Julie Wosk (2024). Artificial Women: Sex Dolls, Robot Caregivers, and More Facsimile Females. Bloomington: Indiana University Press.
Uma visão sociológica da forma como interpretamos o feminino na tecnologia. O livro cruza a ficção científica literária, cinematográfica e televisiva com os correntes desenvolvimentos na robótica e Inteligência Artificial, analisando a perpetuação de esterótipos de género através das projeções ficcionais.
A forma como entedemos e imaginamos os robots entrecruza-se com visões do feminino, especialmente em ideias de suavidade, subserviência e disponibilidade sexual. Algo que é muito visível no campo das bonecas sexuais, que agora são robotizadas e, graças à IA, apresentam simulacros de personalidade subserviente. Em menor grau, estes aspetos também estão presentes noutras vertentes, como a robótica aplicada aos cuidados sociais ou os assistentes digitais. Há razões sociais e culturais para que as Siri, Alexa e outos interfaces de IA tenham generalizado o uso de suaves vozes femininas, que este livro analisa muito bem.
A lente da ficção é uma forma interessante de analisar estas questões, uma vez que as obras ficcionais permitem olhar para modos, comportamentos e atitudes que, sob a capa ficcional, se tornam mais empáticas. Aí o livro vai bem a fundo, e mostra como as representações de seres artificiais (robots ou IAs espelham pressupostos e preconceitos, mas também como é possível desafiar a sua aparente inevitabilidade através da desconstrução, fazendo-nos olhar para os reversos da projeção de estereótipos.
Este ensaio está mais na ótica da cultura do que na tecnologia, mas isso não o torna menos pertinente. A tecnologia não vive isolada, não está isenta dos preconceitos de quem a desenvolve, e o seu cruzamento com as forças de marketing que a trazem aos mercados exacerbam estes aspetos.