Gregory Benford, Larry Niven (2012). Bowl of Heaven. Londres: Titan Books.
Este primeiro romance de uma trilogia parte de uma premissa muito interessante. Uma nave humana que atravessa o espaço a velocidades relativísticas, em direção a um promissor planeta colonizável, depara-se com algo inesperado. O seu percurso cruza-se com gigantesco artefacto, propulsionado por uma estrela capturada. Alguns elementos da tripulação são acordados do sono criogénico para investigar, e deparam-se com uma gigantesca nave-mundo, uma semi-esfera de dyson habitada que sulca o espaço. Quando alguns elementos da tripulação desembarcam na superfície da nave, espera-os uma surpresa desagradável - os seres alienígenas que dominam a nave revelam-se uma civilização rígida, que vê nos humanos uma ameaça a exterminar.
O livro é essencialmente um grande romance-périplo. Benford e Niven, claramente, dedicaram imenso tempo a construir este detalhado mundo ficcional, e a narrativa espelha isso. Acompanhando os personagens, somos levados às vastas paisagens interiores de uma nave de escala incomensurável, que sustenta diferentes ecossistemas planetários e uma multidão de espécies alienígenas, entre animais a criaturas com inteligência e capacidade de uso de ferramentas. Apesar do brilhantismo da experiência de pensamento, a leitura torna-se um pouco penosa, porque sentimos que boa parte da ação do livro está lá apenas para que os autores possam explorar a especulação científica sobre biologia e evolução.
Deixam um pormenor curioso em termos sociais, colocando no topo da pirâmide uma civilização muito avançada, herdeira dos construtores da enorme nave, mas paralisada numa estagnação da qual não se apercebem. Procuram a manutenção do status, e todas as espécies e civilizações com que se depararam no seu longo périplo servem apenas para ser subjugadas e incorporadas no ecossistema da nave, ou eliminadas. Um equilíbrio mantido combinando força, tecnologia, manipulação social e engenharia genética que o encontro com os humanos irá afetar, de forma irremediável.
Apesar do brilhantismo do worldbuilding, o livro perde o ritmo com o óbvio deslumbre dos autores pelas suas especulações. É um romance-périplo, e confesso que por demasiadas vezes na leitura, tanto périplo, tanto olhar para os detalhes, se sentiu como cansativo. Apesar de alguma curiosidade em descobrir como as diversas tensões vão ser resolvidas ao longo da trilogia, a experiência de leitura do primeiro volume não me anima a ler os restantes.