terça-feira, 10 de março de 2020

Slow Horses


Mick Herron (2010): Slow Horses. Nova Iorque: Soho Crime Press

Este é daqueles trocadilhos óbvios em inglês, mas que tem de ser explicado em português. Slow Horses são cavalos lentos. Mas no livro, vem da pronúncia de Slough House, um departamento dos serviços secretos para onde são despachados os agentes incompetentes, ou caídos em desgraça. Como não os podem despedir, relegam-nos à inutilidade em funções que não servem para nada. Os slow horses são um exato inverso de James Bond.

E, no entanto, quando o rapto de um jovem de origem paquistanesa por um grupo de supremacistas brancos, completo com promessas de decapitação da vítima ao vivo na Internet choca o Reino Unido, serão os agentes incompetentes que acabarão por salvar o dia. Não de forma especialmente heróica - notem que não são as lâmpadas mais brilhantes na iluminação. Mas porque se apercebem que estão a ser manipulados por agentes daqueles a sério, que orquestram um falso rapto para cair nas boas graças de uma potência estrangeira. Acicatar ódios racistas para ganhar pontos nos jogos geopolíticos é uma estratégia arriscada, e previsivelmente falha. Em parte porque nem todos os cavalos lentos são incompetentes. E em grande parte pior que agentes medíocres, são os brutamontes da supremacia branca, para quem o epíteto de idiotas sugere uma inteligência superior à que realmente têm (por cá não é diferente).

As premissas do romance de espionagem são muito bem desconstruídas neste livro divertido. A prosa é leve, se bem que um pouco confusa no constante saltitar de pontos de vista narrativos. A história brinca com os jogos de secretismo e as manobras de políticos cuja caricatura é demasiado similar à correntes políticos britânicos (a parte de um sem carácter manipulativo de cabelo esgroviado é uma óbvia sátira a Boris Johnson, e bolas, se no livro ele estava disposto a tudo para eventualmente chegar ao poder, no mundo real realmente chegou ao poder).