domingo, 4 de dezembro de 2022

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Esta semana, destaca-se a adaptação para televisão de The Peripheral, listas dos melhores livros para o outono, e o regresso do Cinepop. Olha-se para o ennui tecnológico, geração de imagens por IA vista sob um ponto de vista sociológico, e uma versão totalmente gráfica do Makecode para programar Micro:bit. Reflete-se sobre o papel das redes sociais na arte, as oportunidades perdidas da crise energética, e a tendência de dar nomes humanos a animais de estimação. 

Ficção Científica e Cultura Pop

Our Navy’s New ‘Flying Dreadnaught’: Aventuras passadas.

How The Peripheral Hopes to Find the Human Heart of High-Tech Sci-Fi: Confesso que tenho uma relação deprimente com os mais recentes livros de William Gibson, é um escritor nada condescendente com os seus leitores. Mas vale a pena ser lido, é das vozes mais interessantes da Ficção Científica contemporânea. Esta adaptação de um dos seus romances para série está muito prometedora. 

Burroughsania, Vol. 1, No. 2 (May 1956) Moorcock‘s earliest ventures were fan: Os escritos de um Moorcock adolescente, num fanzine sobre as ficções de Edgar Rice Burroughs que criou. Há um certo encanto proto-internet neste tipo de edições escritas à máquina e fotocopiadas para grupos de interesse. 

Halloween: «The Rocky Horror Picture Show», no Porto: Que sortudos, ó portuenses. Ver este filme no cinema é mais do que uma visualização, é participar num ritual celebratório da deliciosa estranheza da cultura geek. Não se esqueçam de memorizar as repostas, e levar baralhos de cartas. 

WIRED’s Picks for the 15 Books You Need to Read This Fall: Boas sugestões de leitura entre não ficção e ficção científica. 

O Cinepop volta com pesos-pesados: Suspeito que os meus domingos vão ser passados por Lisboa, no antigo cinema Roma. O programa do Cinepop deste ano promete. E se é verdade que estes filmes são conhecidos, facilmente visíveis em dvd ou streaming no conforto da nossa casa, reparem, ir ao cinema para sessões especiais não é ir ver um filme, é participar em rituais de celebração da cultura geek.

Hitting the Books: The fall 2022 reading list: Uma lista curta, mas com sugestões de peso. As de ficção científica são muito tentadoras. 

What is a "problem story" in Science Fiction?: Um dos mais clássicos artifícios literários no género, e também representativo de um lado mais didático da Ficção Científica. 

Corto Maltese: Mū: Confesso que tenho uma enorme dificuldade em aceitar os novos livros de Corto Maltese. Por uma razão única: Corto era um personagem intimamente ligado ao traço, e à vida, de Hugo Pratt, não é o tipo de personagem aberto que seja maleável e utilizável por outros criadores.

The Alluring Aroma Of Old Books: Não sei se usaria um perfume com aroma a livros antigos. Mas que é um dos cheiros a que não resisto, disso não há dúvidas. Nada como aquele odor quando se abre um tomo antigo (e, confesso, apesar de bibliófago convicto, não aprecio o cheiro a tintas e plastificação de livros cartonados novos).

Amadora BD 2022 - PBDA: os vencedores: Os livros distinguidos com os prémios do Amadora BD.

Exposição da arte de Jayme Cortez: Confesso, a exposição dedicada a este ilustrador brasileira de origem portuguesa é das que mais curiosidade me desperta no Amadora BD deste ano. E, como bónus, a Polvo vai editar alguns livros deste autor. 

Was a Victorian Illustrator the Godfather of the Graphic Novel? A New Exhibition of Aubrey Beardsley Explores the Question: Beardsley foi um desenhador brilhante. Agora, daí a ser um precursor da novela gráfica, é esticar um bocado o conceito.

History’s First Named Author And What She Achieved: Fascinante, descobrir que o primeiro registo de um autor de obra literária nos vem da antiga Mesopotâmia, era uma sacerdotisa, e os hinos que escreveu sintentizaram diferentes religiões mesopotâmicas.

The Best Books of 2022 So Far: Preparem-se, que a lista é longa. Muito longa. Pende naturalmente para o mainstream, mas está recheada de leituras muito apetecíveis.

Tecnologia

Photo: Recordam-se quando isto era a noção de imediato?

AI tool colorizes black-and-white photos automatically: Uma ferramenta gratuita que usa algoritmos para colorir fotos a preto e branco. 

We used to get excited about technology. What happened?: Um texto tremendo, em parte sobre o ennui das constantes novidades técnicas. Mas, essencialmente, um apontar de dedos à excessiva comercialização, aos excessos do marketing que explora até à exaustão os conceitos de inovação, dos ciclos de obsolescência que se completam com novo hardware pouco melhor do que o anterior. De facto, a tecnologia perdeu o lustre excitante. Reparem, pensemos num dos atos mais comuns: comprar um telemóvel, que passou de entusiasmo a um "bolas, lá vou eu ter de importar dados e configurar um novo telemóvel, que chatice" (sim, exatamente o que sinto sempre que mudo de dispositivo).

