quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Crecy



Warren Ellis, Raulo Caceres (2007). Crecy. Rentoul: Avatar Press

Crecy

Nos tempos mais selvagens da idade média, a França e a Inglaterra viviam num quase permanente estado de guerra. As conquistas cavaleirescas e a ganância de riqueza e territórios entrechocavam-se no canal da Mancha. Crecy coloca-nos no meio dessa época, numa das invasões inglesas ao território francês.

Comic histórico, Crecy não nos coloca no meio da época, retratando cuidadosamente os principais personagens e acontecimentos da batalha de Crecy. Antes, leva-nos directamente à lama, ao suor e ao sangue. A narração é feita por um humilde soldado, arqueiro nos exércitos ingleses, que nos fala directamente a nós, no futuro. Tem uma lição a ensinar, uma lição de realidade. Os valores da humildade e do cavalheirismo são depressa postos de parte. O que resta é uma violência visceral, glorificada pela vitória.

Crecy é Warren Ellis no seu mais inquietante melhor, escrevendo sem limites sobre o que é ser inglês, não o inglês aristocrata, o gentleman imortalizado na literatura, mas o inglês do povo, bruto, violento e sabido que pensa primeiro na sobrevivência e só depois na honra. No fundo, não muito diferente do lumpen de qualquer país.

A ilustração de Raulo Caceres é pesada, trabalhada e precisa em relação à época que retrata. O uso judicioso do preto e branco, com contrastes tornados difusos pela eterna chuva que cai, contribui para a inquentação deprimente do comic. A violência não é glorificada. Antes, é-nos dada crua e visceral, sem pudores. No fim de contas, o assunto da guerra é o assunto da morte. Homens matam homens em nome de interesses ou ideias que depressa se desvanecem no tempo. Não há glória nisto, por mais idealistas que sejamos.