domingo, 10 de maio de 2020

URL

Como observou Mário Freitas, editor e livreiro da Kingpin Books, o entretenimento é o último reduto, e fundamental nestes dias de crise e ansiedade. A pensar nisso, trazemos esta semana ficção por Bruce Sterling, ligações entre estéticas do cinema e da literatura, recordar a ficção fantástica de Alexandre Herculano. Fala-se, muito, de ensino à distância de emergência e da extensão virtual das vidas reais. Mergulhamos nas entranhas de Londres e descobrimos como se pode usar bombardeamentos para gozar com tiranos. Mas a pandemia não deixa de ser o elefante na sala, o assunto que mais nos ocupa a mente. Também trazemos uma seleção de textos que nos ajudam a enquadrar este momento, e a perceber como iremos evoluir.

Ficção Científica


Peter Elson: Laivos de Raio Azul? (Ok, há leitores que se lembre disto? Tenho ténues mem+orias de infância...)

“The Task Lamp” by Bruce Sterling (2019): Ficção nova de Bruce Sterling? Yay! Infelizmente, a história não é das mais animadoras, e imagina um mundo isolado após uma pandemia, onde os nossos percursos culturais deixaram de fazer sentido. Nos dias que correm, não é uma leitura que nos encha de esperança.


Bernard Symancyk’s 1965 cover art for Perelandra, by C. S. Lewis: Capa para uma estranha saga de Ficção Científica, do autor que se celebrizou pelas Crónicas de Narnia.

"O Crânio Uivante" de F. Marion Crawford e o Cinema de Horror "Found Footage" - Um Diálogo Inesperado: Longo ensaio, mas que vale a pena ler, que interliga a estética found footage com a literatura. Foi moda passageira no cinema de terror, mas tirando o primeiro Blair Witch Project, que surpreendeu pela inovação, depressa perdeu o interesse. O autor olha para indícios dessa técnica na obra de F. Marion Crawford, e ainda nos recorda do acordo tácito entre escritor e leitor, do qual depende a suspensão da descrença, fundamental para uma boa obra de horror.


Computer magazine, November/December 1970: Psicadelismo proto-digital.

Monstro do Pântano: o terror que revolucionou os quadrinhos: Nunca é demais recordar a importância transformadora que o trabalho de Alan Moore trouxe à DC Comics. Não só em Watchmen, essa propriedade intelectual que a editora explora de forma tão eficaz. A sua run à frente de Swamp Thing é magistral, e se hoje esse personagem voltou a decair para s segunda linha, legou-nos um outro, um personagem secundário da série que ganhou vida própria. Um mago inglês de imagem inspirada em Sting, inveterado fumador, manipulador e difícil de qualificar como herói: John Constantine.


Robert McCall, ‘Mars Arrival,’ 1987: Entre Von Braun e Musk.

Away, foul creature! But not too far.: O Portal de FC portuguesa visita a obra de Alexandre Herculano, um autor que ficou para a história como historiador, mas também nos legou literatura fantástica e de aventuras. Lendas e Narrativas e Eurico o Presbítero são obras maiores do fantástico português.

Anjos & Demónios: Ainda não vi a série, mas o livro colaborativo onde as sensibilidades de Neil Gaiman e Terry Pratchett foi das obras mais hilariantes que li, de sempre. Infelizmente emprestei o meu exemplar do livro (dica bibliófila: nunca se empresta um livro de que gostamos, é receita certa para não lhe voltar a meter a vista em cima). A Leonor Pinela analisa as razões pelas quais a adaptação para televisão está à altura do original.


70sscifiart:Jim Nichols’ UFO art: Entre OVNIs e Haunebus.

Diving into the comic vault: Pep Comics #1: Os velhos comics envelheceram mal, hoje parecem-nos patetas, simplistas e até ofensivos (alguns dos vilões eram representações iconográficas dos mais profundos estereótipos racistas). Mas foram a génese de um género que evoluiu, e hoje alterna entre o profundo e o simples entretenimento.

Tecnologia


*Spanish Flu Quarantine: As tecnologias, a derrubar isolamentos. Noutra época, tal como agora. 

