Ed Brubaker, Sean Phillips (2024). Houses of the Unholy. Portland: Image Comics.
Podemos sempre contar com a dupla Brubaker/Phillips para nos contar brilhantes histórias policiais. Nesta, a dupla remexe numa velha história que nos mostra como as teorias da conspiração podem correr mal, recordando-nos do pânico satânico mediatizado nos Estados Unidos dos anos 80, uma bizarria de pura histeria colectiva onde psicólogos juravam a pés juntos que pacientes seus, crianças de idade muito tenra, estavam a ser usadas e abusadas em rituais de sacrifício satânico. Um pânico com consequências reais em falsas acusações, e crianças traumatizadas por memórias falsas.
É uma dessas crianças, hoje adulta, que seguimos neste bem urdido procedimental criminal. Sobrevivente traumatizada pelas falas memórias, vê-se enredada numa conspiração liderada por outro sobrevivente, este firme crente nas maldições satânicas, e que a quer usar para um sacrifício que abrirá as portas do inferno. Como sempre, uma estrutura narrativa impecável e um final que não estávamos à espera, ou seja, Brubaker e Phillips a fazer o que fazem bem.
Gordon Rennie, Mark Harrison (2004). Inferno. Lisboa: Vitamina BD.
Um divertido livro de FC militarista. Num futuro high-tech decadente, a União Europeia está em combate constante contra forças americano-israelitas, e a navegar as tensões com alianças asiáticas. Mas verdadeira guerra trava-se numa outra terra, uma realidade paralela hostil acedida através de uma anomalia quântica que arrasou a Inglaterra. Uma zona de morte, com soldados condenados forçados a sobreviver perante monstruosas criaturas alienígenas. Um inferno que poderá ter outra saída, para lá da morte. Livro claramente saído das páginas da 2000AD, faz o que pretende, divertir com um enredo de FC militarista, mas o estilo difuso do ilustrador leva as coisas a toda uma outra dimensão de expressividade.
Matt Kindt, Dan McDaid (2024). If You Find This, I'm Already Dead. Milwaukie: Dark Horse Books.
Matt Kindt faz aqui um belíssimo pastiche de literatura, ficção científica e banda desenhada. A história parece decalcada de outras obras (e é-o) - uma jornalista é enviada como membro de uma missão militar a um planeta violento, numa realidade paralela. Tudo corre mal, a periclitante base terrestre foi ocupada pelos alienígenas, e a jornalista é a única sobrevivente. Insere-se na cultura nativa, e revela a sua real missão - localizar o responsável pela violência e carnificina, que se revelerá ser um dos elementos da primeira missão terrestre ao planeta. Se estão a ver aqui laivos de Heart of Darkness (ou Apocalipse Now), bem, se lerem percebem que é quase decalcado. Mas Kindt também vai buscar inspiração à Sci-Fi pop militarista, e até faz vénias aos filmes japoneses onde Kaijus se defrontam. O estilo gráfico de McDaid segue esta linha, e vai beber diretamente ao psicadelismo da BD francesa de ficção científica dos anos 70, há no livro claras inspirações em Mézières ou Druillet.