Para esta semana, fala-se do novo romance a roçar a FC de Ishiguro, de leituras duras de banda desenhada, ou do horror cósmico de Lovecraft. Na tecnologia, a robótica tem um enorme destaque, entre sentimentos de empatia, ética e drones. Ainda se fala de realidades fragmentadas, de restauros de arte romana em Pompeia, e das agruras da vida marciana. Mais letituras intrigantes vos aguardam, nas Capturas da semana.
Ficção Científica e Cultura Popular
Madagascar Incident: Àquela altitude, é tipo kamikaze.
https://pulpcovers.com/madagascar-incident/
Kazuo Ishiguro’s Radiant Robot: Fico com a sensação que Ishiguro é um camaleão literário, que a cada novo romance assume o aspeto de todo um género literário. Tem glosado o horror, a fantasia, e agora mergulha de chofre na ficção científica no seu novo livro, sobre inteligência artificial, vida artificial e emoções. Fiquei curioso, embora sem grandes esperanças. Como conheço o género, suspeito que será mais uma variação entre Der Sandmann e Pinochio.
https://www.theatlantic.com/magazine/archive/2021/04/kazuo-ishiguro-klara-and-the-sun/618083/
Grass – Keum Suk Gendry-Kim: Esta leitura do Rascunhos parece-me deveras inquietante, um olhar sobre um dos episódios mais sórdidos e mal resolvidos da história do século XX - o das mulheres coreanas forçadas a prostituir-se nos bordéis do exército imperial japonês. Mulheres que foram vítimas de tudo, de infâncias na pobreza, de um império que as considerava menos que humanas, e posteriormente de um país independente que as via como maculadas.
https://osrascunhos.com/2021/03/01/grass-keum-suk-gendry-kim/
The Lie at the Heart of the Western: A grande surpresa deste artigo é descobrir que o Western ainda é um género literário. Mas, em vez das histórias clássicas (e bastante xenófobas) do herói que triunfa no selvagem oeste, temos autores de etnia índia a revisitar o Velho Oeste com o seu olhar traumatizado pela história.
https://www.theatlantic.com/culture/archive/2021/02/new-literary-western-in-the-distance-how-much-these-hills-gold-inland/618093/
The Robot Terror: Não há fuga possível ao horror automático.
https://pulpcovers.com/the-robot-terror/
One Hundred Tales: Stories of Japan’s Cute and Creepy “Yōkai”: Do sempre fascinante mundo do sobrenatural japonês, repleto das mais bizarras tradições. Ainda não li estes relatos, parte da cultura clássica nipónica, mas posso recomendar vivamente o mangá Nonnonba, de Shigeru Mizuki, que cruza recordações de infância com este riquíssimo substrato de lendas tradicionais, bizarras, assustadora, surreais, tocantes e às vezes um pouco patetas. Resquícios de um mundo onde a escuridão despertava os medos.
https://www.nippon.com/en/japan-topics/g00929/one-hundred-tales-stories-of-japan%E2%80%99s-cute-and-creepy-yokai.html
De ‘Providence’ a ’30 Monedas’: analizamos las relecturas de H.P. Lovecraft junto a tres expertos en Horror Cósmico: A influência de Lovecraft é inseparável do terror contemporâneo, por vezes de formas pouco óbvias. Tudo o que tiver um toque cósmico, de estranheza quase surreal, de confronto entre conservadorismo e modernidade, nasce neste idiossincrático autor americano que, por pouco, não caiu na obscuridade.
https://www.xataka.com/otros/providence-a-30-monedas-analizamos-relecturas-h-p-lovecraft-a-tres-expertos-horror-cosmico
Revista Magazine de Ficção Científica nº 3: O SciFi Tropical está a fazer um trabalho excelente de arquivo digital e divulgação da FC clássica do Brasil. Desta vez, oferece-nos uma versão epub do terceiro número da edição brasileira da revista Magazine de Ficção Científica.
https://scifitropical.wordpress.com/2021/02/26/revista-magazine-de-ficcao-cientifica-no-3/
Chesley Bonestell: Se há grande mestre da arte em ficção científica, é Bonestell.
