domingo, 29 de janeiro de 2006

The Ring

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IMDB | The Ring (Ringu)
The Ring

Confesso que andei bastante tempo a fugir deste filme. O facto de ser apresentado como um remake de um filme japonês, e de ir já na enésima sequela, fazia-me pensar em The Ring como uma daquelas séries cinematográficas de terror cujo conteúdo entedia mais do que o que aterroriza. Quandi surgiu a oportunidade de ver o filme original, decidi arriscar. Ora vamos lá a ver, pensei eu, porque é que este filme japonês já é considerado filme de culto e inspirou remakes ao gosto americano.

Realizado em 1998 por Hideo Nakata, The Ring é um filme de terror aparentemente clássico. O enredo desenrola-se de forma totalmente previsível, perfeitamente dentro dos parâmetros clássicos do terror. Apesar disto, o filme consegue ser inquietante e surpreendente, o que é um louvor à capacidade criativa do realizador. The Ring é um filme simples, sem pretensões, que explora ao máximo os limites das convenções sem nunca sair desses limites. Superfícialmente, é igual a todos os outros filmes de terror, mas quando se penetra no filme, ficamos fascinados pela mestria com que o inquietante e o inesperado nos são servidos.

Um pormenor curioso de The Ring é a quantidade de informação que não nos é fornecida. Os porquês, os porquês dos acontecimentos e das ligações entre os personagens nunca nos são directamente explicados, o que ajuda à aura inquietante do filme. O filme nunca cai naqueles discursos explicativos que desmontam toda a história por detrás da assombração. Pelo contrário, o filme assemelha-se a um puzzle em que cada peça é revelada nos momentos mais inesperados e fica a cargo do espectador a montagem desse puzzle num todo coerente.

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The Ring acompanha sete dias na vida de Reiko Asakawa, uma jornalista curiosa que ao investigar uma lenda urbana sobre uma cassete de vídeo assombrada cujo visionamento leva à morte do espectador no prazo de uma semana acaba por visionar o conteúdo da cassete e fica, assim, amaldiçoada. Na sua tentativa de escapar à maldição, Reiko envolve o seu ex-marido numa luta para descobrir quem, e porquê, está a causar a maldição. As suas investigações levam-nos a perceber que estão a ser amaldiçoados pelo espírito de Sadako, uma jovem com talentos psíquicos que após ter sido assassinada se dedica a espalhar a sua maldade, vingando-se de todo o mal que sofreu em vida. A descoberta do cadáver de Sadako parece ter posto um fim à maldição. Reiko escapa com vida, mas no movimento mais surpreendente do filme, descobrimos que a maldição perdura. O espírito de Sadako é perfeitamente demoniaco e não se consola com uma sepultura. No arrepiante final do filme, Sadako sai de dentro de um televisor, matando de terror o ex-marido de Reiko. Esta cena é claramente inspirada no Videodrome de Cronenberg, uma influência que Hideo Nagata reconhece claramente.

The Ring apresenta este aspecto curioso, também presente em alguns filmes de Wes Craven ou na série Poltergeist: as assombrações aparecem mediadas através da tecnologia. O mal, ou o medo, o aterrorizante manifestam-se através da virtualidade da tecnologia. É, talvez, um reflexo do medo e da desconfiança que sentimos pelas tecnologias.

Simples, clássico e ao mesmo tempo profundamente inovador, The Ring é um filme que surpreende e merece bem o estatuto de filme de culto.