Phil Mucci, Mike Dubisch (2019). Professor Dario Bava: Murder Vibes From the Monster Dimension. Diabolik.
A capa por Emmanuel Tagliatelli, velho mestre italiano da ilustração exploitation, desperta logo o interesse. Mas este é daqueles livros em que o conteúdo não defrauda as expetativas da capa. É um bizarro e levemente demente numa visão bem humorada do terror clássico, com ex-padres exorcistas, raparigas de futuros distópicos e grupos de combatentes do sobrenatural. O estilo é histriónico, muito over the top, e o grafismo acompanha. Essencialmente, é uma divertida e absurdista homenagem à iconografia do terror clássico de Série B.
Pete Milligan, Duncan Fegredo (2020). Girl. Nova Iorque: DC Comics.
Uma típica história no tom cru que a Vertigo trouxe aos leitores nos anos 90, agora reeditado sob a chancela DC Black Laber.. Uma adolescente, vivendo num bairro periférico sem grandes perspetivas, procura compreender a sua identidade face a um mundo que quer rejeitar, entre efabulações e partidas da vida. Pete Milligan segue com o seu habitual estilo ácido, e a ilustração de Duncan Fegredo sublinha o tom cru da história. O livro só peca por um demasiado óbvio final feliz, que tem ainda o condão de subverter todo o esforço de construção de identidade da personagem, que se centra no tipo de pessoa que quer a todo o custo ir além do ambiente em que cresce.
Saladin Ahmed, et al (2019). Miles Morales: Homem-Aranha - Direto do Brooklyn. Panini.
Confesso que estava curioso para conhecer as aventuras de Miles Morales, um homem-aranha mais adaptado aos tempos contemporâneos. Faz parte das tentativas da Marvel de se manter relevante para as novas gerações de leitores, criando novas personagens que refletem diversidades de género, étnicas ou culturais. Ou revendo personagens clássicos, adaptando-as às normas culturais dos tempos de hoje. Um tipo de abordagem que geralmente não é bem aceite por um certo tipo de fãs, que oscila entre o conservador e o abertamente racista. Leitores que se sentem profundamente injuriados porque a editora faz evoluir as suas premissas e personagens, e não mantém as iconografias e histórias do passado.
Mas, se se é fã de comics, verdadeiramente fã e não como um apêndice para ideologias, percebe-se que o género tem de ir ao encontro de novas gerações, senão estagna e morre. Curiosamente, a fórmula que a Marvel aplica para despertar leitores é a mesma com que conquistou os leitores antigos - personagens que apelam às dores de crescimento dos adolescentes, aos problemas da formação da personalidade, às pulsões, gostos que se formam, e sensação de incompreensão. Miles Morales é em tudo igual a Peter Parker ao nível fundamental. O que ofende os leitores recalcados é que Morales não é branco, e os seus referentes culturais não são os da cultura branca. Este personagem, tal com outros - a islâmica Ms. Marvel ou a obviamente queer Squirrel Girl, trazem as questões de representatividade para a linha da frente dos comics. E reparem, tal como nós nos sentimos identificados quando abrimos um comic e nos tornámos fãs, porque não transmitir essa sensação àqueles que têm cor de pele, cultura ou religião diferente, e que até agora não estavam verdadeiramente representados?
É essa a importância deste Miles Morales. A leitura vale a pena. É o que é, histórias de comics sem pretensões a algo mais, a identidade de Morales está tão entretecida nas aventuras como Lee e Ditko o faziam no Spider-Man original. Apesar do apelo à diversidade, não é panfletário. É um personagem forte, de fácil identificação para os fãs, e com imenso potencial.