domingo, 9 de fevereiro de 2020

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Ficção Científica



Jim Burns, “Nomad Industrial Complex”: Burning chrome?

Fallece el visionario Syd Mead, el influyente diseñador conceptual de películas como 'Aliens' o 'Blade Runner': Mead foi muito mais do que isto. Designer influente, com uma visão muito marcante das estéticas do futuro. O cinema trouxe-o às massas, mas os conhecedores de ficção científica percebem o profundo impacto da sua obra. Junta-se a Bonestell como um artista que influenciou as estéticas do fuutismo.


Celebrating the Art of Vaughan Oliver #ArtTuesday: Isto faz esta edição das Capturas soar a especial obituarios, mas infelizmente, sic transit mundi. Este é provavelmente um daqueles artistas visuais que todos conhecem o trabalho (ou, pelo menos, aqueles para quem a música não se esgota nos artistas comerciais) mas não sabem quem era.


nelc: Andrey Sokolov, Space Settlement: Se prestarem atenção, há um engarrafamento de Space Shuttles.

Happy Public Domain Day 2020!: Pelo menos, nas obras abrangidas pela legislação americana. Tudo o que foi publicado em 1924 é agora domínio público. Alguns exemplos: a fabulosa Rhapsody in Blue de Gershwin, ou o livro A Passagem para a Índia de E. M. Forster.


Douglas Chaffee’s cover for the January 1969 issue of ‘Worlds Of: Das capas das influentes revistas de ficção científica.

Can monoculture survive the algorithm? And should it?: Da visão de uma cultura popular comum à fragmentação trazida pelas plataformas. Lamenta-se o aparente fim de uma apreciação cultural comum, mas não se nota que a curadoria algorítmica está a trazer uma nova cultura que todos vêem. Mas sobre isto das culturas partilhadas alegremente por todos, essa visão bucólica dos bons velhos tempos, é mais isto: "Monoculture is a Pleasantville image of a lost togetherness that was maybe just an illusion in the first place, or a byproduct of socioeconomic hegemony. It wasn’t that everyone wanted to watch primetime Seinfeld, but that’s what was on, and it became universal by default". A grande diferença hoje é que há muito mais para ver, não só conteúdos como canais de distribuição. O que se torna comum não é o que está a dar, mas o que causa impacto, e o corolário disso são programas pensados para causarem impacto memético nas redes sociais. Um passar do tempo que se via só o que está a dar para o vemos porque o meme viral despertou a atenção.


70sscifiart:“I’ve been trying to get rid of wheels since 1963”: Escrevo estas linhas poucas horas depois de saber do falecimento de Syd Mead. Perdemos um gigante, ficamos com a obra, da qual as estéticas inesquecíveis de Tron ou Blade Runner são a ponta do iceberg. Mead fica para sempre sinónimo de futurismo estético.


White Squadron Space Adventures: visual FC muito clássico, sem identificação de autor.

How Oxford – And JRR Tolkien, And CS Lewis – Turned English Curriculum To The Past And Kept English Fantasy There As Well: Porque é que que a fantasia tem uma estética tão saudosa do medievalismo? Culpa do gosto marcado dos Inklings pela literatura desses tempos. A sua influência estética e iconográfica ainda hoje é dominante na literatura fantástica, de Harry Potter (sim, antes de ser filme, foi uma série de livros) a A Song of Fire and Ice (aka Game of Thrones para os tvheads entre vós).


Illustrations from the Soviet Children’s Book Your Name? Robot, Created by Tarkovsky Art Director Mikhail Romadin (1979): Imagens cuja estética me deixam indeciso entre o interessante e o bizarro. Até porque há um pouco de ambos, neste livro infantil soviético sobre robots.



Photo: Sem autor creditado, sem se perceber de onde vem, mas nem por isso menos interessante.

Before Home Video, Science-Fiction Fans Worked Harder to Keep Fandom Alive: As agruras de se fazer parte do Fandom nos tempos em que a acessibilidade do audiovisual era limitada. Muita atenção à programação televisiva, e truques como gravar o áudio dos programas, ou fotografar o ecrã do televisor. Coisas de fãs, que mais tarde permitiram reconstituir episódios perdidos de séries que se tornaram de culto.

Dementia 21. Shintaro Kago (Fantagraphics): Não é um autor para estômagos fracos, como observa Pedro Moura, é um dos mangaka que se insere profundamente na categoria do weird shit. Este livro parece um  pouco afastado dos excessos mais exóticos do autor.

