segunda-feira, 24 de agosto de 2020
Visions of Humanity
Visions Magazine #02: Visions of Humanity.
Já fui leitor mais assíduo de revistas literárias de ficção científica. Tenho uma razoável coleção de Asimovs, Analogs e Interzones. Deixei de as ler em parte por falta de tempo (promessa de férias: despachar algumas Analogs de 2016 e 2017 que estão na estante da vergonha), mas também porque nem sempre a nova ficção que traziam era surpreendente. Já para não dizer que nem sempre as encontrava por Lisboa. Eu sei, assinaturas e online e tal, mas gosto do prazer de entrar numa loja e sair de lá com publicações. Cenas old school.
Suspeito que pela Visions abro exceção. Esta revista ficou definitivamente no meu radar. Não é de publicação regular, o que é uma vantagem para quem tem de gerir bem o equilibrio entre leituras e tempo livre. E, o pormenor que me deixou interessado, é uma revista temática. Em vez de contos soltos, há uma curadoria temática nas edições. Cruza ficção de novos autores com clássicos, ensaios e ilustração de excelente qualidade. Acaba por funcionar mais como antologia temática do que revista clássica, mas não tem o peso literário deste formato. A leitura convida à reflexão. Este segundo número olha para a humanidade. A ficção traz-nos visões especulativas do cruzamento entre ciência, tecnologia e humanismo, enquanto os ensaios vão do futuro da saúde aos impactos da inteligência artificial, passando pelo potencial libertador da tipografia (leram bem, e é um ensaio que vale a pena ler, iniciando com a tipografia clássica e terminando nos emoji).
Continuo a ter um soft spot pela Asimov (que deixou de chegar a Portugal), pela Analog (inincontrável, deste que a Tema fechou) e a Interzone (de vez em quando dou com ela na Bertrand do Chiado). Mas a Visions traz algo diferente, raro nestas edições. Só a consigo comparar ao projeto de vida curta Arc Magazine, que também cruzava ficção nova e clássica, ensaio e design cuidado no desafio a ler e meditar, para quem compreende a Ficção Científica como literatura de ideias. Tenho a agradecer esta bela descoberta ao João Campos, cujo defunto Viagem a Andrómeda é para mim uma das grandes referências críticas na blogoesfera portuguesa sobre literatura de ficção científica.