Ficção Científica e Cultura
A Última Galáxia (2020): A melhor surpresa audiovisual das últimas semanas. Uma paródia retro às más cópias italianas de filmes de ficção científica tipo Star Wars (todo um subgénero de filmes terríveis, mas com décors fascinantes), com sotaque açoriano e efeitos especiais deliciosamente schlock. Concorrente às microcurtas do MOTELx 2020.
The wonderfully weird cowboy psychedelia of "Some Velvet Morning": É um dos mais interessantes discos da pop/jazz retro, especialmente por ser tão bizarro e psicadélico.´
Scream Covers, 1973-74: Se estas capas são fantásticos exemplos da estética decadente do horror dos anos 70, o conteúdo não lhe fica atrás. Vendidas como revistas e não comics, estas edições esquivavam-se ao espartilho do código de auto-censura dos comics americanos. Para mais, investiam em artistas espanhóis, especialistas num gótico vitoriano que fez escola. As histórias estão datadas, mas o estilo gráfico destas revistas merece ser conhecido.
Charles Scheneeman - Illustration for E. Hunter Waldo's "The Ultimate Egoist": Se forem daqueles que se arrepiam com insetos, esta imagem não é para vós.
Announcing the 2020 Hugo Award Winners: A Worldcon 2020, que decorreu virtualmente na Nova Zelândia, divulgou os finalistas e vencedores dos prémios Hugo deste ano.
Eddie Jones: Space opera.
Los 21 mejores libros de ciencia ficción: Esta, é daquelas listas em que todas as sugestões são excelentes. É mesmo do melhor da literatura de ficção científica.
Cosplay at a 1966 Science Fiction Convention: Recordar que aquilo que hoje é uma das áreas quentes do fandom pop/fantástico/sci-fi tem raízes longas. Se o cosplay hoje se encontra muito desenvolvido, com circuitos próprios de partilha, exibição e competição, tem sido um dos elementos estruturantes da cultura de fãs que anima a ficção científica.
Manchu: Visões clássicas.
La Commedia dell’arte: Um curto webcomic originalmente publicado na CAIS, escrito por Pedro Moura e ilustrado por Daniel Rico. Há que apreciar um certo apelo de decadência art-deco.
Darrell K Sweet: Fora da casca.
Bob Eggleton: Outro dos clássicos.
12 Underrated Cyberpunk Films You Should See : Orem a S. Torrente, mergulhem profundamente no netflix. Estas sugestões contém alguns clássicos, algumas surpresas, e alguns filmes obscuros que são de culto.
On Sex with Demons: Face a algumas polémicas sobre uma médica-charlatã que apanhou o ouvido do senil presidente Trump, que para além das obviamente falsas observações sobre cura da Covid-19, ainda tem uns conselhos sentimentais a dar sobre sexo e demónios, o Going Medieval elevou-se à altura. Recorda-nos a longa história da superstição sobre a influência sexual malévola de espíritos demoníacos. O que até está muito bem para os tempos em que a ciência era elementar e as pulsões e psiques eram interpretadas como influências de espíritos, mas no século XXI só deveria ter lugar como argumento para conto de terror, ou documento histórico.
Rodney Matthews: Entre fantasia e ficção científica.
Authors condemn Saudi Arabia's bid to host World Science Fiction Convention: Deixem-me ver se percebi. Uma teocracia medievalista retrógrada, patriarcal, misógina e homófoba, assente na riqueza de exploração de combustíveis fósseis, e com um historial abismal de desrespeito pelos direitos humanos quer ser anfitriã da Worldcon em 2022? Porquê? É algum plano secreto dos clérigos sauditas para purificar o planeta, aniquilando impuros hereges? É que a esmagadora maioria de fãs e criadores ligados à Ficção Científica tem exatamente o tipo de ideias que, na Arábia Saudita, são recompensadas com calabouço ou decapitação.
Tecnologia
An Observer ToL – Sierpinsky, Ikeda, Log, Navier-Stokes, 2020: Peça de arte generativa de André Sier, entre vídeo e modificação de fluxos de dados por algoritmos.