Ahora que Netflix, Amazon y HBO apuestan por ciencia ficción y fantasía, estos son los libros y sagas que darían para una gran serie: Todos os fãs profundos de cultura geek têm um livro, ou série literária, que gostariam de ver adaptada a série televisiva. Bem adaptada, entenda-se, porque se há uma coisa que durante muito tempo caracterizou a televisão (e cinema) de ficção científica e fantástico foi a forma como usava o género para criar produtos audiovisuais mesmo muito fraquinhos. Hoje, na era das séries televisivas complexas e com altos valores de produção, é algo que não acontece. E… qual seria o meu livro ou série literária meritória de adaptação televisiva? Boa pergunta. Vou só ali à biblioteca pensar nisso. Eventualmente, emergirei de lá com  uma resposta. Mas é melhor esperarem sentados, a coisa vai demorar.

The Surprise and Wonder of Early Animation: A New Yorker a fazer arqueologia do cinema de animação, recordando-nos que no YouTube se podem encontrar filmes clássicos dos primórdios deste género.

Herzog’s Eerie Prose Script for Nosferatu the Vampyre: Se o filme original é uma obra prima do cinema, levando o expressionismo alemão do período entre guerras aos limites do horror, a vénia tardia de Herzog não lhe fica atrás. Filme sombrio e obsessivo, usa as estruturas do horror para explorar traumas doentios. Agora aparece esta versão do guião escrito por Herzog, em modo de romance e não de tradicional guião cinematográfico.


‘Saturn Ring and Space Shuttle’ by April Lawton: Podemos sempre sonhar.

Tecnologia


Electric Cars Threaten the Heart of Germany’s Economy: Quando a economia industrial de um país é fortemente dependente do motor a combustão, a transição para veículos elétricos pode significar uma razia. Não só nos grandes fabricantes, mas no ecossistema de pequenas e médias empresas altamente especializadas que constroem componentes para automóveis. Passa daí para os empregos, e toda a economia sofre. E se este artigo parecer algo distante da nossa realidade, note-se que um valor muito significativo do nosso PIB vem da indústria automóvel. Vamos sentir estes impactos.

The Crazy Story of How Soviet Russia Bugged an American Embassy’s Typewriters: Hacking analógico genial e elegante dos tempos pré-digitais da Guerra Fria. Modificar de forma quase imperceptível os mecanismos de máquinas de escrever para keylogging permitiu aos soviéticos espiar as comunicações da embaixada americana em Moscovo, e foi quase impossível descobrir o como.

Así usamos el tablet: desde los que lo tienen metido en el cajón hasta los que lo han usado para sustituir al portátil: Para lá dos números, há uma clivagem enorme na forma como se usam tablets. Para a maioria, serve para aceder a redes e consumir conteúdos. Ou seja, nada que um telemóvel não sirva, só no vídeo é que o ecrã maior apresenta vantagens. Mas há um nicho de pessoas com profissões criativas, para as quais a portabilidade do tablet o transformou em ferramenta de produtividade. Para quê arrastar portáteis no dia a dia, se um tablet cabe em qualquer mala e é leve? Talvez o caso de uso mais intrigante seja o de um editor de vídeo que usa o seu iPad para trabalhar com  vídeo. Arquitetos, jornalistas, pessoas que criam percebem o real potencial destes dispositivos que estão entre o smartphone e o computador. I can relate. Escrevi estas notas num tablet.

Inter-Networking: Mais um brilhante ensaio sobre a proto-história da Internet, desta vez focado nas discussões e tecnologias que deram origem ao protocolo TCP-IP. Um pormenor interessante, detalha um pouco o desenvolvimento da rede francesa Cyclades, uma das redes precursoras da Internet.

The 2010s were supposed to bring the ebook revolution. It never quite came.: Não que os livros eletrónicos sejam um caso de falhanço. Mas não substituíram o livro físico, apesar de todos os esforços nesse sentido. Parece que, afinal, a sensação de fisicalidade do livro enquanto objeto é importante, mesmo na era digital. Os ebooks são pertinentes e um nicho importante, mas as visões catastróficas de bibliotecas inteiras transformadas num único dispositivo não se concretizaram.

Too Much Combustion, Too Little Fire: É sempre interessante ler as esparsas publicações do Low Tech, um blog dedicado a procurar soluções de baixa, ou sem, tecnologia. Para além da ironia de o ler num suporte eminentemente tecnológico, nem sempre pode ser lido. Se estiver nublado em Barcelona, onde vive o seu autor, não há energia vinda do painel solar para alimentar o servidor que aloja este blogue. Piadas à parte, o importante neste projeto é a forma como nos obriga a pensar a relação de simbiose que temos com as tecnologias. Recorda-nos que nem sempre foi assim, e que apesar da ubiquidade das infraestruturas, estamos sempre a um passo de ficar sem a energia que alimenta os dispositivos dos quais dependemos.

