Alex Raymond (1975). Flash Gordon: A Guerra dos Cibernautas. Lisboa: Agência Portuguesa de Revistas.
Não esperemos uma obra de grande profundidade. Isto é ficção pulp pura, criada para satisfazer o entretenimento comercial, e não como obra influente de ficção científica. Faz parte do género, é a vertente simplista, de FC como mera aventura usando a sua iconografia como adereço, que hoje é representada pelo cinema e séries televisivas, mas que outrora alimentava o imaginário dos leitores de revistas de ficção.
Flash e Zarkov são destacados para investigar o desaparecimento de satélites avançados terrestres. Vão deparar-se com um planeta errante, que viaja pelo espaço, um local de tecnologias fabulosas. Por exemplo, três sóis artificiais orbitam o planeta e mantém as condições de vida. Mas o planeta não é um paraíso, antes o oposto. Está continuamente devastado por uma guerra infinda, que opõe as duas sociedades planetárias numa luta sem quartel. Uma guerra devastadora, mas não sangrenta, uma vez que as batalhas são travadas por armas automatizadas e controladas ciberneticamente (o nosso conceito de drone militar tem raízes na FC clássica). Outro pormenor, as sociedades evoluíram para que os homens se tornassem programadores cibernéticos, com alterações fisiológicas cerebrais, mas as mulheres mantiveram a beleza esbelta e tornaram-se as líderes militares. Antes que pensem que isto é uma curiosa reflexão sobre sociedades futuristas, recordem o público alvo destes livros pulp, Flash tinha sempre de se ver a braços com beldades estimulantes do imaginário dos jovens leitores.
O interessante neste livro é não terminar num final feliz. O aventureirismo de Flash e a genialidade de Zarkov combinam-se para procurar uma solução que coloque um fim na absurda guerra civil, combatida há há tanto tempo que ninguém se lembra do que a despoletou. Quase conseguem, mas o ódio entre facções está tão entranhado que a paz fugaz depressa degenera em novo conflito. Só resta aos heróis escaparem-se deste planeta errante, com o mistério resolvido.
Produto típico de ficção científica pulp, sem grande esforço conceptual. Mantém o ritmo frenético de constante suspense requerido deste género literário. Lê-se não como clássico, mas como representativo da evolução do lado pop da ficção científica. Estruturalmente, não é muito diferente das sagas televisivas que hoje empolgam os fãs do lado mais visual do género.