https://70sscifiart.tumblr.com/post/644258554619084800
Sci-fi authors love the word “tomorrow.”: Bem, a FC é essencialmente o imaginário do amanhã...
https://70sscifiart.tumblr.com/post/644190630507118592
Why do most spaceships in sci-fi have their guns on backwards?: Bem visto, em termos de estratégia militar, as naves espaciais da FC popular seriam alvos demasiado fáceis.
https://boingboing.net/2021/02/26/why-do-most-spaceships-in-sci-fi-have-their-guns-on-backwards.html
Planeta Psicose – Ricardo Santo: Tenho andando um pouco distante de livrarias (pudera, estão fechadas!) e este lançamento da Escorpião Azul passou-me ao lado. Pela análise do Rascunhos, parece-me ser uma cena batshit crazy, ou seja, daquelas que é exatamente o que o médico receitou para suportar os tédios do confinamento e as agruras da escola online. Teorias insanas da conspiração levadas ao absurdo?
https://osrascunhos.com/2021/02/26/planeta-psicose-ricardo-santo/
Tecnologia
http://feedproxy.google.com/~r/failblog/~3/0jxyv3u6CAU/scientific-diagrams-that-look-unintentionally-hilarious
The Appearance of Robots Affects Our Perception of the Morality of Their Decisions: Ou seja, se um robot nos parecer simpático, aceitamos mais facilmente ações perigosas ou imorais. O que não é nada de novo, é esse o efeito psicológico que os vigaristas são exímios em explorar.
https://www.helsinki.fi/en/news/language-culture/the-appearance-of-robots-affects-our-perception-of-the-morality-of-their-decisions
When Robots Enter the World, Who Is Responsible for Them?: Ética e responsabilidade na robótica são questões cada vez mais prementes, à medida que estas tecnologias integram a economia e sociedade. Nestas entrevistas a investigadores e empresários, fica claro que assumem à partida um compromisso ético de controlar os usos a que os robots que vendem se destinam, e se o entenderem, negar o acesso à tecnologia. Claro que isto é daquelas coisas, sabemos que haverá sempre empresas com princípios éticos, e haverá aquelas que só querem lucrar a qualquer custo.
https://spectrum.ieee.org/automaton/robotics/industrial-robots/when-robots-enter-the-world-who-is-responsible-for-them
Will Robots Make Good Friends? Scientists Are Already Starting to Find Out: Os robots são máquinas, mas nós conseguimos formar elos emocionais mesmo sabendo que são objetos, e as suas ações mera programação. Com o evoluir da robótica, com o desenvolvimento de sistemas e algoritmos cada vez mais complexos, com um simular cada vez mais aperfeiçoado de ações e emoções, é previsível que este fator de proximidade emocional se aprofunde.
https://singularityhub.com/2021/02/25/will-robots-make-good-friends-scientists-are-already-starting-to-find-out/
Robotics roundup: Algumas notícias que mostram a forma como a robótica se está a integrar na economia. O uso de robots para policiamento é um desenvolvimento preocupante, se bem que não inesperado.
https://techcrunch.com/2021/02/25/robotics-roundup/
Lyra: A New Very Low Bitrate Codec for Speech Compression: Se nos dias de hoje a saturação das redes é notória, com o vídeo online (entre os serviços de streaming e as videoconferências que se tornaram fundamentais em muitos setores de atividade) a esgotar a capacidade da largura de banda, a Inteligência Artificial pode ajudar. No caso, com codecs (algoritmos de compressão) mais eficazes, que usam aprendizagem automática para elevadas taxas de compressão sem perder qualidade sonora.
http://ai.googleblog.com/2021/02/lyra-new-very-low-bitrate-codec-for.html
https://boingboing.net/2021/02/26/this-ai-powered-search-engine-returns-movie-screenshots-based-on-keyword-searches.html
https://www.xataka.com/historia-tecnologica/que-rutas-archivo-ms-dos-windows-usan-caracter-no-como-querian-desarrolladores-microsoft
coding-horror/basic-computer-games: Um projeto intrigante, que portou um manual clássico de introdução à programação dos anos 80 para linguagens contemporâneas. Uma fonte de inspiração para os meus alunos de robótica.
