Mark Waid, et al (2005). Superman: Birthright. Nova Iorque: DC Comics.
Um recontar modernizado da origem do super homem, alinhado com a série televisiva Smallville. Lex Luthor é, como sempre, o grande vilão, e demonstra conhecer a origem kryptoniana do herói melhor do que ele mesmo. Já este é um jornalista freelancer que se junta aos serviços de imprensa digital do Daily Planet, adorando uma persona tímida, para poder estar no centro das notícias e saber onde tem que intervir como herói. Algo em que está a dar os primeiros passos, adotando o uniforme porque das poucas vezes que revelou o que consegue fazer enquanto simples humano, só se depara com medo e incompreensão. O uniforme é a forma que é encontrou para desviar as atenções. Medo e incompreensão é exatamente o que Luthor explora na sua primeira grande luta contra Superman, onde consegue criar ilusões de uma invasão kryptoniana para espalhar o medo em Metropolis.
(2019). Generations. Nova Iorque: Marvel.
Uma das coisas mais interessantes que a Marvel fez nos tempos recentes foi renovar as suas personagens, apostando na diversidade. Uma escolha consciente, que trocou os heróis clássicos de queixo quadrado, e mulheres esculturais, por personagens mais representativas da diversidade humana. Generations é uma linha narrativa que os cruza, levando os novos personagens ao passado e ao futuro para se encontrarem com os seus antecessores. Amadeus Cho, o novo hulk asiático, cruza-se com Bruce Banner. A adolescente Jean Grey (longa história, há toda uma temporada dos X-men em que as suas versões adolescentes são atiradas para o nosso presente, seu futuro) cruza-se consigo própria enquanto Fénix. A nova Hawkeye tem uma aventura com o passado de Clint Barton, o original arqueiro da Marvel. O pomposo Capitão Marvel dos anos 80 (desenvolvido por Jim Starlin no seu lado mais cósmico) é ajudado pela Capitã Marvel, umas das personagens mais Sci Fi da Marvel. Ironheart vai ao futuro, descobrindo uma utopia criada por Iron Man. A Thor cruza-se com um incrédulo Thor, ainda incapaz de pegar no seu Mjolnir. A muçulmana Ms. Marvel mergulha no passado para se cruzar com a clássica Ms. Marvel. Miles Morales é transportado à Nova Iorque dos anos 60, colidindo com Peter Parker. E, para encerrar o arco narrativo, o Falcão Negro vai ter uma nova vida do passado ao presente, com o inevitável cruzamento com o icónico capitão América. A série é interessante por cruzar as bases conceptuais da Marvel clássica, com o seu foco em heróis brancos e largamente masculinos, com a diversidade de género, etnia e cultura da Marvel atual. Suspeito que fãs mais antiquados não apreciem muito estes novos heróis, e fiquem nostálgicos pelos "bons velhos tempos" (quando Thor se tornou uma mulher, foi um escândalo), mas se se quiser que os comics se mantenham um género relevante, têm de se adaptar à cultura de diversidade e não manter um foco restrito.
Chris Claremont, Alan Davis, et al (2018). X-Men: Reload By Chris Claremont Vol. 1: The End of History. Nova Iorque: Marvel Comics.
Um mergulho no trabalho do argumentista que definiu os X-Men, com arcos narrativos originalmente publicados nos anos 90. Claremont leva uma equipa em expansão de aventura em aventura, sempre com a missão de ajudar humanos e mutantes. Nestes arcos narrativos, os mutantes são uma força legal de intervenção global, para ajudar a conter mutantes cujos poderes se manifestem de forma catastrófica. E a missão da escola continua, agora com antigos adversários a integrar a equipa. Mas os seus velhos inimigos não se afastaram. Os X-men terão de enfrentar uma ameaça cibernética quase capaz de os aniquilar, as maquinações do Hellfire Club e seus sucessores, dinossauros inteligentes que querem dominar a Terra Selvagem e todo o planeta (Claremont compreende a bizarria inerente aos comics), o surgir de uma mutante similar a wolverine, o ressurgir da falecida Psylocke, um recontro com murder world de Arcade, um toque de x-babies durante uma incursão de Mojo ao nosso universo, e uma daquelas histórias onde nada acontece, mas são essenciais no trabalho de Claremont, onde os estudantes que continuam o legado do Professor X celebram o natal.
Foi com Claremont que descobri os X-Men, o que significa que o meu apreço pelo seu trabalho tem um toque de nostalgia. Mas também li muitos comics na adolescência que não sobreviveram ao teste do tempo. O que me agarrou aos X-Men clássicos foi a forma como Claremont os abordou. A ação é contínua, há sempre um elo entre os arcos narrativos que mantém a continuidade da leitura. Mas não é esse o segredo do seu sucesso. Claremont aprofunda os seus personagens, quer através das suas histórias pessoais, mas especialmente pelos seus relacionamentos. Os seus X-Men oscilam entre aventura imparável ao estilo dos comics, e telenovela de relações, encontros e desencontros, amizades postas à prova mas que se reforçam, e o sentido moral de se fazer parte de uma minoria perseguida, mas sem ceder à tentação de revolta violenta. Essa mistura de ingredientes transformou os X-Men de um título de segunda linha numa das séries mais interessantes da Marvel.
Algo que não se tem notado recentemente, mas isso tem a ver com disputas sobre propriedade intelectual. Antes de avançar com o seu universo cinematográfico, a Marvel cedeu os direitos de spider man, Fantastic Four e X-Men a outros estúdios. Não gostou da experiência, e reagiu à incapacidade de recuperar esses direitos para incorporar os personagens no seu universo fílmico reduzindo o interesse nos comics originais. Fantastic Four praticamente desapareceu. Os X-men têm tido uma existência tumultuosa, fortemente alterados nas suas bases, mas têm-se mantido parte do universo da Marvel. Agora estão entregues a Jonathan Hickman, que lhes está a fazer um interessante, embora grimdark, reboot. No entanto, a capacidade de gerar empatia com estes personagens que Claremont foi capaz de criar nunca mais se repetiu. Qualquer leitor conseguia identificar-se com as fraquezas e o humanismo elementar dos X-Men clássicos. Isso, perdeu-se com as tropelias editoriais.