quinta-feira, 3 de outubro de 2019

The World Of Tiers



Phillip Jose Farmer (1986). The World Of Tiers. Londres: Sphere Books,

Deteto um certo padrão na obra que vou conhecendo deste escritor de FC clássica. Mistura muito claramente FC com fantasia, em histórias de aventuras que se passam em espaços exóticos e selvagens, com criaturas de fábula. No entanto, a base narrativa é sempre de FC. Ou são planetas artificiais criados por alienígenas para experiências para compreender a humanidade (estou a pensar na série Riverworld), ou são mundos criados por seres cuja tecnologia avançada os faz assemelhar a deuses, mas que se perderam em rivalidades lutas internas.

É o caso deste World of Tiers, onde o palco é um mundo artificial em camadas, cada qual habitada por mutações geneticamente induzidas de seres retirados da Terra. Cada nível tem a sua inspiração, que se traduz na geografia e nos seres que nela habitam. Há um inspirado pela Grécia antiga, com ninfas, sátiros, harpias e humanos. Outro inspira-se nas américas, com sucedâneos de índios americanos e pré-colombianos, centauros, e até um tipo de vikings. O nível seguinte mistura o feudalismo de cavaleiros teutónicos com civilizações de inspiração árabe. Antes de se chegar ao topo, no magnífico palácio do senhor do mundo, ainda há um nível inspirado na Atlântida.

São romances divertidos, mas lê-los em sequência rápida faz notar que são fundamentalmente formulaicos. O primeiro romance estabelece o mundo ficcional, e aplica a fórmula de périplo/aventura, em que os personagens superam inúmeras peripécias.

Maker of Universes: Prestes a reformar-se, um antigo professor universitário de línguas clássicas depara-se com um mistério na casa que pretende comprar com a esposa para passar a reforma. Um estranho artefacto esquecido num armário abre um portal para um misterioso mundo selvagem. O homem, farto da esposa e da vida morna que leva, não hesita em atravessar a passagem e mergulhar num novo e estranho mundo. Um mundo que descobrirá ser artificial, composto pela sobreposição de vários níveis, cada qual correspondente a uma visão mítica da Terra. O primeiro nível é uma variante da Grécia antiga, e nele irá começar a descobrir a verdade sobre o mundo artificial .

Criado por seres de uma civilização extra-espacial como recreio pessoal, este é um de muitos mundos artificiais onde os sobreviventes desta antiga civilização se fazem de deuses. A sua ciência futurista permite geografias que violam as leis da física, e povoam os seus mundos com espécimes trazidos de outros planetas. Este mundo foi criado por um amante da Terra, e divide-se em quatro zonas que replicam zonas míticas terrestres. Ao chegar, apaixona-se por uma dríade, que acabará raptada por estranhos seres selvagens que querem capturar os artefactos que permitem a passagem entre mundos. Seres ao serviço do senhor destes mundos em terraço, que o homem terá de atravessar para recuperar a mulher e o artefacto. Com isso, viverá grandes aventuras na companhia de outro exilado da Terra, e irá descobrir a verdade sobre si próprio. Irá recuperar a memória, apercebendo-se que é o senhor original destes mundos em terraço.

The Gates of Creation: Na segunda aventura de Wolff, o senhor de mundos transformado pelo seu lado humano, este ver-se-á envolvido em mais uma perigosa aventura. Começa com o rapto da sua companheira humana, aparentemente às mãos do seu próprio pai, que o desafia a dar-lhe caça. A sociedade destes poderosos senhores não se caracteriza pela bonomia nas relações. Estão constantemente a tentar aniquilar-se uns aos outros, e as relações filiais não são empecilho a violências ou facas espetadas à traição. Para recuperar a sua amada (ser raptada parece ser um tema recorrente nestas histórias), terá de dar caça ao próprio pai, talvez o mais poderoso dos senhores de mundos. Terá de superar os puzzles complexos dos diversos mundos que atravessará para chegar ao assento de poder familiar. E terá a companhia dos irmãos e irmã nesta luta, também cooptados para uma reunião familiar de contornos com extremo prejuízo. O final da aventura trará uma revelação e uma traição. Mas a argúcia e imaginação de Wolff, arrancado pelo seu humanismo ao marasmo decadente da sua espécie, demasiado acomodada a um poder cujas bases técnicas e científicas já não é capaz de compreender.


A Private Cosmos: No primeiro livro da série World of Tiers, há um personagem secundário que praticamente rouba o protagonismo ao principal. Este, Kickaha, é um terrestre que se descobriu no mundo artificial graças a um artefacto que encontrou quando era soldado. E, nos diferentes níveis do mundo, despertou o seu sentido de aventuras, explorando tudo e tornando-se uma lenda entre as várias culturas. Adorado por uns, caçado até à morte por outros, mas sempre capaz de dar a volta por cima. Agora, com o senhor do mundo fora, a viver as aventuras do livro anterior, cabe a Kickaha a aventura principal: nada menos que defender-se de invasores que estão a tentar dominar todos os mundos dos Senhores. Mas estes são uma espécie à parte, seres artificiais criados há muito, que após milénios de hibernação foram despertos, e procuram vingar-se dos seus criadores. Kickaha irá unir forças a uma Senhora, que acabará por conquistar com o seu humanismo.