terça-feira, 8 de abril de 2008

1801



António Pedro Vicente (2007). Guerra Peninsular 1801-1014. Lisboa: Quidnovi

As guerras napoleónicas, que varreram e transformaram a Europa do princípio do século XIX, marcaram decisivamente a história e a cultura das nações e proto-nações que se tornaram o cerne da Europa moderna. Nomes como Waterloo, Borodino, Austerlitz trazem associado ideias de combates sem quartel, histórias de valor de um tempo em que a guerra era sobre coragem e valor, em que a manobra era tudo. Já Buçaco recorda-nos matas bucólicas.

Os acontecimentos, as histórias, as lutas, os momentos históricos, as ideias, repassam para cultura global das mais variadas formas. A derrota de Napoleão na Rússia inspirou Guerra e Paz de Tolstoi; os acordes da sinfonia 1812 de Tchaikovsky fazem parte da memória musical do mundo. Beethoven escreveu as suas sinfonias inspirado nos ideais de liberdade que, paradoxalmente, as armas francesas espalharam pela Europa. Goya documentou com olhar amargo as atrocidades cometidas e a hipocrisia das autoridades de uma Espanha subjugada ao domínio francês. Mais recentemente, C. S. Foster foi adaptado ao cinema, revivendo no grande ecrã as epopeias fictícias inspiradas na guerra naval entre a França e a Inglaterra.

Este livro, Guerra Peninsular 1801-1014, não é um romance ou história ficcionada. É um relato, breve, das condicionantes políticas, económicas e militares que influenciaram o papel de Portugal nos anos do auge napoelónico. É algo que todos aprendemos nos bancos da escola - as invasões francesas, a fuga da família real, a semi-ocupação britânica pelas tropas de Wellington, as influências do liberalismo. Parece-nos trivial, desinteressante, entediante excepto para os amantes da poeira da história. É um sinal das nossas vistas curtas.

Por entre as entrelinhas desta obra encontramos frases inspiradoras, acontecimentos resumidos que dariam para muito conto, muito livro, muito cinema. O heroísmo dos militares portugueses que combateram contra, e a favor de Napoleão; um país ocupado, cujas autoridades subservientes não conseguem travar um povo que se levanta em armas; as histórias de guerra, de defesa impossível contra tropas superiores levadas a cabo por comandantes portugueses; enfim, todo um manancial de histórias que mereciam ser contadas, que mereciam uma nova vida, que dariam fôlego e fama a uma altura muito esquecida. Porque entre os frios relatos do historiador escondem-se momentos de ferro e fogo, histórias de coragem e subserviência dignas dos maiores romances.