom Savini surge com um absurdo mercenário, embora alguns efeitos especiais tenham se não o seu toque pelo menos a sua inspiração.

Este filme vive de iconografias, detalhes delirantes e personagens unidimensionais que encarnam elementos mitificados pelo lado mais simplista da cultura mediática popular. E vive particularmente de situações de violência extrema mas divertida, exageros grand guignol abusivos e fetichistas, onde comédia e acção se misturam num cocktail explosivo.

Um momento do filme que não me sai da cabeça envolve a utilização das tripas de um assassino como corda para saltar entre andares de um hospital. E no apocalíptico final, a dose de fétiches é elevadíssima, com enfermeiras de saia curta a empunhar uzis, freiras assassina e automóveis que se comportam como cavalos. Fica aqui um pequeno cheirinho dos delírios deste filme imperdível.