segunda-feira, 31 de outubro de 2005

Vésperas de Todos os Santos



O Dia dos Diabos
Wikipedia | Dia de Los Muertos
ACI Digital | Dia de Todos os Santos

Podemos não ter as tradições infantilo-arrepiantes dos All Hallow's Eve de origem céltica, mas temos algo talvez mais profundo. O dia de todos os santos é um dia de saudade e respeito pelos entes falecidos, o dia em que se vai ao cemitério arranjar e colocar flores nas campas dos entes queridos, para nos recordarmos que eles não estão esquecidos. Dos tempos de pobreza medievalista que imperaram no nosso país até muito recentemente, ficámos com a tradição de pedir comida durante o dia de todos os santos. Em algumas aldeias, sobrevivem algumas tradições que ligam cerimoniais escatológicos à protecção sobrenatural contra maleitas.

O nosso conceito de dia de todos os santos vem direitinho dos primeiros tempos do catolicismo, em que tantos santos e tantos mártires havia que não chegavam os dias do ano para os celebrar a todos. Criou-se, assim, um dia para celebrar todos os santos e, por arrastamento, todos os falecidos, em honra à sua memória.

Do sincretismo entre as milenares tradições pré-colombianas e o cristianismo imposto à força, surgiu a mais curiosa tradição do dia de todos os santos: o dia de los muertos mexicano. Nesses dias, entre 31 de outubro e 2 de novembro, os cemitérios mexicanos transformam-se num local de festa rija. Os parentes decoram as campas dos entes falecidos, criam altares recheados de flores, comida, bebida e até cigarros em oferenda aos defuntos. Festejando com eles o dia de todos os santos, convencem-se os espíritos do além a não saírem dos cemitérios e a não atormentar os vivos.

Toda a sociedade vive este espírito de festa da morte. As crianças comem doces manufacturados com as formas de caveiras e esqueletos. Figuras em papier-maché de tamanho natural reflectem a morte na vida: prostitutas, bandos de mariachis, toda a sociedade num espelho esquelético da vida.

Morte e vida misturam-se numa alegre celebração da vida. Um espírito muito diferente dos arrepios célticos anglo-saxónicos e da nossa solenidade misteriosa mediterrânica.