segunda-feira, 21 de novembro de 2005

Symphonie Fantastique



Symphonie Fantastique
Wikipedia | Symphonie Fantastique

Ter revisto o intrigante Shining foi também revisitar a inquietante música que kubrick escolheu para conferir ao filme aquela atmosfera tenebrosa e inquietante que o caracteriza. Kubrick parece ter escolhido a dedo algumas das mais assustadoras peças de música contemporânea. Mas se a audição da música de Bartok ou de Penderecki ganha contornos aterrorizantes conjugada com a iconografia tenebrosa do filme, há uma composição, uma sinfonia, que contém aquela que para mim é a mais aterrorizante combinação de acordes musicais de toda a música que conheço.

É a Symphonie Fantastique, composta por Hector Berlioz em 1830. A Symphonie Fantastique é uma obra puramente romântica - romântica como em romantismo, período artístico. Conta a história de um artista que, apaixonado, sonha com a sua amada, e sofre os delírios de quem sente amar sem ser correspondido. A divisão em quatro andamentos reflecte as várias fases do sonho do artista. No primeiro andamento, a música reflecte os anelos do artista que sonha com a sua amada, despertando dentro de si visões da mulher que apaixonadamente adora (o período romântico é fértil neste tipo de adjectivos). No segundo andamento, estamos num baile, nuam festa de sociedade em que o artista é incapaz de se alegrar, pois a sua alma só pensa na imagem da mulher amada. O terceiro andamento é bucólico: num campo onde pastores apascentam os seus rebanhos, o artista sonha com a mulher amada, mas a solidão entranha-se na sua alma e começa a duvidar da fidelidade da sua amada. No quarto andamento, o artista delira, após tomar ópio. Nos seus delírios, sonha que assassinou a sua amada, e é condenado à morte; o andamento termina com uma marcha solene até ao patíbulo.

O quinto andamento é o mais belo de toda a sinfonia. Neste andamento, o nosso artista delirante ainda sonha, sob o efeito do ópio. Sonha que acorda no cemitério, rodeado de bruxas e espíritos malignos que se reuniram para o sabbath. Toda a música é uma cacofonia de ruídos inquietantes. As bruxas chegam, falam, reunem-se, apontam, ameaçam, escarneiam, riem-se com as suas vozes agudas e penetrantes. Toda esta cacofonia prossegue em crescendo, até que se aproxima a meia noita. Aí, cai o silêncio sobre a assembleia dos danados. No movimento mais arrepiante de toda a sinfonia (e acreditem, sempre que o ouço sinto um arrepio na espinha), ouve-se um sino a badalar a meia noite. toca uma vez, e silêncio, um silêncio pesado e opressivo. Toca novamente, e começamos a ouvir um som profundo, que se aproxima, imperioso. As bruxas mantém-se num silêncio respeitoso; é o grande satã, que se junta ao conclave tenebroso dos malditos. A música é simplesmente arrepiante; arrepiante como arrepios na espinha, como a pele que se arrepia ao som da música.

Os artistas românticos aprofundavam as emoções. Elevavam o amor aos píncaros do idealismo e celebravam as trevas com as mais tenebrosas profundidades das chamas do inferno.