terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Miracleman: A Idade do Ouro



Neil Gaiman, Mark Buckingham (2017). Miracleman: A Idade do Ouro. Lisboa: G.Floy.

Se Alan Moore reinventou um personagem clássico, algo patético, da primitiva BD britânica de super-heróis, fê-lo seguindo temas e uma estrutura que se viria a tornar um padrão na sua obra. Do desconhecimento de si ao arquétipo, projetando no super-herói a necessidade mítica de um deus moderno. Quer siga a super-ciência como em Miracleman, o ambientalismo místico em Swamp Thing ou a magia mítica de Promethea. Neil Gaiman soube construir sobre essa base definida pelo seu predecessor na série, mudando o ponto de vista ao leitor. Moore centrou-se no herói e suas lutas, que culminam na apocalíptica destruição de Londres, momento fundamental para se forjar uma nova era dourada onde o todo-poderoso herói usa os seus poderes para instaurar um reinado benevolente, ditando assim os destinos da humanidade. É para a humanidade que Gaiman olha, perguntando-se como seria viver nessa utopia onde seres mais poderosos do que os mitos religiosos determinam, com benevolência, o devir humano. Um ponto de vista ingénuo, é certo, nada garante que este tipo de seres se sintam inclinados à bondade. É uma curiosa continuação da inacabada história do clássico Miracleman, agora trazida ao público português pela G.Floy, após editar num volume único toda a série de Alan Moore. É um livro especialmente notável pela ilustração de vanguarda de Mark Buckingham.