quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Leituras

Guardian | Overriding interests Já ouviram falar de Myanmar? Ou talvez da Birmânia? É um país esquecido, uma larga floresta entre o Bangladesh, a Índia, a China e a Tailândia. É também um país que vive há décadas debaixo de uma sangrenta ditadura militar repressiva que trava uma guerra suja contra as etnias birmanesas que não se submetem às ordens governamentais. A Birmânia, ou Myanmar, como os generais que a regem insistem em lhe chamar, é um país onde Aung San Su Ki, prémio nobel da paz devido à sua luta contra o regime ditatorial, vive há décadas em prisão domiciliária - e ainda vive, presume-se, graças à projecção dada pelo prémio nobel. Outros opositores ao regime viram as suas vidas abreviadas. A Birmânia é também um país estratégico para a China e para a Índia - as economias dos dois gigantes asiáticos precisam dos mercados e do gás natural birmanês. No caso da China, o governo de Beijing pretende construir um oleoduto através da Birmânia que lhe permita importar mais rápidamente petróleo do médio oriente. A apatia internacional conjuga-se com os interesses económicos e a democracia tarda a chegar à Birmânia.

TSF | Ministério quer criar "professor-tutor" para 2º ciclo Mais uma das ideais brilhantes que volta não volta emanam dos píncaros de uma 5 de outubro tutelada pela abominável ministra e pelo seu inefável secretário de estado (conhecido por vává pelos amigos, entre os quais eu certamente que não me conto). Aproveitando o processo de Bolonha - a revolução silenciosa que está a mudar a paisagem do ensino superior português, e que vai alterar profundamente os graus académicos superiores, o ministério estende o método de ensino do 1º ciclo ao segundo. A ideia é criar um professor proficente em línguas, matemática, ciências e expressões que substitua os professores especializados que agora leccionam as várias disciplinas. O argumento de defesa está no eliminar dos ditos "traumas" da mudança de um professor no primeiro ciclo para dez no segundo. O verdadeiro argumento está na ideia de que se se paga a dez, porque não fazer as coisas de maneira a pagar só a um para fazer o trabalho dos dez? No papel, a ideia parece boa (e no papel todas as ideias são boas, tal como à noite todos os gatos são pardos) - criar um professor que passe grande parte das horas com a turma, co-adjuvado por professores de outras àreas. É um pouco à semelhança do 1º ciclo, onde o professor primário, o professor titular da turma, é responsável por leccionar todas as àreas, excepto aquelas que estão asseguradas pelos professores das expressões ou de inglês - coisa relativamente recente. Vai funcionando, à custa de uma enorme carga de trabalho sobre o professor do primeiro ciclo, que ultrapassa largamente o horário de trabalho lectivo e não-lectivo, e pelo carácter generalista e introdutório do primeiro ciclo do ensino básico. Digo vai funcionando, porque se não fosse o esforço e o empenho dos professores primários em escolas com poucas ou nenhumas condições de trabalho, a coisa não funcionava. Sob imensa pressão do ministério, que exige resultados, e dos pais e encarregados de educação, muitos dos quais consideram que a simples presença do menino na escola é o suficiente para passar de ano com uma boa avaliação, contestando imediatamente caso a opinião do professor - que, recordemos, é o profissional treinado para trabalhar com crianças e leccionar - não coincida com a sua (são casos que um pouco por todo o lado se começam a multiplicar).

Esta ideia do ministério, se aplicada (e só o será a médio prazo, porque implicará a reorganização dos próprios espaços escolares), vai implicar muita coisa: o repensar dos currículos do segundo ciclo, simplificando-os e reduzindo assim o número de conhecimentos adquiridos no final do ciclo; a formação de professores paus para toda a obra, que apesar dos esforços que sem dúvida irão exercer não têm formação especializada nas várias àreas que necessitam de dominar - com a consequente diminuição da qualidade do ensino. Como analogia, imaginem que iam ao dentista e saía-vos um médico de clínica geral com a broca na mão... o médico de clínica geral certamente que percebe de dentes, mas querem mesmo que seja ele a utilizar a broca? Os felizmente ainda poucos pais e encarregados de educação que substituem o trabalho efectivo dos filhos na escola pelas queixas e as ameaças sobre o professor titular para que os educandos progridam de ano vêm um novo campo de batalha aberto - o segundo ciclo, onde precisamente o facto de existirem mais professores permite que estas pressões sejam evitadas. O resultado final será mais um afundamento do sistema de ensino público. Por outro lado, o argumento apresentado é falacioso: a adaptação das crianças no 5º ano é pouco traumática e muito rápida, graças ao trabalho dos professores que percebem esse desfasamento e ajudam as crianças a adaptarem-se aos novos ritmos e aos novos horários. No que respeita à transição de ciclos, o momento verdadeiramente traumático está na transição para o terceiro ciclo - onde os alunos, habituados aos professores mais suaves e paternalistas do primeiro e segundo ciclos, esbarram com as exigências dos professores do terceiro ciclo, que exigem mais maturidade da parte dos alunos. Contra mim falo, que, a título de exemplo, no que respeita à minha direcção de turma sou um verdadeiro professor-galinha.

Não é que os correntes modelos sejam sacrossantos; muito há a alterar e a melhorar, especialmente ao nível dos métodos de ensino. Um bom começo seria o abandonar de teorias romanticistas propagadas por docentes de escolas superiores de educação que formam professores para trabalho no terreno mas cuja experiência prática de ensino com crianças é na maior parte dos casos nula - a menos que se contem com umas horinhas passadas a observar ou a experimentar uma qualquer teoria pedagógica avançada no âmbito de um artigo ou de uma tese de mestrado. Mas mais uma diluição do sistema de ensino é coisa que este país não precisa.

Cory Doctorow | Overclocked Cory Doctorow, escritor, conferencista e um dos super-bloguistas por detrás do Boing Boing, acredita nos novos modelos de direitos de autor. Acaba de publicar mais um livro dos seus interessantes contos de ficção científica, que pode ser adquirido nas livrarias, ou lido gratuitamente na internet.