Even Facebook Is Pining for the Internet It Destroyed: Dá uma certa vontade de falar disto com o tom de voz quebrado do sábio
idoso. Alguns de nós recordam-se de uma internet mais vibrante, criativa e
amadora antes das redes sociais terem uniformizado o estilo de vida online,
centrado nos seus cuidados jardins amuralhados, com os utilizadores longe
das zonas selvagens da internet livre (sim, acabei de fazer uma referência à
ideia aberrante para os digerati digitais do princípio do século XX que era
o walled garden). Ironicamente, o próprio facebook está a trabalhar numa app
que tenta voltar a trazer o espírito dos velhos tempos do Geocities. Fico
sem perceber se isto é cansaço com a monotonia extremizada e monetizada das
redes sociais, ou nostalgia pela ideia bucólica dos bons velhos tempos de
uma internet mais simples - que não o era, o discurso extremista,
radicalizado ou falso conspiratório já existia, disperso em inúmeras páginas
e newsgroups. E para aqueles que se chocam com os choques apanhados pelos
mediadores de conteúdos das redes sociais, que estão expostos a conteúdos
violentíssimos, deixo só uma palavra: Ogrish. Era o sítio a visitar para
quem quisesse ver vídeos violentos, entre execuções sangrentas a imagens
mórbidas, nos anos 90.
TheirTube: Visit Radically Different YouTube Recommendation Bubbles: O poder computacional dos algoritmos que sustentam os principais serviços
de internet permite que cada um veja informação não de forma generalista,
mas ajustada ao seu perfil de utilizador. É o conceito de bolha
informacional, algoritmizado para maximização de lucros das plataformas. Se
estiverem curiosos para saber o que é que o YouTube recomenda a
conservadores, trolls, anti-ambientalistas, extremistas e o resto dessa
igualha, explorem o TheirTube.
PATENT LAW AND THE LEGALITY OF MAKING SOMETHING SIMILAR: Algo a ter em conta quando se é maker e criativo. O que é criar ou
recriar, e o simplesmente copiar? A comunidade maker é conhecida pelo seu
espírito livre de partilha e remistura, mas por vezes embate-se com
projetos comerciais que estão devidamente patenteados, ou pior, com trolls
de patentes. Algo com que já me deparei num dos meus projetos de robótica
educativa, que acabei por suspender para evitar eventuais problemas
legais. Porque nestas coisas, somos sempre o pequeno maker individual, com
recursos limitados, a ter de enfrentar empresas ou instituições. A lógica
acaba por ser pensar que não vale a pena perder tempo e seguir em direção
a novas ideias. Direitos de autor e criatividade é terreno difícil, a
diferença entre a inspiração e o construir sobre ideias já existentes,
desenvolvendo-as ou adaptando-as para outras áreas, e a cópia pura é por
vezes muito ténue. Claro que no caso deste artigo no Hackaday, se o
projeto final do maker é indistinguível do produto comercial, essa
fronteira quase se dilui, e só existe porque estamos a falar de alguém que
se inspirou e usou os seus conhecimentos técnicos para recriar uma peça,
sem fins comerciais. A ironia destas polémicas é que basta ir a uma loja
online chinesa para comprar clones low cost e que se lixe a propriedade
intelectual de praticamente tudo. Até mesmo projetos maker, que são
apropriados comercialmente.
A new neural network could help computers code themselves: O GPT-3, com a sua capacidade de escrever código, indica um futuro
próximo onde a programação se tornará mais acessível e automatizada.
Multiplicam-se os projetos de apps no code, bem como o desenvolvimento de
inteligências artificiais capazes de programar. O objetivo não é de
substituir programadores, ou tornar toda a programação num processo
automatizado. Mas sim, criar interfaces para aqueles que não têm
experiência ou conhecimentos na área para desenvolver as suas aplicações.
