domingo, 26 de junho de 2022

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Esta semana, destacamos uma raridade bibliográfica digitalizada, antevisões intrigantes da Marvel e o regresso de Mi Tagawa aos leitores portugueses. Fala-se de Inteligência Artificial, de histórias da história da computação, e de uma nova rede social que nos desafia a largar os artifícios. Olha-se para o NFT de Madonna, o uso de psicotrópicos pelos incas e os curiosos indícios do Lago dos Cisnes.  

Ficção Científica e Cultura Pop

[no title]: Do steampunk original.

Semiotext(e), 5(2): SF (1989) [EN, IT]: Há que agradecer ao Monoskop esta preciosidade, uma versão digital da lendária antologia literária de ficção científica vinda da editora que introduziu a filosofia radical francesa nos estados unidos. Impossível de encontrar a preços de vencimento de professor, por isso vai mesmo ter de ser a versão digitalizada.

Neil Gaiman & Armando Iannucci Part Of Amazing August Marvel Comic: A Marvel anda a preparar mais um mega-evento (inserir bocejos)? Ou será um conjunto de one-shots? Mas ter Gaiman envolvido aguça a curiosidade.

Dave McKean Working On Reworked, Remade, Recut Movie, Caligula: Isto soa-me extremamente interessante, se bem que não para todos os gostos. Se o filme original já era polémico, imagino que uma nova versão, não um remake, um restauro com adição de cenas animadas a partir de fotografias e desenhos do realizador, seja também algo que levante sobrancelhas. E, estando McKean envolvido, será também surreal, belo, cativante e inquietante.

Shards of Earth, mucho hype y poco lerele: Venceu um hugo, e é um dos típicos worldbuildings de Tchaikovsky, implacável, quase surreal e vastíssimo. Mas percebo a crítica, o lado comercial da ficção científica impõe este irritante modelo das trilogias, que esticam as boas histórias para enchimento infindo de páginas.

Life As A Book Publisher In Wartime Ukraine: Como é manter uma empresa cultural, em plena guerra, com colaboradores dispersos pela europa, armazéns debaixo de fogo, sem acesso a materiais. Mas um lado positivo, o interesse global pela cultura ucraniana, que se traduz na maior visibilidade internacional dos seus autores.

Get a Look at a Wild, 40-Year-Old Unseen Grant Morrison Sci-fi Comic: A surpresa seria se algo saído da cabeça deste escritor não fosse wild.

Literary Horror Books, recommended by Sue Rainsford: Cinco recomendações de horror literário, entre autores clássicos e recentes.

Peter Greenaway, Cinema’s Most Playful Post-Structuralist: Recordar o trabalho do realizador que é dos maiores estetas do cinema do final do século XX.

A Raposa e o Pequeno Tanuki 3: Ai meu deus, mais uma dose de pura fofura com o traço delicioso de Mi Tagawa. Perdoem-me, mas não resisto, estou rendido a esta série. Como não adorar quer a simpática visão das mitologias, quer os desenhos adoráveis?

You’ve Heard of Wordle, But Have You Tried “Artle”?: Oh my, mais uma distração erudita? Será que me atrevo?

Tecnologia

Gary Norman: Coisas do rock operático.

The Next Version Of Authenticity Online: BeReal?: Os meus alunos já me falaram nisto (nota: os de 13 anos). A BeReal é a antítese das redes sociais, o desafio é publicar o que se faz, em modo aleatório, uma vez por dia. O oposto da aparatosa curadoria dos influencers e trends, com todos os seus artificialismos. 

Quem educa a Inteligência Artificial?: É importante perceber, debater e agir, esta tecnologia não pode ficar apenas nas mãos de governos e empresas. A cidadania no século XXI passa por isto, por encarar de frente os problemas trazidos pelas tecnologias.

Scientists Use Gene Editing to Create Mutant Cockroaches In Breakthrough: Eh lá, pensemos um bocadinho, queremos mesmo mexer no ADN de criaturas capazes de sobreviver a holocaustos nucleares? A ficção científica já nos mostrou no que isto poderá dar. Pensem "planeta dos macacos", mas com baratas inteligentes, descendentes das nossas experiências CRISPR. Não resisti à piada, mas fora de brincadeiras, isto mostra o enorme progresso das ciências biomédicas.

Esto lo cambió todo: el software más revolucionario de la historia según los editores de Xataka: Que programas foram verdadeiramente revolucionários, na história da computação? Sem grande surpresa, parte das respostas olha para a capacidade organizativa e de gestão de dados das folhas de cálculo.

Superpainting: the Story of Computer Paint Systems: Uma intrigante visão dos primórdios dos gráficos digitais, que nos são tão essenciais hoje, mas que na sua génese, atraíam um certo desprezo dos engenheiros.

NFT Pioneer Olive Allen Wants to Introduce the Art World to the Metaverse. Her Vision Looks Nothing Like Zuckerberg’s: Recordar que é possível conceber espaços virtuais muito longe da estética desenxabida que o criador do Facebook quer impor como o futuro que todos desejamos.