Record Labels Say AI Music Generators Threaten Music Industry: Estou a rir-me com esta. Os geradores de música por inteligência artificial são um sonho orgásmico da indústria musical. Já imaginaram? Produção automática de música, adaptada a gostos de consumo, sem ter de pagar a músicos e compositores? O verdadeiro problema das editoras tem a ver com os dados que treinam os algoritmos, e querem receber direitos de autor por isso. Desde que a internet surgiu, que a indústria musical se transformou em expert de legislação sobre propriedade intelectual. 

Adobe Demos a Prototype Tool That Can Uncrop Photos Using AI to Recreate What's Missing: Isto não é novidade para quem já experimentou o que o Dall-E faz. O interessante é ver como a Adobe está atenta a estas tendências tecnológicas, e as incorpora depressa no seu software. É assim que o Photoshop se mantém relevante na era das imagens geradas por inteligência artificial. 

The Future of Art Censorship Is Being Decided Without Artists: E o que é que isto tem a ver com tecnologia? Tudo, porque são as políticas de moderação de conteúdos desenvolvidas pelas empresas das áreas tecnológicas que têm este impacto na divulgação da arte. Colocando a questão de forma muito crua, para os algoritmos de moderação de conteúdos das redes sociais seios são seios, quer sejam de imagens pornográficas, quer sejam de obras de arte, e são igualmente censurados. Isto é péssimo para artistas mais transgressivos, cujas obras despertam a ira dos algoritmos. 

This Wacky AI Tool Will Finish Your Artwork for You: Uma divertida aplicação de stable diffusion, que gera imagens a partir dos nossos desenhos. 

Older digital: Pois. Percebo, também sinto o mesmo, também recorro cada vez mais a lembretes. Mas não sinto isto como sintoma de degenerescência, antes uma forma de gerir o crescendo de múltiplas solicitações por via digital. Um problema que aflige quem assume múltiplas responsabilidades laborais e não desiste de procurar novos projetos. 

Retrofitting Robots: Uma questão interessante. Se do ponto de vista de engenharia faz sentido construir sistemas robóticos de raíz, nem tanto do ponto de vista das aplicações industriais. Aí já existem sistemas de produção, onde faz mais sentido adaptar robots, especialmente nos serviços. 

A search engine for shapes: É um nicho, mas um nicho importante, quem trabalha com 3D conhece a dificuldade de encontrar o ficheiro mais adequado para um projeto.

AI-generated selfies could be the next Snapchat filters: Confesso que usar os geradores de imagem para interpretar fotos pessoais minhas tem sido uma das formas de uso que mais gozo me dá, e já faço isto há dois anos. É giro ver esta forma de uso a virar tendência. O que me atrai, é ver o meu rosto reconstituído e interpretado por meios automáticos.

AI Art Is Soft Propaganda for the Global North: Uma perspetiva diferente sobre imagens geradas por IA, focada na sociologia e política. E que também aponta para o erro em classificar de arte qualquer imagem gerada por IA, esquecendo que a criação artística é muito mais complexa do que o entusiasmo pelas produções destes algoritmos (o que não significa que não possam ser usados para criar arte, mas esse tipo de reflexão anda longe da discussão sobre estes algoritmos).

How The Art-Generating AI of Stable Diffusion Works: Uma explicação resumida, mas concisa, da forma comos os geradores de imagem produzem resultados.

A history of the horny side of the internet: E, de repente, lembrei-me de um artigo na Wired dos longíquos anos 90, que me ensinou que nos primórdios da massificação do online, a pornografia foi um dos elementos mais fundamentais para a inovação tecnológica. Nos anos 90, era o que impulsionava o desenvolvimento de tecnologias rápidas e estáveis para imagem, vídeo e multimédia online. Ou, sendo mais específico, as tecnologias que possibilitaram o Youtube ou o TikTok começaram a ser desenvolvidas para se poder ver vídeos marotos online. Mas este artigo toca noutro tópico, na importância da internet como ponto de encontro e formação de comunidades.

MicroCode for micro:bit: Uma ferramenta útil para ensinar programação aos mais novos - um editor totalmente visual para programar placas micro:bit.

An Amateur’s Guide to Using AI Image Generators: Devo confessar que é divertido ver os críticos de arte a experimentar e a dar voltas à cabeça para perceber esta novidade que é a geração de imagem por inteligência artificial.

Twitter is now an Elon Musk company: Suspeito aqui o início visível do declínio desta rede social. Que, diga-se, nunca percebi muito bem para que servia e provavelmente o seu peso mediático devia-se ao ser muito usada por jornalistas, que a viam como cerne da sua bolha de informação. Estou curioso, alguns projetos com que colaboro a nível europeu têm uma forte predileção pelo twitter como ferramenta. Como será que irão reagir, agora que a rede é detida por um bilionário americano que não é conhecido por ser uma pessoa razoável, e que vai fazer dela o que lhe apetecer?

A Collection Of Websites That Look Like Desktops: Ah, nostalgias.