https://github.com/coding-horror/basic-computer-games
https://www.technologyreview.com/2021/02/26/1020007/what-is-an-algorithm/
https://abertoatedemadrugada.com/2021/02/alto-pequeno-robot-com-ai.html
Study: “Zoom Fatigue” Exists—and It Totally Sucks: Creio que já todos notámos, que uma simples sessão de videoconferência nos deixa estranhamente exaustos. Isso tem a ver com as cargas cognitivas adicionais que estão envolvidas neste tipo de comunicação, que vão deste o reconhecer-nos a nós próprios na janela do sistema, à contínua interpretação de pistas visuais que não são contextualizadas.
https://futurism.com/study-zoom-fatigue-exists-and-it-totally-sucks
https://singularityhub.com/2021/02/28/this-video-shows-the-entire-internet-and-its-evolution-since-1997/
Three Words: Supersonic. Combat. Drones: Desconfio sempre destes anúncios, poderão ser pouco mais do que hype. Mas os projetos de aeronaves autónomas de combate sucedem-se, e este junta-se aos muitos que já estão em estudo e desenvolvimento.
https://futurism.com/three-words-supersonic-combat-drones
Deep Nostalgia, la IA que da vida a fotografías antiguas convirtiéndolas en impresionantes vídeos: A internet está entusiasmadissima com esta app, que promete dar vida às fotos dos nossos entes queridos já desaparecidos. O entusiasmo pelo hype obscurece o facto de não passar de um truque de marketing, usando um simples transferência de estilo para simular a animação. É essencialmente um truque publicitário de uma empresa especializada em serviços de genealogia, que usou algoritmos de IA para promover os seus serviços. Mas vá-se lá explicar isso aos deslumbrados, que aceitam acriticamente todas as supostas novidades tecnológicas...
https://www.xataka.com/robotica-e-ia/deep-nostalgia-ia-que-da-vida-a-fotografias-antiguas-convirtiendolas-impresionantes-videos
https://www.theverge.com/2021/3/2/22308742/google-arcore-dual-camera-update-pixel-4-xl
https://becominghuman.ai/data-labeling-a-potential-and-problematic-industry-behind-ai-2495952dfcbd
NFT WTF: Uma ideia nova, e interessante. como resolver o problema da facilidade de cópia de arte digital? Incluir um token em blockhain, que certique um ficheiro como único e original. Usando criptomoedas, gera-se um novo mercado artístico.
http://blog.seanbonner.com/2021/03/01/nft-wtf/
https://www.xataka.com/realidad-virtual-aumentada/microsoft-mesh-asi-plataforma-que-esta-creando-microsoft-para-oficina-virtual-realidad-aumentada
No-Contact Floating Holographic Keypads from Japan: Um conceito intrigante, que talvez não passe de vaporware - usar interface holográfico para evitar tocar em superfícies. O artigo fala de testes em hospitais japoneses, vamos ver se realmente será um produto comercial.
https://www.core77.com/posts/105899/No-Contact-Floating-Holographic-Keypads-from-Japan?utm_source=core77&utm_medium=from_title
Modernidade
https://www.creativeapplications.net/maxmsp/a-natural-history-of-networks-softmachine-a-speculation-about-a-heterogeneous-technological-culture/
If Aliens Exist, Here’s How We’ll Find Them - Issue 97: Wonder: Com muito esforço científico, e métodos tecnológicos para analisar os indícios que nos chegam dos astros.