Real learning in a virtual classroom is difficult: É de recordar que este impulso para a educação à distância e "na nuvem" não é, nunca poderá ser o futuro da educação. É uma resposta a uma situação atípica de emergência. Se estão deslumbrados com videoconferências, moodles, classrooms, teams, email, etc, não se esqueçam que vós, e os vossos alunos, estão a perder o essencial na educação. O contacto humano, as pequenas cumplicidades, os momentos de brincadeira, as amizades, as correrias no recreio, as chatices, as irritações, os espaços escolares, de convívio, e até de bardina fora da escola. EàD, e-learning, são soluções para situações específicas, e não o desejável caminho de uma educação equalitária, inclusiva, humanista e de preparação para os desafios de futuros incertos. Esta dos "futuros incertos" está a ser uma bofetada global do caraças, nestes dias…

A Norwegian school quit using video calls after a naked man ‘guessed’ the meeting link: Por cá, o uso de sistemas de videoconferência tem se generalizado por professores que tentam manter alguma normalidade letiva com os seus alunos. Isto, apesar ds Comissão Nacional de Protecção de Dados recomendar que a imagem de menores não seja exposta nas redes por escolas e profissionais da educação (e o não cumprimento destas recomendações traz sanções legais). Esta história junta-se à lista de razões para ponderar bem que sistemas usar para ensino à distância.

Niños sin tecnología, niños sin acceso a la educación: la escuela a distancia está acentuando la brecha social: Por cá, o ministério da educação anda em modo ineficaz, arrastando os pés e protelando o mais possível a decisão que já todos perceberam que terá de ser tomada, o não regresso às aulas no terceiro período. Entretanto, os professores vão-se preparando para ensinar à distância, e têm-no feito de forma voluntarista e orgânica, as linhas-guia superiores só chegaram quase duas semanas após a suspensão das aulas. Mas na mente de todos os docentes está esta questão: se já é difícil chegar aos que têm meios digitais ao seu dispor, como chegar às crianças sem qualquer acesso a computador, Internet ou sequer telemóvel? Não são tão poucas quanto isso. O caso espanhol é similar ao português, nisto. O princípio da educação universal fica comprometido com o acesso exclusivamente digital à educação.

The untold origin story of the N95 mask: Um pouco da evolução das máscaras de proteção médica.

How to See the World's Reflection From a Bag of Chips: Intrigante. Algoritmos capazes de reconstruir visualizações 3D a partir dos reflexos de objetos em fotografias.

Technology mediated society: É uma das nossas grandes vantagens perante a pandemia, a forma como a internet e as tecnologias digitais nos permitem passar para espaços virtuais muito daquilo que fazíamos nos espaços tangíveis da vida física.

Los 33 mejores editores de vídeo gratis: para escritorio, online y para móviles: E desta lista, afianço-vos que sem o Shotcut e o OBS Studio seria-me muito dificil ser formador à distância, e agora nestes tempos de e-learning de emergência para escolas fechadas, formador. Já os meus alunos mais criativos adoram o Kinemaster.

Medtronic Shares Ventilation Design Specifications to Accelerate Efforts to Increase Global Ventilator Production: Uma excelente notícia vinda de um fabricante de ventiladores, especialmente importante dado os esforços da comunidade Maker para desenvolver ventiladores low cost e open source para combater a pandemia de Covid-19.

Our ‘Digital Selves’ Are No Less Real: Confinados às casas pelo distanciamento social imposto pelo combate ao Covid-19, a maior parte das pessoas está a descobrir aquilo que os utilizadores mais intensivos de tecnologias já sabiam. A nossa vida virtual não é nada artificial, é uma extensão das nossas personalidades reais. Uma extensão que pode variar entre o local e o global, e tão importante a nível emocional como as conexões físicas.

Employees at home are being photographed every 5 minutes by an always-on video service to ensure they're actually working — and the service is seeing a rapid expansion since the coronavirus outbreak: Curiosamente, o serviço em si é mais pensado para socializar do que para vigilância. Agora que o teletrabalho se tornou essencial para muitas empresas e trabalhadores, iremos certamente ver um rápido crescimento de formas da empresa assegurar que o trabalhador está, de facto, a trabalhar. E se esta é bastante inócua, há outros métodos que serão totais invasões da privacidade dos trabalhadores.