Disinformed to Death: Na nossa realidade mediada por ecrãs, este tema tornou-se central. Como
podemos aferir a veracidade da informação que consumimos, sabendo que há
imensos interesses, entre lobbying comercial e político, trolls
extremistas ou potências hostis a desenvolver ações de desinformação (o
que denominamos por teorias da conspiração, ou fake news)? Não é uma
questão de resposta fácil. Mas talvez ajude perceber que não estamos a
viver nada de excecional. Na verdade, a desinformação é uma velha arma na
política e geoestratégia. O que o mundo digital trouxe foi a sua
aceleração.
SMASHING THE ATOM: A BRIEF HISTORY OF PARTICLE ACCELERATORS: Uma curta história das máquinas que nos permitem perscrutar o universo
dos átomos.
How cell phones and Facebook are changing remote Nunatsiavut: Nas regiões remotas do mundo, a conectividade trazida por redes móveis
traduz-se numa revolução cultural, vista com desconfiança por aqueles que
temem a extinção de tradições, mas bem recebida pela maioria pela forma
como facilita os laços entre pessoas muito dispersas.
YouTube: Designed To Seduce?: O problemático algoritmo de recomendações do YouTube, infame pela forma
como direciona os utilizadores para versões progressivamente extremas do
conteúdo que visionam. É um algoritmo desenhado para dar mais do mesmo,
quaisquer que sejam as consequências disso.
GPT-3: an AI game-changer or an environmental disaster?: Um ponto de vista por vezes aflorado, mas raramente discutido quando se
fala de Inteligência Artificial. Os enormes avanços a que temos assistido
são, ao seu nível mais elementar, puro poder computacional aplicado a
enormes conjuntos de dados. E esse poder tem um preço ambiental - são
precisas mais máquinas, mais processadores, maior consumo de energia.
Eli Lilly is testing a way to prevent covid-19 that’s not a vaccine: Isto seria um enorme reforço no combate à pandemia - uma terapia que
diminua o impacto da doença após ser contraída.
Projetos de inovação à medida: Um pequeno apanhado dos projetos de I&D em que a portuguesa
Beeverycreative está envolvida, desde o bioprinting à impressão 3D de
metais.
#MeTooSTEM founder admits to creating Twitter persona who “died” of
COVID-19: E, qual é a surpresa? Desde pessoas com intenções fraudulentas a bots,
o que mais prolifera por aí são contas falsas em redes sociais. É a
maneira mais fácil de explorar néscios no século XXI.
Un prototipo de la gigantesca Starship de SpaceX consigue finalmente
realizar un vuelo de prueba con éxito: Só mesmo a Space X para ter a lata de lançar algo que se parece com um
bidon voador. Este teste é um passo para o desenvolvimento do projeto
Starship.
MTU’S JOSHUA PEARCE DEVELOPS OPEN SOURCE, COMPUTER VISION-BASED PRINT CORRECTION ALGORITHM: Uma técnica interessante. Essencialmente, o sistema de visão computacional sobrepõe um modelo da peça a imprimir sobre a captura de imagens comparando-o com o objeto durante o processo de impressão.
U.S. AIR FORCE SET TO FIT B-2 STEALTH BOMBER WITH ITS FIRST 3D PRINTED PART: Não será uma peça estrutural, mas mostra que a impressão 3D é uma solução eficaz para manutenção de baixo custo de aeronaves ao longo da sua vida útil.
Modernidade
This New Jersey Coronavirus Poster Is Freaking Everyone Out: Um excelente exemplo de terror inesperado. A mensagem é anti-covid, mas não ficaria nada mal como cartaz de filme de terror. Aquelas figuras têm o seu quê de gentes de Innsmouth (conhecedores de Lovecraft percebem esta).
El vídeo de seguridad aérea honesto que deberían poner antes de cada vuelo: E por vídeo honesto, é mesmo honesto. E surpreendente, na forma como nos
dá estatísticas inesperadas sobre a aviação. Fiquei a saber que um dos
maiores perigos no ar é o carrinho da bebidas, e da absoluta inutilidade dos
coletes salva-vidas. Entre outras informações verdadeiramente úteis.
