terça-feira, 24 de março de 2020

El Gaucho


Hugo Pratt, Milo Manara (1995). El Gaucho. Lisboa: Meribérica/Liber.

De Hugo Pratt sabemos que podemos esperar uma boa história de aventuras, com raízes na história mas andando por aquelas paragens do mundo onde os acontecimentos não costumam deixar mais do que pequenas notas de rodapé nos livros de história. De Manara, sensualidade, não só a do erotismo mas a de um traço limpo e rigoroso. Eu sei, nas vinheta de Manara o olhar detém-se sobre alguns pormenores específicos, mas se prestarem atenção ao que está à volta, descobrem que não foi só um excelente desenhador do corpo feminino).

Da conjugação destes dois gigantes da banda desenhada italiana nasceu este livro. Um mergulho na história do século XIX, no ocaso do império espanhol, nos tempos em que a marinha britânica espalhava os tentáculos do império inglês pelo mundo. Somos levados ao que para nós é um recanto obscuro da história, a uma Argentina indecisa entre o reino espanhol e a independência. Uma indecisão que uma frota britânica quer ajudar a resolver, sabendo que uma independência abre novos mercados e esferas de influência.

Sob esse pano de uma geopolítica esquecida seguimos a história de Tom, um soldado apaixonado por uma das raparigas irlandesas que, vendidas para prostituição, seguem para o degredo na Austrália. Mas que, durante o caminho, têm de prestar serviço aos oficiais da marinha. Algo que revolta o jovem soldado, que ao oferecer-se para uma missão de reconhecimento e ligação com escravos revoltosos, acaba capturado por argentinos fieis ao regime. Entretanto, Buenos Aires cai, mais pela traição do governador do que pelo poderio militar do regimento britânico atacante, e um grupo de marinheiros e raparigas, onde se inclui a jovem pela qual o soldado se apaixonou, aproveita para fugir e procurar a liberdade no continente sul americano. Após o natural reencontro, optam por acreditar numa amnistia britânica a todos os ingleses e escoceses fugidos na Argentina, mas não terão a liberdade que almejam. A rapariga acabará na ponta de uma corda, e quanto ao rapaz, sabemos que sobrevive porque, cem anos depois e no meio de uma limpeza dos argentinos a territórios índios, conta a sua história a um soldado incrédulo.