Ya no miro la ficha técnica a la hora de recomendar un teléfono. Lo más importante no se ve fácilmente: Dicas que nos mostram que, na hora de escolher um telemóvel, os melhores indicadores não são os mais óbvios. 

Modernidade

Jack Gaughan: A ilustração para uma capa de fantasia que foi apropriada pela internet como meme.

How Social Media Is Changing How We Engage With Art: E, por mudar a forma como encaramos a arte, desta vez não se está a falar das filas de turistas para tirar fotografias para redes sociais às obras icónicas de museus, ou de espaços museológicos já concebidos a pensar no instagram (sim, isso existe, e até os mais venerandos museus sentem essa tentação). Fala-se aqui dos acasos, das redes sociais como espaços onde ainda se pode descobrir coisas interessantes, no meio de tanto discurso banalizado ou anúncios.

The World’s Oldest Map of the Stars, Lost for Thousands of Years, Has Been Found in the Pages of a Medieval Parchment: Uma história fascinante da arqueologia literária. Análises a manuscritos que reutilizaram pergaminhos mostram os textos anteriormente escritos. E, entre eles, uma obra de Hiparco que se julgava perdida, um catálogo de estrelas e observações celestes.

Europa ha conseguido que el gas le sobre. A cambio, está destrozando el liderato de las renovables: Os custos da crise energética provocada por a Europa, com a guerra na Ucrânia, ter acordado e percebido que a excessiva dependência da Rússia foi uma péssima ideia, não são apenas financeiros. Na corrida para assegurar um inverno sem dificuldades energéticas, é o ambiente, e as energias renováveis, que perdem. 

The Myth of Pegasus and Bellerophon: Uma história de heróis e hubris.

The AI Halloween Art of Your Nightmares Is Here: Divertimentos tenebrosos com erudição artística e geração de imagem. 

Tras dos años de interminables retrasos y sobrecostes, la gran crisis de los contenedores encarrila su fin: Uma das consequências da pandemia, a crise logística que empatou os transportes marítimos parece estar a desanuviar. Mas isso não é necessariamente uma boa notícia em termos económicos, a diminuição dos bloqueios em portos está relacionada com menores investimentos na importação de bens, ou seja, com as crises inflacionária e energética, os operadores económicos estão a diminuir o comércio global. Ou seja, estamos mergulhados em mais uma crise do capitalismo, com as correspondentes espirais de empobrecimento. 

Corpos e geografias da criminalidade nos Relatórios Anuais de Segurança Interna: Uma interessante análise aos relatórios de segurança, que mostra uma evolução da linguagem para se mostrar mais sensibilidade étnica, mas na verdade a manter os mesmos pressupostos. Ou seja, hoje não falamos de criminalidade acentuada relativa a etnias específicas, mas sim de zonas geográficas de criminalidade acentuada que, coincidentemente, são habitadas por etnias específicas. O verdadeiro problema está no ligar crime e etnia, esquecendo que o crime tem origem em condições sociais de pobreza e exclusão. 

To change our future, we should change how we teach history to children: Aprender história na escola de formas que não reflictam enviesamentos ideológicos ou culturais, ou que mostrem as complexidades das relações históricas? Por exemplo, no caso português, pensando numa das ideias mais entranhadas, a da importante benevolência dos Descobrimentos, o dar novos mundos ao  mundo, sempre celebrado pelo lado de aventura, enaltecimento patriótico e exploração cultural, mas raramente sob o ponto de vista dos povos africanos, asiáticos e ameríndios, para os quais o terem sido descobertos foi trágico.  Note-se que Harari não está a falar da investigação histórica, que trilha muito bem estes caminhos tortuosos, mas sim a história enquanto componente da formação pessoal numa sociedade democrática. 

Cinco libros clásicos de origami geométrico llegan al dominio público, descargables gratis en PDF: E, de repente, deu-me uma vontade para raptar a impressora (2D) da escola e cancelar todas as tarefas que tenho pendentes. 

The Pet-Name Trend Humans Can’t Resist: Culpado, que a minha cadela também tem um nome humano. Pior, quando leio este parágrafo: "Nowadays, you could probably “go to a playground and shout ‘Alice!,’ and perhaps both dogs and girls would come rushing to you”. Por aqui, percebem o nome dela. Piadas à parte, é uma tendência que mostra a forma como integramos cada vez mais os nossos animais de estimação como membros das nossas famílias.

This Close-Up of an Ant’s Face Will Scar You Forever: De facto, é o tipo de rosto que só uma mãe consegue achar bonito.

Why I think an invasion of Taiwan probably means WW3: Aplicar teoria dos jogos às possíveis intenções chinesas sobre Taiwan não é uma perspetiva animadora. E, ainda mais desanimador: neste século XXI, a humanidade enfrenta desafios temíveis, a começar pelo aquecimento global e alterações climáticas, sem esquecer o combate às desigualdades e a uma pandemia que, apesar de fingirmos, ainda não terminou. E o que é que andamos a fazer? A mergulhar cada vez mais em guerras e militarismo absurdo.