Esta semana, fala-se da banda desenhada portuguesa que comemora os 500 anos das viagens de Fernão de Magalhães, e de literaturas afro-futuristas. Recorda-se Nam June Paik, descobre-se o bot de Inteligência Artificial para pornografia ilegal, e regista-se mais um sucesso da tecnologia da Relativity Space. Ainda se visita o fantástico tradicional português, fala-se de direitos de autor e descobrem-se os segredos da Sé de Lisboa. Estas, e outras leituras, estão nas Capturas da Rede desta semana.
Ficção Científica e Cultura Popular
David A. Hardy: Um piquenique marciano. https://70sscifiart.tumblr.com/post/632058194850676736/david-a-hardy
Tex – Patagónia – Mauro Boselli e Pasquale Frisenda: Não sendo o meu personagem de fumetti favorito, há que respeitar a longevidade de Tex, e a raridade, nos dias que correm, de se manter como título de Western. https://osrascunhos.com/2020/10/21/tex-patagonia-mauro-boselli-e-pasquale-frisenda/
Photo: STS is go. https://70sscifiart.tumblr.com/post/632511172269260800
Free Download of Africanfuturism: An Anthology: Com vontade de ampliar a diversidade cultural da ficção científica contemporânea? Esta antologia gratuita traz-nos o trabalho de alguns dos autores africanos que estão a dar cartas no género. https://brittlepaper.com/2020/10/free-download-of-africanfuturism-an-anthology-stories-by-nnedi-okorafor-tl-huchu-dilman-dila-rafeeat-aliyu-tlotlo-tsamaase-mame-bougouma-diene-mazi-nwonwu-and-derek-lubangakene/
A Viagem Mais Longa: Para comemorar os 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães, a comissão comemorativa está a promover uma série de atividades. Entre as muitas dedicadas à Educação (fiquei a saber dela num boletim da DGEstE), temos este álbum de banda desenhada, que ficou a cargo de João Santos e Miguel Jorge, autor de BD e também editor da Apocryphus, um dos melhores e mais consistentes projetos editoriais de banda desenhada portuguesa. https://bandasdesenhadas.com/2020/10/19/a-viagem-mais-longa/
Wings Of The Hell Diver: Parece-me que àquela altitude, os pilotos estão em modo kamikaze. https://pulpcovers.com/wings-of-the-hell-diver/
Book Review: The Wind From Nowhere, J. G. Ballard (1962): Não é dos melhores livros de Ballard, mas inaugurou a sua série de romances-catástrofe, que exploraram o lado mais surreal da ficção científica. https://sciencefictionruminations.com/2020/10/17/book-review-the-wind-from-nowhere-j-g-ballard-1962/
Tecnologia
Chaos and Cathode Rays: Uma análise à obra de vanguarda de Nam June Paik, um dos precursores das artes digitais, com as suas experiências estéticas com eletrónica e televisores. https://www.nybooks.com/articles/2020/10/22/nam-june-paik-chaos-cathode-rays/
GANksy: disturbing AI-powered street art: Treinar uma IA no estilo dos graffittis de Banksy dá resultados... intrigantes. O passo seguinte poderia ser programar um robot equipado com sprays e soltá-lo nas ruas.
https://boingboing.net/2020/10/15/ganksy-disturbing-ai-powered-street-art.html
To Mend a Broken Internet, Create Online Parks: Uma ideia intrigante. As comunidades virtuais dominadas por empresas não são, realmente, comunidades. Até porque a lógica natural empresarial é crescer financeiramente, não tem incentivos para criar espaços desenhados como livres e seguros. Talvez a resposta a isso esteja no domínio público. https://www.wired.com/story/to-mend-a-broken-internet-create-online-parks/
Raspberry Pi and Raspberry Pi Spy: This Is How Trademark SNAFUs Should Be Handled: Geralmente, quando estas questões chegam às notícias, é pelas piores razões possíveis, de abusos de detentores de direitos de autor que não têm pejo em trucidar os seus próprios fãs. Mas neste caso, o exemplo é excelente. Quando um site dedicado ao Raspberry Pi foi acusado pela fundação que sustenta este projeto de infringir a sua propriedade intelectual, os responsáveis voltaram a analisar a situação, retiraram a acusação e ainda apresentaram desculpas. Erros acontecem, percebe-se a necessidade de vigiar direitos de autor, mas neste caso, quem os detém percebe que ter uma comunidade vibrante de entusiastas também é importante. https://hackaday.com/2020/10/20/raspberry-pi-and-raspberry-pi-spy-this-is-how-trademark-snafus-should-be-handled/
A deepfake bot is being used to “undress” underage girls: Há meses, um algoritmo que gerava imagens de mulheres nuas a partir de fotos inocentes foi retirado da web. Mas claro que o génio saiu da lamparina. Não surpreende saber que variantes deste algoritmo estão a ser usados para novas formas de pornografia, e formas particularmente repelentes. https://www.technologyreview.com/2020/10/20/1010789/ai-deepfake-bot-undresses-women-and-underage-girls/
Ethernet At 40: From A Napkin Sketch To Multi-Gigabit Links: A Ethernet já faz quarenta anos? Dada a sua quase invisibilidade e ubiquidade, até lhe daríamos mais. Este é o protocolo que, de facto, ligou os computadores das organizações. https://hackaday.com/2020/10/19/ethernet-at-40-from-a-napkin-sketch-to-multi-gigabit-links/
