Esta semana, destacamos o futuro comic de André Araújo, o lançamento televisivo da Fundação de Asimov, e o regresso de Octobriana. Fala-se do robot de Musk, inteligência robótica emergente e do papel da inteligência artificial na arte. Reflete-se sobre censura algorítmica, realidades opcionais ou o castanho enquanto sinal de ecologia. Outras leituras vos aguardam, nas Capturas da semana.
Ficção Científica e Cultura Pop
The Tall Man rules…: Um olhar para Phantasm, de Don Coscarelli.
Bem Bom: Uma análise ao filme português do Verão, o biopic das Doce. Nostalgia dos anos 80 a cruzar-se com a história da pop portuguesa.
Stunning official trailer for Foundation whets the appetite for more: Finalmente, o momento pelo qual gerações boomer de fãs de ficção científica tanto esperaram. A série Fundação de Asimov chega aos ecrãs, e cheia de barroquismo visual, daquele que consegue disfarçar as dificuldades de adaptar um texto que é essencialmente conceptual ao espetáculo audiovisual, mas também muito limitado no seu âmbito. Esta série literária explora a ideia de que é possível antever a forma como as sociedades evoluem ao longo de milénios, cruzando história, sociologia e matemática. Foi um tremendo sucesso, e o típico lamaçal literário asimoviano, com uma premissa que nos parece brilhante apenas porque não conseguimos ver a estreiteza dos seus pontos de vista por entre a vastidão cósmica das histórias. Asimov era especialista nisto, construía conceitos interessantes, mas simples, como as três leis da robótica, que depois explorava até ao tutano em infindas variações. Fundação é isso, mas no registo de romance e não de conto. Não deixa de ser uma das obras essenciais para se conhecer a ficção científica, no seu melhor e pior. É também das obras mais influentes no espaço de ideias e iconografia da Ficção Científica. Sublinho só uma: as visões de uma luxuosa cidade-planeta, centro de um governo galáctico primeiro republicano e depois imperial de Star Wars, são uma referência direta de Lucas a Asimov. A base visual e conceptual de Coruscant é Trantor, o mundo cidade central da civilização galáctica de Fundação.
At the Earth’s Core: Pulp clássico.
5 Tense Books That Blend Sci-Fi and Horror: Livros que arrepiam, e ainda tocam na ficção científica. Novos autores a descobrir.
Brian Bendis Auctioned André Lima Araújo Comic, Not Going To Marvel: Espera, o desenhador português André Lima Araújo a trabalhar com Bendis, e numa série de graphic novels? É uma excelente notícia, e bem merecida, reconhecendo a capacidade do autor de Man:Plus. Resta saber que livros, títulos, temas, isso fica para a Comic Con de Nova Iorque.
Uncredited cover art to Mysterious Visitors: Pediram um disco voador?
Octobriana All-Star 50th Anniversary From Dead Good Comics in November: Por Outubro! A heroína soviética de comics underground vai ter uma segunda vida, chegando ao hipercapitalismo que é a edição de comics.
On the Illusion of Change and Jonathan Hickman Leaving the X-Men: Duas notas. A corrente revisão dos X-Men era parte de algo maior; e graças ao seu sucesso, vai ser explorada até ao tutano como base para os personagens (o que até é expectável, no que toca à indústria).
Tecnologia
Vermeer’s Cupid returns: Do extraordinário. Investigadores e peritos em restauro descobriram que um dos quadros de Vermeer não era tal e qual como sempre o conhecemos. Originalmente, a pintura incluía um cupido, que foi posteriormente tapado com tintas e verniz. O processo de restauro foi longo, e meticuloso.
Can Robots Evolve Into Machines of Loving Grace?: Apesar do passo rápido de investigação e desenvolvimento, ainda estamos muito longe das nossas visões de robots autónomos. E quanto ao desenvolvimento de inteligência, provavelmente consciência, será que à medida que a tecnologia se desenvolve, a inteligência surgirá como capacidade emergente?
Musk: The Tesla Bot is coming: Valerá a pena levar isto a sério? Será vaporware como o Cybertruck, ou trabalho metódico de desenvolvimento tecnológico ao estilo SpaceX? Musk gosta de fazer grandes pronunciamentos sobre tecnologias, faz parte da sua estratégia de marketing. Nesta, talvez o interessante seja o factor motivação, incrementando o desenvolvimento de androides (no fundo, mobilizando os extraordinários desenvolvimentos recentes na robótica), com um toque de futurismo clássico, revendo a ideia clássica do robot servente que liberta o humano das tarefas chatas.