Subterranean Uses for LIDAR: Cave Surveys: Não, o LIDAR não serve só para passar multas na auto-estrada. Neste artigo do Hackaday, uma demonstração como usar um LIDAR diy para mapear zonas subterrâneas. Um projeto giro para espeleólogos ou urban explorers. Até porque conjugando várias capturas, conseguem uma nuvem de pontos que mapeia o espaço em 3D.

The Thermodynamics Behind the Mac Pro, the Hypercar of Computers: Seja-se fã ou não da Apple, há que reconhecer o cuidado que a empresa tem na engenharia das suas máquinas. Algo tão aparentemente não fundamental como o ruído causado pelos sistemas de dissipação de calor é estudado ao extremo, em busca da máxima eficácia.

A Self-Driving DeLorean Is Taught How to Drift: Yay, já podemos ter um Fast and Furious: Artificial Intelligence Drift, se essa for a vossa cena.

Sky shepherds: the farmers using drones to watch their flocks by flight: Cão-pastor, mais uma profissão ameaçada pela robótica. Na verdade, parte do artigo fala da forma como estes animais depressa se habituaram a colaborar com drones no arrebanhar dos rebanhos. Mais uma nota da forma como as tecnologias encontram usos não programados, ou como disse William Gibson, the street finds a way.

The Architects of Our Digital Hellscape Are Very Sorry: Sim, terrivelmente entristecidos pelas consequências das plataformas digitais que montaram. Estão sempre a chorar no caminho para o banco, para depositar os milhares de milhões que lucram com este estado das coisas.

Robôs domésticos, de socorro ou médicos. A realidade já esteve mais longe da ficção: Uma visão de futuro próximo, alicerçada na investigação em robótica que se faz hoje.

Video games: scourge or savior?: Três artigos antigos da MIT Technology Review, que mostram bem a forma polarizada como olhamos para os jogos de computador.

“They’re abysmal students”: Are cell phones destroying the college classroom?: Geralmente abordo esta questão pelo ângulo do potencial do telemóvel como ferramenta educativa, mas aqui há outros fatores a ter em conta. Não é muito surpreendente saber que alunos de cursos superiores passam as aulas a prestar mais atenção aos seus dispositivos do que à aula em si. A falha aqui é mais de ética, ou em bom rigor, de auto-controlo. Não nos podemos esquecer que os telemóveis são concebidos intencionalmente como elementos que nos captam a atenção, e estamos todos vulneráveis a isso. Especialmente se formos estudantes entediados numa aula. Recordo o meu próprio padrão de distratividade, com e sem tecnologias, como aluno dos vários graus superiores que frequentei, e diria que o padrão recai muito sobre a aula e o professor. Aqueles que eu sabia que a competência era duvidosa, e tão ineficazes nas suas aulas que, francamente, ler a bibliografia de base não só bastava como era mais interessante, eram exatamente aqueles cujas aulas passei a desenhar (só mais tarde rendido às distrações da Internet). Mas mesmo numa aula interessante, a tentação de fazer uma pausa mental verificando mensagens e redes sociais é grande. Nas aulas que frequentei mais recentemente, senti-me na necessidade de me recusar a ceder a esta tentação. Tive de me forçar a não ligar dispositivos móveis, ou a abrir separadores em navegadores quando a trabalhar no computador em aula. Mesmo com os professores menos interessantes. Parte do problema está aqui, nesta necessidade adquirida de estar sempre curioso com  o que se passa nas redes. É fácil resumir esta questão ao argumento "são alunos baldas e mal educados". A resposta mais otimista, mudar estratégias para aulas mais práticas, também não responde a tudo. Por vezes, a entediante prelecção pode ser a melhor introdução a um tema, e temos de saber focar a nossa atenção. A nossa incapacidade de auto-controlo no uso de dispositivos móveis tem sido muito bem explorada pelos designers de interface a trabalhar para maximizar a atenção dada a conteúdos digitais. Não há o contrário, um despertar para as problemáticas de adição que isto nos traz, sem ser de um ponto de vista moralista totalmente ineficaz e contraproducente. Uso responsável de dispositivos móveis não é, como na imagem que ilustra o artigo, deixá-los em cacifos, mas sim perceber que esta desatenção é uma consequência intencional da forma como as aplicações estão desenhadas, e aprender a lidar com isso. Posto isto, é de notar que antes de haver telemóveis e Internet, já havia estudantes desatentos. Muito desenhei eu em muitas aulas que nada tinham a ver com desenho…

This timeless piece of “body art” of people having sex in an MRI turns 20: Se estão em busca de imagens estimulantes da imaginação ou outras sensações, estas não são as imagens que procuraram. São significativas por mostrarem a fisiologia do ato sexual, o que realmente se passa nos corpos. Curiosamente, algo que Da Vinci já tinha feito com os seus desenhos anatómicos.