In Defense of Kitsch: Kitsch, ou o foleiro elevado à categoria do interessante, em parte pela
bizarria estética, em parte pela sua inocência. Mas também recordar o elitismo
inerente à classificação de kitsch, no fundo uma forma erudita de designar o
que é considerado mau gosto. Posto isto, o menino da lágrima (haverá maior
exemplo de kitsch português, que me perdoem a cerâmica fálica caldense os os
esforços esganiçados dos cantores pimba) não deixa de ser foleiro.
How Books Became Cheap: Uma linha de tempo que detalha as tecnologias que permitiram a
progressiva acessibilidade dos livros.
The New Nuclear Threat: Se os tempos da guerra fria, da destruição mutuamente assegurada parecem
ter passado, as grandes potências globais e regionais continuam a dispor de
apreciáveis arsenais de armas nucleares. Entre os riscos da proliferação
nuclear, envelhecimento dos arsenais, jogos geopolíticos de desenvolvimento
de novas armas e o risco de cibersegurança, não podemos deixar de ter medo
dos cogumelos nucleares.
The Strange Lives of Objects in the Coronavirus Era: Quem diria que objetos como máscaras faciais, luvas ou termómetros se
iriam tornar tão essenciais no dia a dia? Neste artigo, um catálogo de
objetos que se tornaram parte das rotinas diárias nestes dias de pandemia.
Top 10 Over-Rated Military Aircraft: Os puristas vão apanhar chiliques. Super-aeronaves como o Phantom, MiG
31, Spitfire ou Zero considerados como não assim tão bons quanto isso? Em
parte, porque eram excelentes em nichos muito restritos, e quando adaptados
a outros papéis ficavam um pouco aquém do esperado.
How Much Things Can Change: Uma visão pessoal da acelaração dos processos de mudança, da parte de
alguém que tem sido parte muito ativa desses processos, no que toca à
robótica.
From The Anthropocene To The Microbiocene: Como espécie, somos indivíduos de vistas curtas. Há demasiado tempo que a
ciência nos avisou que o nosso caminho de desenvolvimento insustentável está
a conduzir à ruína planetária. Mas isso é a longo prazo, apesar de já
sentirmos alguns desses efeitos. Por outro lado, a Covid-19 veio
recordar-nos, como um espancamento, que não estamos acima da natureza, e que
basta um mero vírus para paralisar a nossa sociedade.
I’m a Nurse in New York. Teachers Should Do Their Jobs, Just Like I
Did.: O artigo é um bocado radical, mas espelha algumas das minhas perceções
como professor. Também não me agrada o risco das aulas presenciais em
Setembro, mas não deixo de sentir que a minha profissão também tem um
elemento de dever de serviço público. O que alarma, mesmo, não é reiniciar
aulas presenciais em setembro. É saber que, por cá, as instruções do
ministério da educação violam sistematicamente as boas práticas de
prevenção da Covid, porque medidas lógicas como menor número de alunos por
turma, turmas desdobradas semanal ou quinzenalmente, com mistura de aulas
presenciais e educação â distância, ou medidas ativas de apetrechamento de
escolas com algo mais que máscaras e alcool-gel têm custos que o
ministério não quer assumir. Por isso, o distanciamento social de 1,5
metros na sala de aula deixa de existir, e em setembro, arrancamos com 25
a 28 alunos por turma numa mesma sala. Isso, não é tranquilizador.
Nurse to Teachers: Suck It Up!: É uma resposta certeira ao pior do artigo anterior. E sublinha o que eu
já sublinhei - o problema não está em eventuais covardias, corporativismos
ou falta de sentido de dever, mas no saber que as condições reais nas
escolas são um enorme fator de risco para rebentamento de surtos, e que as
autoridades educativas pouco fazem para prevenir isso.
The Natural World Can Teach Us a Lot About the Ancient Art of Bulls**t: O dom da treta não é exclusivo aos humanos, como demonstram alguns
comportamentos de espécies animais.
Can nuclear war be morally justified?: Resposta rápida: não. Resposta longa, dos traumas dos civis em Hiroxima à loucura da destruição planetária na guerra fria, numa história que ainda não terminou, com a proliferação nuclear em estados-pária.