E, mal dando por isso, reparo que faz hoje 20 anos desde que comecei a explorar a blogoesfera. A 31 de janeiro de 2005 saiu o meu primeiro post, sobre a minha obsessão da época, a filmografia de zombies.
Poderia ter começado por um hello world, ou uma declaração de intenções, mas isso nem pareceria eu.
Duas décadas de evolução, de altos e baixos da vida, de alegrias e tristezas, de sucessos e perdas. Com este espaço como constante na vida. Com a discisplina, que se tornou hábito, rotina, e agora essência para a manutenção da sanidade mental, de escrever aqui.
Não escrevo aqui para ficar famoso com as minhas críticas e comentários. Para mim, este espaço sempre funcionou como um diário de leituras e experiências, nada mais. Foi interessante iniciar estas lides nos tempos áureos da blogoesfera, quando este meio se afirmava como espaço de troca de ideias e discussão. Um mundo que as redes sociais se apropriaram, com os bons resultados que todos vemos (ironia, claro, a discussão e troca de ideias caíram a pique, as redes sociais oscilam entre a promoção descarada e os ataques de trolls e gente muito desocupada e furiosa com a vida, um ambiente tóxico que está a contaminar a cultura global). As redes tiveram a sua ascensão, algumas caíram, mas a blogoesfera menteve-se, discreta, o contrapeso de longo termo à vacuidade imediatista das redes sociais.
Será que daqui a vinte anos cá continuaremos? Não sei, tal como não imaginava, há vinte anos, que ainda estaria a escrever por aqui. Nós, malta da FC, apaixonados por foguetões e viagens ao espaço, adoramos sonhar os futuros, mas sabemos que, por muito que se especule, o futuro é essencialmente imprevisível. Parte do gozo é mesmo fazer essa viagem, e ir descobrindo as novas voltas que o mundo dará.
Sei que escrevo estas linhas num tempo em que é difícil manter a esperança. Assistimos ao alastrar da extrema direita populista, alicerçada no conservadorismo bafiento e que remexe os piores sentimentos da alma humana para garantir o poder a pessoas sem escrúpulos. Vivemos o desafio geracional, e perigo civilizacional, de lidar com as alterações climáticas, e não vemos grande esforço em resolver uma emergência que já se está a mostrar incrivelmente destrutiva (e há pior para vir). O fosso de desigualdades económicas e sociais agudiza-se. O progresso nos direitos humanos, sociais e laborais parece estar em regressão.
Apesar disso, cá estamos para lutar. Neste espaço, tenta-se dar um contributo para melhorar um pouco o mundo em que vivo.