Ya hay universidades que saben que no vas mucho a clase o a la biblioteca y no están en China, sino en EE.UU.: O rastreamento em tempo real dos alunos como ponto positivo no ensino superior. Combinando sensores e aplicações, regista-se a assiduidade dos alunos, com métricas transparentes e acessíveis a todos. O objetivo é o de condicionar comportamentos, levando a que os alunos não faltem a aulas através da exposição pública dos seus comportamentos. Até há um lado gamificado, com pontos pela assiduidade. É sempre interessante notar que aplicações tecnológicas que, se introduzidos noutros contextos, consideraríamos graves atentados à liberdade e privacidade individual e coletiva, são considerados muito positivos quando aplicados à educação.

Modernidade

What John Dos Passos’s “1919” Got Right About 2019: Um discurso fragmentado, feito de recortes fluídos de informação. Um elemento narrativo intersticial da grande narrativa que é a trilogia USA, capturou nos anos vinte aquilo a que hoje nos habituámos nos fluxos de informação digital.

'No Way In or Out': Australians Are Fleeing to the Beach to Escape Deadly Wildfires: Repitam comigo: o aquecimento global é real. Se há zonas cujo clima natural as torna propensas a fogos de verão, a instabilidade introduzida pelas alterações climáticas transforma-os em verdadeiras catástrofes. A Austrália mostra algo que, por cá, também já aconteceu. E vai piorar.

What U.S. Intelligence Thought 2020 Would Look Like: Predições. Acertam-se algumas, falham se outras. Mas há tendências que se podem observar e registar.

The Rise of the Architectural Cult: Dá para perceber que nem o autor do livro nem o crítico gostam de arquitectura moderna, e grande parte do texto é uma procura de argumentos para justificar o que é obviamente uma reação visceral. Mas não estão errados nalgumas críticas que fazem ao alto modernismo, especialmente na sua fácil replicabilidade, que se traduz numa monotonia do cimento armado, ou na falta de atenção às culturas locais trazida por um estilo internacional. De resto, isto foi escrito por pessoas para as quais o desejável seria que a inovação estética nas artes tivesse congelado no final do século XIX.

A medical insight in Michelangelo's David, 'hiding in plain sight': Não, não tem a ver com a zona genital, seus marotos. Nesta sua obra-prima, Miguel  ngelo retratou David com uma jugular proeminente, algo que só acontece quando se está em estado de excitação física. Isto é não só conhecer a anatomia, mas saber que anatomia caracteriza uma determinada pose.

Out of Left Fields: Dutch Land Art Installation Cuts Area Airplane Noise in Half: Intrigante. Um cruzamento entre arte, arquitectura, urbanismo e ambientalismo, num projeto que reduziu o impacto sonoro de um aeroporto, criando em simultâneo uma área pública para desfrute de todos.

How Culture Was Used As A Weapon During The Cold War: Não se vence uma guerra apenas com poder militar. Bem, nos bons velhos tempos em que exterminar populações inteiras era visto como uma ação de excelência, aí sim, bastava passar a fio de espada quem discordasse dos vencedores. Felizmente, evoluímos. A terceira grande guerra do século XX foi, acima de tudo, um combate ideológico. Teve pontos quentes por afinidade, em conflitos regionais onde as grandes potências se defrontaram subtilmente, mas nunca descarrilou num cenário de guerra total, que culminaria no pesadelo da guerra termonuclear global. Os combates diretos passaram-se noutros campos, e é bem conhecido, se bem que pouco analisado, a importância dada à literatura em ambos os blocos. Escritores e obras que tiveram destaque e promoção pela forma como as suas palavras eram armas no combate de ideias. Em tempo de guerra não se limpam armas, e em tempo de guerra fria não se limpa a tinta da pena.

What’s Funny Changes. And So Does Comedy: O humor é essencialmente algo específico a épocas. O que nos faz rir agora não o fará aos nossos sucessores, tal como olhamos com arrepios incrédulos e sensação de horror perante o humor do passado. É normal, faz parte da forma como vivemos o nosso tempo. O que parece não mudar é a profunda alergia que fundamentalistas de qualquer religião têm à liberdade de expressão, sempre que esta exprime algo que não gostam.