Uvas com Termos e Condições: quando o copyright chega à salada de frutas: Surpreendidos? Nem por isso. Parte dos produtos de consumo agrícola hoje consumidos envolve uma forte dose de manipulação genética, o que torna as características biológicas desses produtos propriedade intelectual de empresas. Isso tem sido mais notório nas sementes, manipuladas para resistirem a pesticidas específicos. https://shifter.sapo.pt/2020/10/uvas-copyright/
Lockheed picks Relativity’s 3D-printed rocket for experimental NASA mission: A Space X é sexy, com os seus projetos que tornaram o acesso ao espaço por privados uma realidade. Mas interessa-me mais a Relativity Space, que está no cruzamento da exploração espacial com a manufatura aditiva. Agora foi escolhida pela Lockheed para desenvolver um veículo orbital de testes para a NASA. O objetivo é testar diferentes sistemas de gestão criogénica de fluídos, e o veículo terá de ter espaço para as diferentes versões. Claramente, um desafio à altura da impressão 3D de naves espaciais. https://techcrunch.com/2020/10/19/lockheed-picks-relativitys-3d-printed-rocket-for-experimental-nasa-mission/
Fokker’s Synchronizing Gear And The Birth of Fighter Planes: O avião de caça parecia uma ideia impossível, algo deselegante, só capaz de combater graças a um artilheiro. Nos primeiros tempos, a trocarem literalmente tiros de pistola e espingarda. Isso mudou quando o holandês Anthony Fokker desenvolveu o primeiro sistema de sincronização, que permitia ao piloto disparar através das suas hélices. E o resto, é a história letal e fascinante dos ases do combate aéreo. https://www.amusingplanet.com/2020/10/fokkers-synchronizing-gear-and-birth-of.html
Attempting to Generate Photorealistic Video With Neural Networks: Intrigante, usar a GAUGan da Nvida para criar vídeo. Um trabalho de paciência, porque este algoritmo foi desenvolvido para gerar imagens realistas, e não vídeos. https://hackaday.com/2020/10/17/attemping-to-generate-photorealistic-video-with-neural-networks/
In Singapore, Facial Recognition Getting Woven Into Everyday Life: Em Singapura, o estado-nação onde impera o autoritarismo benévolo, não há preocupações com privacidade do indivíduo face ao estado. Tecnologias que na tradição de liberdade das democracias liberais parecem ser excessivamente invasivas, por lá são aplicadas. https://www.nbcnews.com/tech/tech-news/singapore-facial-recognition-getting-woven-everyday-life-n1242945
Society of Vertebrate Paleontology forbid the word "bone" during online conference: Agruras da filtragem automática. Há tempos, numa instituição com que colaboro, reparei que na sua plataforma de e-learning a palavra computador era substituída por asteriscos. Demorei a perceber. A causa é um filtro que evita palavras ofensivas, que se torna compreensível porque a plataforma também tem sido usada extensivamente por alunos do ensino básico. Mas os sistemas de filtragem têm sempre destas incongruências. https://boingboing.net/2020/10/16/society-of-vertebrate-paleontology-forbid-the-word-bone-during-online-conference.html
Modernidade
We May Never Know the Full Story of COVID-19: Teorias da conspiração à parte, o nível de supressão de informação das autoridades chinesas é tão elevado que factos fundamentais para se conhecer a origem da pandemia nunca serão conhecidos. https://www.theatlantic.com/ideas/archive/2020/10/we-may-never-know-full-story-covid-19/616716/
https://theconversation.com/how-the-needs-of-monks-and-empire-builders-helped-mold-the-modern-day-office-146390
The coronavirus could be here to stay. Your privacy may be another victim.: Por cá, estamos a ter os primeiros indícios disto com a ameaça de tornar a app Stayaway Covid obrigatória, com fiscalização e sanções para quem não a tiver instalada. Apesar desta óbvia tropelia constitucional, é razoável assumir um certo nível de confiança nas nossas leis e instituições para que soluções de monitorização tecnológica no âmbito da pandemia não se tornem intrusivas e discriminatórias. Este artigo explora algumas formas, que já estão a acontecer, de como as boas intenções geram situações infernais. https://mashable.com/article/privacy-in-the-age-of-coronavirus/?europe=true
Uma digestão da discussão sobre a app StayAway Covid: entre a crítica, a condenação e a contextualização: Instalou-se a polémica, os argumentos debatidos afastam-se do verdadeiro cerne da questão - a obrigatoriedade da app representa um forte atentado à liberdade e privacidade individual, mas discute-se o maseentãoismo de uma suposta incongruência em usar apps que partilham dados e recusar esta, e confesso que me arrepia ver tantos tranquilos com a invasividade disto, bem como a defender o autoritarismo. https://shifter.sapo.pt/2020/10/stawaycovid-digestao/
A cultura partilhada que não se pode partilhar: O problema da extensão temporal dos direitos de autor. Protege lucros de algumas propriedades intelectuais específicas (a Disney é caso paradigmático, literalmente, porque uma das leis americanas de extensão de direitos de autor chama-se mesmo Mickey Mouse Act). O problema é que complica enormemente a difusão da cultura. O resultado? O esquecimento massificado de obras que por não terem elevado interesse comercial, não são reeditadas e só podem ser encontradas em mercados de segunda mão. https://interruptor.pt/artigos/a-cultura-partilhada-que-nao-se-pode-partilhar