http://nautil.us/issue/97/wonder/if-aliens-exist-heres-how-well-find-them
Shared (un)Realities: Uma das tendências mais preocupantes dos tempos recentes é o estilhaçar das realidades consensuais, talvez melhor exemplificados pelos consensos alucinatórios alimentados por fake news e teorias da conspiração que alimentam extremismos que se estão a tornar mainstream. Mas o próprio mainstream também se alimenta disso, com um lucrativo investimento em falsas realidades mediáticas, dos quais os inenarráveis reality shows, e a sua promoção de uma intensa banalidade, são a epítome. Sem querer parecer demasiado quarentão resmungão e elitista a ver o mundo a ir para o galheiro, a verdade é que por muito que mostremos a importância da elevação cultural, basta uma criança ligar um canal generalista ou dedicado para ser bombardeada por exemplos de magníficos zés-ninguéns a fazer aquilo que fazem melhor, ser zé-ninguém, por vezes com dificuldade em articular raciocínios que incluam mais do que três palavras. Tudo isso a ser promovido como desejável, como alcançável. Se, como observa Malik, " It is apparent that we no longer live in a what-you-see-is-what-you-get (WYSIWYG) kind of environment. Fact-based reality has become a figment of our imagination, or maybe we are beginning to realize that it was always so", fica ainda mais complicado quando tantas dessas falsas realidades apelam à mediocridade absoluta.
https://om.co/2021/02/24/shared-unrealities/
Mars Is a Hellhole: E, no entanto, não me importaria nada de colocar os meus pés no inóspito solo marciano. Devemos preservar a nossa casa. A Terra é o nosso berço e, provavelmente, o único local do universo que nos será plenamente habitável. Mas isso não significa que a humanidade não se atreva a ir às estrelas.
https://www.theatlantic.com/ideas/archive/2021/02/mars-is-no-earth/618133/
https://www.engadget.com/perseverance-family-portrait-decal-013708361.html
Pompeii fresco restored to glory: É sempre fantástico quando a investigação arqueológica, e o restauro, nos revelam a glória cromática e o realismo da antiguidade clássica.
http://www.thehistoryblog.com/archives/60847
‘To Me, This Penis Is Out of Control’: Quando o mundo descobriu que a televisão dinamarquesa tinha um programa infantil sobre um homem e o seu incontrolável pénis gigante, caiu o queixo do mundo. Desde os comentários de "ao estado a que isto chegou" aos resmungos sobre promoção da pedofilia, o coro de vozes chocadas foi elevado. Mas, e porque é que os dinamarqueses aceitam estas coisas? Na verdade, é uma questão cultural, desde muito cedo que no país se desmistifica o corpo e a sexualidade como algo de perfeitamente normal. Um programa como este é-lhes perfeitamente apropriado, em termos culturais, e nem sequer levanta sobrancelhas. Tendo em conta as consequências a que assistimos por cá das nossas atitudes conservadoras face ao corpo e sexualidade (dolorosamente notório no recente inquérito em que cerca de 70% dos jovens considerava aceitável formas de violência no namoro), provavelmente falar do corpo, de tabus, consensualidade e sexualidade desde tenra idade não é tão má ideia quanto isso.
https://www.theatlantic.com/health/archive/2021/02/john-dillermand-danish-kids-show-giant-penis/618153/
Literature Is A Technology, And It Should Be Taught Like One: No fundo, é uma forma de inverter a tendência das CTEM, que se estão a tornar cada vez mais prevalentes face a um certo declínio das humanidades. A ideia de encarar a literatura como uma tecnologia de transmissão de sentimentos, emoções e conhecimento cola-se um pouco a este mecanicismo.
https://nautil.us/issue/97/wonder/literature-should-be-taught-like-science
Top 10 historical board games: Tão entediados aí por casa confinada que já nada desperta a atenção? As redes sociais já fartam, as séries perderam o interesse, os jogos de computador já foram explorados, e não há energia para um livro? Então, porque não ir recriar os jogos mais antigos da humanidade?
https://blog.britishmuseum.org/top-10-historical-board-games/
Toy Company Offers Home Office Play Set: Como é que se diz? É de pequenino que... se aprende o conformismo cinzentista. Vamos colocar as crianças a sonhar com serem astronautas ou cientistas? Não, escritório é que é.
https://www.neatorama.com/2021/03/02/Toy-Company-Offers-Home-Office-Play-Set/