World’s most essential open-source code to be stored in Arctic vault: E por falar em cenas apocalípticas: o GitHub mantém um backup de código numa mina das ilhas Spitzberg. Uma salvaguarda para uma futura civilização pós-pandémica reconstruir as linhas de código que fazem o mundo funcionar?

Modernidade



Chris Ware’s “Bedtime”: Esta capa incrível da New Yorker. Nailing it, perfeita.

Social distancing in cultural heritage GIFs: O pessoal da Europeana deve-se ter divertido à brava com estes gifs bem humorados, que cruzam o enorme património estético europeu com o corrente momento pandémico.

Hidden London – Moorgate: Dois fascínios, a cidade de Londres e os mundos subterrâneos, cruzam-se neste artigo sobre os túneis fechados da estação de metro de Moorgate. 

Memes Belong In Museums: Sim. Leram bem. E faz sentido, como forma vernacular de expressão artística totalmente nativa da Internet, onde evoluem de forma espontânea as suas estéticas, códigos e significados. 

World War II’s Strangest Bombing Mission: Um típico in your face desafiante britânico. Usar os rápidos e ágeis Mosquitos para atacar os estúdios de rádio alemães em Berlim… Nos momentos em que Goering ou outros notáveis do regime iam discursar. Não eram ataques de decapitação, antes de humilhação, um gozar à bomba com os discursos de superioridade nazi.

Get Used to It: This Lockdown Won’t Be the Last: Já todos percebemos que a pandemia de Covid-19 veio para ficar, não está fácil de travar, e continuará em ciclos à medida que o ritmo das infecções desenvolver imunidade natural e a ciência desenvolva vacinas. Entretanto, teremos de nos habituar a novas normalidades, adaptando a sociedade e a economia para vivermos num mundo sujeito ao vírus.

Coronavirus Just Took an Entire U.S. Aircraft Carrier Out of Commission: Não foi preciso um super-míssil hipersónico, ou um ataque de una armada combinada naval e aérea. Bastou um vírus para colocar fora de combate um elemento da mais potente força de combate aeronaval do mundo.

We’re not going back to normal: Sim, mas… na verdade, voltaremos. A um novo normal que evoluirá deste momento de crise. A pandemia de Covid-19 tornou-se uma tremenda força disruptora global, e após a crise e primeira resposta, vai obrigar a repensar muita coisa na sociedade global.

Yuval Noah Harari: the world after coronavirus: Uma análise afiada à forma como podemos reagir e agir à pandemia, mantendo os princípios de uma sociedade global progressista. Mas, como observa amargamente no final, não há adults in the room. As estruturas globais que deveriam discutir respostas coordenadas mal se mexem, as lideranças de países determinantes são irresponsáveis. Até mesmo a União Europeia se mostra desunida na resposta a um problema que toca a todos.

How to Survive the Blitz: Os bombardeamentos alemães a Londres durante a II Guerra são um exemplo de como uma situação de catástrofe desperta a resiliência das populações. De certa forma, a corrente crise pandémica espelha alguns dos aspetos do Blitz, não só pela forma chocante como atacou, mas também pela forma como a sociedade civil se está a mobilizar para combater esta ameaça. Nisto, não há melhor exemplo do que os esforços grassroots do movimento Maker, que mobilizou uma rede nacional de criadores e empresas para usar impressoras 3D e máquinas de corte laser para criar equipamentos de protecção e ajuda aos que estão na linha da frente do combate ao covid-19.

How will coronavirus change the world?: Qual será o novo normal a que regressaremos? Esperemos que a um mundo que valorize mais o que realmente é importante. A vida, os cuidadores, as profissões que sustentam a sociedade, e não a mera maximização do lucro a todo o custo. Se há algo que esta crise nos está a ensinar, com a força de uma chapada, é a importância dos serviços sociais como base de uma sociedade, e economia, funcionais. Sem querer entrar em despiques ideológicos, sem sistemas públicos de saúde, uma pandemia viral torna-se muito mortífera, muito depressa. E quando estes estão reduzidos ao mínimo por desinvestimento, qualquer sobrecarga quebra-os, e o resultado mede-se em vidas humanas.

It’s 10 o’clock in Lausanne and all is not well: Tradições que nos recordam a longevidade da cultura humana. Em Lausanne, a tradição de ter um sineiro que anuncia as horas é um tesouro cultural mantido. Nos dias que correm, o sino volta a soar com toque de alarme.