quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Summerland


Hannu Rajaniemi (2018). Summerland. Londres: Gollancz.

Um pouco por acaso, como consequência da descoberta da rádio, a Inglaterra descobre todo um novo continente por colonizar: o além. Summerland é a cidade dos espíritos, o nexo de um vasto território, onde o espírito dos falecidos vive pós-vidas muito similares à que levavam enquanto vivos. Mas a descoberta destes territórios espelha mais do que o conhecimento da vida espiritual. A tecnologia altera-se, permitindo comunicação e interação com o mundo do além. Espíritos frequentam naturalmente o mundo dos vivos, e as energias etéricas permitem algumas tecnologias, especialmente militares. Mas a maior consequência é social: imaginem um mundo em que se sabe que a morte não é um fim, e que depois de mortos, os espíritos podem continuar tão interventivos e influentes na vida terrena como quando o eram em vida.

Estes novos territórios trazem consigo as velhas disputas, e é esse o cerne de Summerland, um intenso romance de espionagens, duplicidades e traições. Que nos levam pelo lado mais direto das lutas entre potências, entre o império britânico e os soviéticos usando a Espanha como território de disputa. Mas que na verdade se centra sobre o grande mistério das terras do além. Se todos podem continuar as suas vidas após a morte, porque é que em Summerland não se encontram vestígios de outros passados e civilizações, ou espíritos milenares? Haverá transcendência, ou algo mais violento que ameaça a eternidade espiritual?

Summerland é um daqueles romances que parte de uma fantástica premissa, daquelas que surpreendem e fascinam. A execução, é que nem por isso. O cruzamento de ficção especulativa com o romance de espionagem dá-nos um livro que apesar de interessante, e fascinante nalguns aspetos, não cativa muito em termos de personagens e enredo principal. Como leitor, intrigou-me mais os mundos de Summerland do que a bizantina história de espiões, traições e conspirações em si.