
Timothy Brook (2009). Vermeer's Hat. Londres: Profile Books
Literary Review | The Half-Open Window
Concebemos a globalização como algo recente, contemporâneo, alicerçado nas redes económicas transnacionais e nas suas interligações através de vias navais e aéreas. Vivemos numa cultura global, com produtos e ideias de todo o mundo disponíveis em qualquer local do planeta, até mesmo nos mais remotos.
Este mundo global, aldeia global como lhe chamou McLuhan, é na verdade bem anterior à nossa época contemporânea. Já os romanos se vestiam com seda chinesa, embora os dois grandes impérios da antiguidade não tivessem contactos directos. Mas Brook não vai tão longe. Pega numa época mais recente, o século XVII europeu, e mostra-nos, apontando elementos pictóricos da obra de Vermeer, como já nessa época era visível uma cultura global, onde as trocas comerciais e influências culturais já se faziam sentir através dos cinco continentes.
Brook demonstra esta interconexão através de pormenores como mapas (avanços na cartografia), chapéus de pele (trocas comerciais entre europeus e índios americanos), objectos de porcelana (provenientes da China ou plagiados em Delft), escravos africanos e até o acto de fumar, símbolo de um verdadeiro percurso global de trocas comerciais entre as américas, a europa e o extremo oriente. O que emerge é um retrato surpreendente da expansão colonial e redes económicas que vieram dar origem ao nosso mundo global contemporâneo.