O potencial da energia nuclear na descarbonização da sociedade: A energia nuclear desperta medos, mas tem-se mostrado essencial como parte do mix que inclui energias renováveis e permite reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Uma análise sóbria e bem informada ao potencial do nuclear.
A dog’s inner life: what a robot pet taught me about consciousness : Um texto poderoso, que nos recorda a facilidade com que atribuímos ideias de vida a objetos, especialmente quando estes são programados para reagir às nossas ações. A questão de fundo é perceber que perante simulações de vida, reagiremos tal como perante um ser vivo, com envolvimento cognitivo e emocional.
How future historians will study us: Um estilhaçado caleidoscópio de tweets, comentários em redes sociais e imagens no instagram, serão as bases com que futuros arqueológos nos tentarão conhecer.
El conjunto de Mandelbrot en ASCII art en 15 líneas en C++: Da arte da programação, em vários níveis. Com poucas linhas de código se fez este fractal de mandelbrot em ASCII.
What if data had funerals too?: Memento mori para o digital, recordando que os nossos dados dependem de suportes físicos, e estes podem ficar sem funcionar. Perda de dados como ritual de luto.
This AI Can Spot an Art Forgery: Sendo a inteligência artificial uma ferramenta excecional para detetar padrões, pode também ser usada para analisar obras de arte e determinar se são autênticas, ou cópias. Note-se que a análise do algoritmo, por si só, nunca seria o suficiente para validar ou invalidar a autoria de uma obra (há outras formas, entre peritagem por especialistas em arte até ao rastreio do percurso da obra), é apenas mais uma ferramenta.
The Taliban, not the West, won Afghanistan’s technological war: A vitória talibã no Afeganistão vista pelo lado da tecnologia, onde quem ganha guerras não é o lado que dispõe das tecnologias mais avançadas, mas sim aquele que consegue tirar partido mais eficaz das tecnologias de que dispõe.
The Joy of Disobeying Your Phone: Habituados a conexões constantes a sistemas de mapeamento complexos, a sensação de nos perdermos nas ruas ou estradas parece arcaica, e apoquentadora.
Philip Glass on Artificial Intelligence and Art: O compositor escuta música produzida por algoritmos, e é rápido a apontar as suas falhas. Mas também as suas virtudes, o interessante é notar que o veterano autor de música erudita contemporânea não sente a inteligência artificial como uma ameaça desumanizadora, antes, como uma ferramenta cheia de potencial para expandir o que os artistas conseguem fazer: "I think this is not a disaster. It’s the beginning of something. It’s the beginning of something. And you give this to someone who has that training or can hear it that way–they can make a good piece out of this".
Modernidade
All These Artworks Have Been Censored By Instagram: Para algoritmos, a diferença entre vulgar e artístico não existe, como mostram estas histórias de imagens de obras de arte bloqueadas nas redes sociais. Estes automatismos, por serem de largo espectro, parecem ter a capacidade de indignação de ratas de sacristia, mas o que é realmente alarmante é a forma como as redes sociais não facilitam a contestação a estas decisões algorítmicas. E, nalguns casos, com suspensão de contas, o que para um artista, pode-se traduzir numa séria perda. Isto não é censura nos moldes tradicionais, até porque a gestão de conteúdos online é necessária, mas depender só dos processos automáticos pode trazer danos culturais.
When reality suddenly becomes non-optional: Do choque entre realidades culturais e políticas, com o zeitgeist de monoculturas moralistas potenciadas pelo digital. Sobre bolhas de informação, enviesamentos cognitivos, e o choque de ver uma seita retrógrada, assente no moralismo bafiento e assassino, conquistar o poder num país onde a falta de vontade de impor e defender uma ordem democrática levou à derrocada.
At MoMA, Love of Cars Can Be Exhausting: Há que admirar a visão de carros pendurados em helicópteros nos céus de Nova Iorque. Mas a exposição fala do automóvel como objeto de design, objeto de desejo, e objeto problemático.
Seeing Red: A nova guerra fria, notória, entre dois sistemas de governo e economia. O liberalismo americano, demasiado centrado no curto prazo e a abandonar as questões sociais, e o centralismo chinês, onde o estado intervém diretamente na economia quando os seus actores não agem de acordo com os interesses nacionais. Um parece em declínio, outro em crescimento rápido. Uma guerra feita de confrontos diretos complexos (flexionar músculos económicos para obter objectivos politicos, o eterno jogo gato e rato da ciberguerra), mas também de uma profunda interdependência económica.