Tom King, et al (2018). Marvel Coleção Especial #10: O Visão I. Lisboa: Goody.
Confesso que ainda não consegui ler algo escrito por Tom King que me tenha deixado a pensar "wow, este é um argumentista de ideias brilhantes". O que não lhe retira o ser um dos melhores a escrever para as majors, atualmente. As histórias de King são discretas, sem o tom épico de Morrison ou Moore, ou o divertimento de Millar, pensando em três exemplos marcantes (e se detesto Mark Millar por achar que é preguiçoso, preferindo contar histórias fáceis e não explorar narrativas com o seu enorme talento, não deixo de lhe reconhecer as qualidades). Uma discrição que se mantém no tom tranquilo com que desenvolve as suas histórias. Mesmo um arco narrativo potencialmente épico com o casamento de Batman, que se desenrola nestes dias, é tratado com subtileza.
Onde King é excecional é na sua técnica narrativa, a forma como domina a gramática visual dos comics para contar histórias. Nota-se no rigor dos enquadramentos, na forma como os ilustradores que trabalham com ele seguem pontos de vista rigorosos e uma estruturação cinematográfica das vinhetas.
Com esta edição de Visão, a Goody traz aos leitores portugueses uma das mais divertidas, subtilmente subversivas, sagas da Marvel. Onde o andróide tenta viver um simulacro de humanidade, com mulher, filhos e casa nos subúrbios, e falha miseravelmente. É um pouco super-heróis misturado com Desperate Housewives e um toque de Breaking Bad. As intenções da família são sempre boas, mas tudo corre sempre pelo pior, e a ilusão da humanidade leva o Visão a ser progressivamente desumano.
