quinta-feira, 4 de outubro de 2018
AIQ: How People and Machines are Smarter Together
Nick Polson, James Scott (2018). AIQ: How People and Machines are Smarter Together. Londres: Bantam Press.
No que toca a livros que sirvam de introdução à Inteligência Artificial, The Master Algorithm de Pedro Domingos é a grande referência contemporânea. No entanto, apesar de profundo e abrangente, esse não é um livro que se compadeça dos leitores mais leigos. Denso, pesado, dá-nos de facto um panorama do estado da arte em IA e possibilidades futuras, mas não é fácil de levar até ao fim. Algo que não acontece neste AIQ.
Claro que AIQ não tem o objetivo de tentar mostrar como se podem unificar as diferentes vertentes da IA. Este pretende ser, e consegue-o, uma introdução aprofundada aos domínios da IA. É profundo mas não é denso, sendo compreensível pelos comuns mortais que não matutam profundamente em lógica e matemática probabilística no dia a dia. Um pormenor intrigante é que cada capítulo explora uma vertente da IA indo à história da ciência. É essa a grande lição deste livro, o percebermos que as técnicas e a matemática por detrás dos correntes avanços na Inteligência Artificial têm raízes na astronomia, matemática e outras ciências do iluminismo ao século XX.
É curioso pensar que o motor da IA, a matemática, algoritmia e probabilística, antecede e muito a corrente revolução em Inteligência Artificial. O que permitiu a sua explosão foi a combinação tripla de estruturas matemáticas, hardware acessível e potente, e a vastidão de dados possibilitados pela internet. Combinado algoritmos com processamento e big data, podemos tirar partido do poder da IA.
É de notar que os autores depressa desmontam o mito da IA como uma consciência super-inteligente. São mais terra a terra, mostram-nos que os avanços nestas tecnologia acontecem na forma restrita. Quer sejam os algoritmos de predição de produtos com que interagimos nas lojas online (ou no Netflix), algoritmos de reconhecimento de imagem, produtos como o Alexa, que agrupam tecnologias de processamento de linguagem natural com algoritmos de pesquisa e de predição com base no perfil do utilizador, sistemas de navegação por gps, processamento de dados financeiros (na banca, seguros, ou no IMTT, que está a usar uma ferramenta de IA para processar multas rodoviárias). Não são seres artificiais inteligentes, são ferramentas poderosas em aplicações muito específicas. São inteligentes, de formas muito específicas. Comportamentos inteligentes não significam consciência, na natureza encontramos exemplos disso, exames de abelhas ou formigas apresentam comportamentos complexos e estigmérgicos.
AIQ não nos mergulha tão a fundo na IA que poderemos temer o afogamento. Mantém-se leve, acessível, e dá-nos uma visão surpreendente e profunda da evolução e impactos de uma tecnologia que já está a influenciar a forma como vivemos.