segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Soma

A vida a anti-depressivos. O cérebro sente as dores, mas o coração está adormecido. Os pensamentos revolteiam, mas as ligações químicas não se efectuam e as emoções não surgem. A tristeza não deixa de ser profunda, mas pelo menos não é esmagadora. No fundo, somos produtos da biologia. Todos os nossos grandes pensamentos, as emoções que nos definem, o amor que nos leva à felicidade ou à loucura, são apenas substâncias químicas produzidas pelo nosso organismo que encontrando os receptores certos, despertam sentimentos que nos alegram ou entristecem. Apesar das aspirações a algo maior, mais etéreo e elevado, somos pouco mais do que a soma das secreções e hormonas do organismo.

Huxley tinha razão. Orwell acertou nalgumas coisas, nomeadamente a capacidade de vigilância panóptica que a tecnologia digital nos trouxe. Mas este futuro contemporâneo é menos 1984 e mais Admirável Mundo Novo. Sinto isto de forma acutilante, ao saber que nesta fase da vida necessito das inúmeras variantes de Soma para me poder sentir minimamente humano.