Grant Morrison, Liam Sharp (2020). The Green Lantern: Season Two, Vol. 1. Nova Iorque: DC Comics.
Quando vi Grant Morrison aos comandos de um personagem de charneira da DC, perguntei-me que raio de processo decisório foi feito pelos gestores criativos da editora. Com a imagem pública abalada por um muito mau filme, talvez porque Morrison daria um abalo que restaurasse a credibilidade da personagem. Porque deste argumentista, nunca podemos esperar o expectável. Ou, colocando de outra forma, sabemos que podemos esperar abordagens surreais e psicadélicas, muito afastadas do mainstream dos comics.
Foi exatamente o que Morrison fez, libertou os seus algoritmos de psicadelismo surreal no personagem, de forma minimamente legível, e explorou algo que parece muito óbvio nas aventuras de um agente de uma força policial que patrulha o universo conhecido: o lado cósmico, de choque com o alienígena. O resultado é um constante tom de space opera surrealista, onde um Hal Jordan sempre relutante em regressar ao seu planeta natal enfrenta os mais estranhos desafios. Quão estranhos? Vão desde isolar uma força usurpadora do poder dos Lanternas Verdes num universo paralelo para manter a ordem na realidade principal, a enfrentar inesperados testes para treinar novos recrutas para a força, ou enfrentar entidades de universos paralelos desesperadas por recuperar os seus animais de estimação, afetados por experiências aeronáuticas com motores exóticos (pois, é Morrison, o que esperavam?). Ao longo da temporada, Morrison representa Hal Jordan como um personagem maior que si próprio, ignorando a sua humanidade para se dedicar fielmente à missão de polícia espacial.
Grant Morrison, Liam Sharp (2020). The Green Lantern: Season Two, Vol. 2: Ultrawar. Nova Iorque: DC Comics.
Morrison encerra a sua temporada à frente de Green Lantern montando o palco para as temporadas seguintes - em que o titulo está focado nas aventuras de novos Lanternas Verdes, e Hal Jordan afasta-se. No final de Morrison, o universo está perante uma guerra estranha, onde os opostos se tentam aniquilar, e apenas a personalidade fragmentada de um herói sempre em conflito com os seus múltiplos papéis é capaz de compreender que uma guerra de opostos se combate com a percepção de que diferentes fragmentos unem-se num todo. Um toque de sabedoria hermética, a encerrar a temporada de Grant Morrison como argumentista de Green Lantern. Sempre execionalmente acompanhado pelo ilustrador Liam Sharp, que deu vida ao surrealismo puro do escritor.
Peter Calloway, Alex Shibao (2019). The Last Space Race Vol. 1: Pale Blue Dot. Aftershock Comics.
Quando um objeto estranho, que tudo aponta ser uma nave alienígena, surge na orla do sistema solar, os governos globais viram-se para um empresário, o único que se dedica a desenvolver tecnologias espaciais avançadas para cumprir o seu sonho de ir a Marte. Em segredo, é organizada uma missão para contactar os alienígenas, mas apesar de todos os cuidados de segurança, há um sabotador a bordo. Que quase consegue destruir a nave, que mesmo assim parte em direção ao seu objetivo. Argumento com ideias interessantes, mas uma história demasiado decalcada de outras similares.