The AI and the Tree: James Bridle, como sempre muito certeiro, a recordar-nos do que precisamos exatamente dos sistemas de IA. Não gadgets supostamente inteligentes, mas sistemas de apoio à nossa capacidade criativa. Também muito certeiro na confusão entre "produção de imagens" e "criação artística" que alimenta o corrente deslumbre com algoritmos de criação de imagens, vistos como criativos quando de facto nada disso se passa.

It Takes 2 Clicks to Get From ‘Deep Tom Cruise’ to Vile Deepfake Porn: Sem grande surpresa. Estes algoritmos podem ser aplicados a diversos tipos de conteúdos, e a combinação da perversidade humana com a regra 34 é inesgotável.

Royal Mail Is Doing the Right Thing With Drone Delivery: E para que serve a entrega via drones? Aqui, ela é muito útil, como forma de assegurar serviços regulares de correios em zonas muito remotas.

Kids and Us: the Story of Smalltalk: Confesso que desconhecia que o Smalltalk tinha sido originalmente concebido por Alan Kay como linguagem de programação para crianças. Claramente, tenho de ir analisar o trabalho deste investigador e pioneiro da computação moderna.

Sea Change: Os dados são o novo petróleo, diz o chavão, e África é a nova mina das stacks. Mas para isso, é preciso reforçar a conectividade, e aí entra o forte investimento em cabos submarinos que ligam o continente africano à europa (onde Portugal é um dos pontos-chave de entrada) e américa do norte.

The Problem with Blaming Robots for Taking Our Jobs: O problema é que é uma explicação simplista, que distrai com o argumento de uma suposta ameaça tecnológica os crescendos de desigualdade. 

The Little Big Dogs of Invention: É típico, na história da tecnologia. Invenções que mudaram o mundo, investigadas sem sucesso por grandes nomes e instituições, olhadas com enorme descrença, mas desenvolvidas por criadores que, aparentemente, não receberam a mensagem que não era suposto inventar essa tecnologia.

The Internet Origin Story You Know Is Wrong: Centrar as origens da internet no desenvolvimento da Arpanet é uma simplificação extrema, que deixa de parte outros projetos, outros sistemas. Como os BBS, fóruns digitais que, antes da internet se democratizar, eram o principal foco cultural online.

Reaching Anew: the Story of the First Portable Computer: A profundidade das contribuições dos laboratórios Xerox Parc é enorme. Praticamente todos os grandes passos da tecnologia digital, o interface gráfico, rato, até computadores portáteis, nasceu com os seus investigadores.

Modernidade

The Art Sinner: Estas capas de livros são uma delícia. Já o seu interior, nem por isso.

After 30 years, McDonalds leaves Russia "for good": Recordo as imagens televisivas do primeiro McDonalds em Moscovo, com as filas de russos em convulsão pós-comunista ansiosos por saborear os ícones culinários do capitalismo selvagem. Uma história que termina com este estertor arcaísta, mas mortífero, dos imperialismos à século XIX.

Inca priests used natural antidepressants for nefarious purposes: Se se impressionam com os relatos dos sangrentos rituais Incas, e da aparente alegria dos sujeitos à violência ritual, a resposta passa por isto: cocaína e psicotrópicos.

How I Trained My TikTok: Dá trabalho, mas podemos treinar os algoritmos que analisam a nossa pegada digital para determinar os conteúdos que nos mostram.

Madonna Releases Extremely Explicit NFT Collection: Vá, não é tão explícita quanto isso (embora talvez o seja para a sensibilidade americana). Mas é um pouco, como dizer, foleira. Cringe, mesmo. A curiosidade levou a melhor e fui ver os NFTs da colaboração Madonna-Beeple, e fiquei surpreendido com o mau gosto estético daquilo. São visões de maternidade, criadas com a sensibilidade de adolescentes com excessos hormonais, com um estilo 3D semi-realista num visual de princípios dos anos 2000. Talvez a melhor comparação são aqueles concursos literários muito amadores, com temas supostamente elevadíssimos mas na verdade bem batidos, que se enchem de aspirantes a escritor que procuram elevar ao máximo a sua prosa. Fez-me recordar a fan-art criada no Bryce 3D, partilhada no Deviant Art cerca de 2007.

US Navy To Scrap Its Entire Fleet Of Freedom-Class Combat Warships Because Their Technology Is Already Obsolete: Apetece dizer qualquer coisa sobre reutilização, reciclagem, sustentabilidade, ou comentar o absurdismo das despesas militares. Apesar de, como as pulsões da história contemporânea nos mostram com os autoritarismos e o crime de guerra russo, se vis pacem, para bellum (sim, podemos ser progressistas e pacifistas, mas compreender que o mundo é complexo e há muitas forças obscuras em jogo, temos de estar preparados para defender a liberdade e o progress).

Scientists Discover Nearly 1 Billion-Year-Old Organisms, Possibly Alive: Note-se o possivelmente, nestes vestígios de organismos preservados há milhares de milhões de anos. A vida encontra sempre caminho.

If Russian State TV Suddenly Starts Playing “Swan Lake”, Look Out: Intrigante, a música do bailado como uma espécie de sinal social que permite aos russos dizer e ouvir o indizível.